domingo, 6 de novembro de 2016

Boa noite, gente!!!
Enfim volto a publicar algo por aqui. Abaixo, na íntegra, a carta enviada por e-mail ao Senhor Secretário de Educação do Estado, o senhor Walter Pinheiro. Socializo com vocês na expectativa de tornar o principal tema da missiva, um projeto coletivo, o CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO BASEADO NO ENSINO POR TEMAS. Quem conhece nosso NA TRILHA D'OS SERTÕES já sabe um pouco do procedimento, do modus operandi, pois ele é o germinal deste meu mais novo empreendimento: a construção de mais uma possibilidade de cursar o nível médio. Boa leitura e enviem comentários, inclusive contra a proposta.
Fátima, Bahia, 06 de novembro de 2016

Exmo. Sr. Secretário de Educação do Estado da Bahia

A educação pública, gratuita e de qualidade sempre esteve no meu horizonte profissional e intelectual. Nestes 24(vinte e quatro) anos de atividades atuando, inicialmente, no Ensino Fundamental maior, na disciplina EDUCAÇÃO FÍSICA – minha formação inicial -  em 2001 migrei de UE e de disciplina, agora na disciplina e suas correlatas de área, como REDAÇÃO, LITERATURA INFANTIL, entre outras, todas no Ensino Médio. Atualmente sou estudante de graduação em Letras Vernáculas também pela Universidade Federal de Sergipe, onde fiz meu Mestrado em Educação.
Nesta missiva quero discorrer, majoritariamente sobre o Currículo do Ensino Médio (e a duração dessa etapa), mas também “passar” pelo Curso Normal Médio, e pela particularidade que é a mudança do nome da UEE onde atuo como docente.
Durante a minha trajetória desenvolvi alguns, desenvolvo outros, projetos de trabalho e aquele que me faz me dirigir ao senhor secretário é aquele que diz respeito ao currículo no Ensino Médio, cujo núcleo gerador é o ENSINO POR TEMAS, o qual consiste em um reordenamento e redistribuição de conteúdos e de atividades para esse nível de ensino prenhe de ideias e de desejos, em face exatamente do público-alvo, os adolescentes, os jovens que são, por excelência, inquietos por conta da sua vontade de mudança e de um cotidiano menos fatigante.
Partindo dos princípios orientadores já existentes, a saber, os PARÂMETROS e as DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO, a LDB 9394/1996, e buscando as teses nas diversas disciplinas que compõem o quadro curricular do Ensino Médio, obedecendo ao quantitativo de horas anuais, o cotidiano semanal/mensal seria composto por minicursos temáticos, como por exemplo, nossa ideia já posta em prática a qual considero como germinal. Trata-se do curso NA TRILHA D’OS SERTÕES experimentado no colégio em que atuo e envolvendo as disciplinas LINGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA, REDAÇÃO E SOCIOLOGIA nos anos de 2013 2014, quando eu e o professor Fábio José de Araújo, com Sociologia, desenvolvemos atividades em conjunto, mas dando aulas nas disciplinas. Isto é essa experiências não traduzem exatamente o ENSINO POR TEMAS, porque a ideia é a de que toda a escola deixe a disciplina, de modo explícito e particular, e construa minicursos elaborados por um ou mais professores. Tenho outras sugestões de temas/minicursos para tentar ser mais claro na proposta, porém ele é um trabalho coletivo, envolvendo todos os docentes e, preferencialmente, com a participação de pais/mães e os próprios estudantes e, mais adiante, outras pessoas da comunidade.
Faço saber que o curso NA TRILHA D’OS SERTÕES, o germinal desta minha proposta, é uma atividade disciplinar que já realizei na escola e fora dela, são conhecidas por atividades realizadas pelos estudantes e publicadas na rede social FACEBOOK, com postagens que levam esse nome sendo de fácil localização, o qual tornou-se fruto de interesse do documentarista Elson Rosario (atualmente participando como avaliador de projetos da SECULT-BA). É também conhecido, com participação direta, do prof. Dr.  Aleilton Fonseca, docente da UEFS e membro da Academia de Letras da Bahia.
OPERACIONALIZAÇÃO DO CURSO – MATRÍCULA E ALGUMAS IDEIAS INICIAIS
Concretamente teríamos o seguinte: o grupo de profissionais da UEE se reúne no início de fevereiro para construir seus minicursos e a unidade escolar disponibiliza para todos, um conjunto de possibilidades para matrícula para que o horário semanal seja preenchido. Entretanto, caso algum minicurso apesente uma demanda maior acima do permitido por classe, a UEE faria um processo seletivo a fim de preencher o quantitativo de vagas.
Na possibilidade de algum estudante ficar com matrícula abaixo do quantitativo de horas, deverá ser matriculado em qualquer outro minicurso disponível e, para isso, a UEE exigirá do grupo docente um leque suficiente dessas atividades para evitar esta situação.
Como se trata de uma inovação que desestrutura o cotidiano da escola, sugiro que a oferta da UEE seja concomitante com o chamado ensino regular e para esta novidade, somente uma turma seja disponibilizada e a possibilidade do aluno migrar de uma para outra turma, seja a do ensino por temas para a regular, ou vice-versa.
Esta minha ideia já foi apresentada na Semana de Planejamento Pedagógico no ano de 2014, e no documento oficial denominado Intervenção Pedagógica, local de registro da situação da Unidade Escolar, e enviado por esta SEC-BA, mas não obtive retorno.
O segundo ponto de sugestão dessa minha “pauta” diz respeito à duração do Ensino Médio, passando para 05(cinco) anos, com matrícula facultativa a quem cumpriu o mínimo estabelecido por lei, sendo a oferta de disciplina e atividades a partir da disponibilidade da UEE. Podendo ainda ser dividida por semestres, para que o aluno tem um vínculo menos limitador das possibilidades de criação de outros vínculos, tendo em vista que este discente já possui o direito de ingressar em outros cursos, de níveis mais elevados, dentre eles, principalmente a Educação Superior. Desse modo, dividido por semestre o estudante não fica “parado” e ao ter outra oportunidade, não terá prejuízo em não concluir essa nova fase de estudos, contribuindo para a sua formação intelectual e curricular, levando consigo, ao menos um ou mais semestres de ampliação de estudos.
Ainda sobre a duração, entendo que o ensino noturno deva ser ampliado para quatro anos,  com redução de carga horária diária, ficando das 19:00 às 21:50, com somente 04(quatro) aulas diárias. Dessa forma o quantitativo exigido por lei não sofreria prejuízo.
O terceiro ponto diz respeito ao Curso Normal, que faz uma ausência enorme na nossa UEE (e em toda a região, pois conheço diversos colegas de trabalhos, os quais relatam essa carência, tanto por parte deles, quanto pela dos alunos). Faço saber ao senhor que durante o ano de 2010 participei como voluntário de uma equipe de professores da rede ao integrar o balanço do curso normal médio na Bahia, promovido por esta SEC; na oportunidade, liderados pela profa. Alba Guedes, UNEB-SSA, estudamos os currículos do Normal Médio, em vigor até aquele ano e enviamos uma minuta de critérios mínimos a serem cumpridos pelas UEE que pretendessem ofertar o curso a partir de 2011. Realizamos cerca de 05(cinco) encontros em Salvador, sempre voluntariamente, e ficamos responsáveis por visitar as escolas interessadas nas regiões onde somos lotados e interessadas na implantação do curso.
Ainda visitei 04(quatro) escolas nos municípios de Cícero Dantas, Jeremoabo, Pedro Alexandre e Santa Brígida, ficando sem visita os municípios de Paulo Afonso, Nova Soure e outros.
Ao final das viagens fizemos um novo encontro e em seguida, com os mesmos atores para apresentação da primeira, fizemos uma plenária ampliada sempre em Salvador, do novo currículo para o CURSO NORMAL MÉDIO, cujos itens mais importantes eram: 1º) para a atração dos futuros/aspirantes à docência, um intercâmbio com a UNEB para a matrícula imediata em uma licenciatura dos/das que pretendiam continuar na busca da docência (neste país carente desse tipo de profissional) e o 2º) o currículo centrado em áreas, inclusive as disciplinas profissionalizantes.
Entretanto, sendo final de ano letivo, com mudança de Secretário, de modo autoritário e DESRESPEITADOR, o novo titular suspendeu as matrículas, relegando ao esquecimento, MAS NUNCA ESQUECIDO POR AQUELES E AQUELAS QUE PRETENDIAM CURSAR O NORMAL MÉDIO.
Por fim, o quarto ponto, diz respeito ao nome da unidade escolar onde atuo desde 2001, ano de sua inauguração, o COLÉGIO ESTADUAL LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, para ANA MIRENA DA SILVA, professora do nosso município, negra, arrimo de família pobre e alfabetizadora por cerca 03(três) décadas. Perseguida politicamente no período de nossa emancipação política, quando éramos distrito de Cícero Dantas, fez um trabalho silencioso, mas consistente. Outras motivações para a alteração do nome, vão desde a conhecida do senhor, que é a disseminação dos nomes dos familiares do sr. Antonio Carlos Peixoto Magalhães, cuja intenção o senhor sabe muito mais do que eu. E por fim, a própria localização da nossa UEE, sito à Rua Maria Preta, cujo nome é a referência a um tanque construído por escravos que está localizado no final da rua, onde antes era uma estrada vicinal que dá acesso a algumas localidades rurais, ao núcleo urbano do nosso município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espero poder ser atendido pelo Exmo. Sr. Secretário de Educação do Estado da Bahia para poder discorrer com mais propriedade sobre nosso CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO POR TEMAS, assim como sobre os outros pontos desta missiva. Segue, anexo, algumas produções científicas e apresentadas em eventos, uma na U. F. de Sergipe e a outra na UNEB-SSA, ambas com temáticas pertinentes às minhas inquietações profissionais e político-intelectuais conforme tento expor nesta comunicação.
Na expectativa de poder contribuir para uma educação pública, gratuita e de qualidade, despeço-me e aguardo a possibilidade de dividir diretamente com o senhor e equipe as minhas ideias.
Att.

Marcos José de Souza

domingo, 22 de maio de 2016

Burguesia baiana em veraneio, saúde publica, pescaria e outros experimentos itaparicanos – um breve estudo ensaístico sobre a obra O Sorriso do Lagarto, de João Ubaldo Ribeiro.
Ouço aquele vozeirão desgastado pelo uísque e pelo cigarro a todo instante, até mesmo quando não o leio, somente mesmo pela recordação de algum texto seu e, principalmente quando o vi/vejo em entrevistas. E de toda essa nossa amizade(?) o episódio que me chamou mais a atenção foi quando ele mudou-se para Berlim e o jornal A TARDE(verei a data em outro momento), publicou: João Ubaldo troca o calor de Itaparica, pelo frio de Berlim. Naquele dia aumentou ainda mais nossa amizade e dali em diante me aproximei ainda mais daquele bigodudo, pirracento, mas muito criativo, cujo primeiro contato real nosso deu-se em meados dos anos em uma adaptação para a televisão, desta obra que ora comento, realizada pela Rede Globo de Televisão (vejam que essa emissora não pode ser “castigada” pelo baixo moralismo de seu telejornalismo, as minisséries salvam a “pátria” dela – nem tudo está perdido).
Neste ano de 2015, ops, passado, fiz algumas novas leituras de um livro de crônicas e outro denominado “para ser lido na escola”, (não menciono os nomes exatamente para estimular a curiosidade dos meus amigos e amigas) os quais foram utilizados como leitura obrigatória para as turmas da primeira série do Ensino Médio, nível de ensino que atuo desde 2001. Isso mesmo, leitura obrigatória com exposição oral para os colegas, cujo expositor, com mais 4 ou 5 colegas ficam de frente para a classe e “contam” a história lida, seja ela conto, crônica ou reportagem.


Esse recomeço de amizade nos fez tirar da lista de prioridades o grande O SORRISO DO LAGARTO, é isso mesmo que vocês leram, RETIREI da lista e fiz a leitura, enfim, depois de ter comprado um exemplar há exatos 05(cinco) anos. Um livro dividido em  10(dez) capítulos, os quais apresentando divisões internas sem numeração, em “quadros” deste novelão. E ler “O Sorriso” nos aproximou ainda mais daquele pé de cana itaparicajuano- misto de quem é de Aracaju, onde nasceu, com Itaparica, onde viveu e fazia parte da paisagem da ilha, muito frequentada por turistas, inclusive esta condição ele cita em algumas crônicas e até mesmo entrevista.
Iniciar a leitura do livro O sorriso do lagarto, para quem viu minissérie televisiva, necessariamente é levado a se enredar na modorra praiana de Ubaldo. Sem querer querendo, como diria um filósofo mexicano bem conhecido dos brasileiros de todas as idades, o narrador vai nos cansando com o vento, o sol, a maresia e, por fim, já exaustos, com o balanço do mar.
Queremos introduzir o lagarto sorridente logo nas primeiras páginas, mas ele não aparece (ou somos nós que não o enxergamos? A releitura do primeiro capítulo não foi realizada, o que faço costumeiramente, fato que provocará alterações de juízo de valor da nossa parte sobre esse nosso próprio texto), mas voltemos ao ... enredo, pescaria, maresia, sol, mar, ilha de Itaparica...huuuummmmm, delicia!!!!!


Eis, em breves palavras, o recado “literário” d’O Sorriso: A Ilha de Itaparica, Baía de Todos os Santos, é o cenário predominante das ações em que um grupo de pescadores residentes na ilha e outro grupo de veranistas da burguesia baiana coexistem e cruzam seus caminhos. Em determinado momento, um ilhéu, pescador, mas com formação acadêmica em Biologia, é convidado por outro a fim de ouvir uma confissão a respeito de criaturas estranhas, feita por outro morador da ilha, muito famoso por suas práticas medicinais “populares”. A partir desse encontro os mistérios são ampliados e outros personagens são inseridos como protagonistas, um médico, um padre e um “político, médico e rico”. A notícia se espalha, mas a tese da existências de seres híbridos e rechaçada com escárnio pelos idealizadores da experiência e, para apimentar a trama, o pescador e biólogo e a esposa do político decidem tornar publico o relacionamento amoroso entre eles, o que é descoberto pelo cônjuge dela (o pescador é solteiro). O assassinato do amante a doença psíquica da esposa, permitiram que os veranistas continuassem seus passeios  e festas com a tranquilidade de sempre e o sorriso do lagarto, conhecido somente daqueles dois, o desaparecido e o padre, que fora mudado de paróquia.

E APÓS A SEGUNDA LEITURA...............
Eis que retomo a crônica(?) ubaldiana(para fazer coro ao discurso acadêmico acostumado a criar adjetivos para autores), dessa vez com a releitura do primeiro capítulo, no intuito de enxergar o que foi visto/lido na primeira leitura.
Neste momento destacarei alguns temas, os quais considero centrais para o enredamento de quem lê a narrativa: A EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA(adiante justificarei essa denominação em detrimento de experiência), JORNALISMO, BURGUESIA BAIANA, CONVERSAS COM O LEITOR e outros que poderão aparecer no desenvolvimento do presente trabalho. Para isso farei uso de trechos da narrativa, somente do capítulo e dos dois últimos, tendo em vista o tamanho do texto que pretendo elaborar, não ultrapassando o limite autoimposto de cinco páginas – que não será respeitado.
O inicio do romance faz um elo com o seu encerramento ao declarar para o leitor – com quem dialoga na abertura e provoca a reflexão, na conclusão:
Talvez isto não fique ainda por muito tempo, mas o exame consciencioso dos fatos que levaram aos acontecimentos principais deste relato mostra que a sua primeira cena se desenrolou em data já um pouco distante, sem que ninguém então pudesse saber o que pressagiava. (p. 9)
Esses trechos conferem um ritmo reflexivo que a crônica provoca, conforme destaquei pouco acima (Evidentemente que a menção a relato também pode conferir outro gênero textual, mas deixemos aos demais interessados na leitura atribuir outros e outras gêneros e formas).
Como a trama se desenvolve hegemonicamente na Ilha de Itaparica, o Rei Sol e o todo poderoso Oceano Atlântico, singularizado pela Baía de Todos os Santos foram-nos apresentados na primeira página. Desta feita, bem ao gosto do nosso querido Euclides da Cunha, o boêmio João Ubaldo não desperdiço do vernáculo português e, assim, nos enriqueceu com algumas pérolas para descrever a paisagem local. A soalheira dá o toque principal, seguida de – e que provoca -  fulgência metálica, contracosta da ilha, neblina translúcida, revérbero desnatural, sulcos niquelados, fender velozmente, mormaço vítreo.
Os indícios para o fenômeno sobrenatural(?) que nomeia o romance vão surgindo de modo sutil, bem ao gosto  do bom escritor, e no estilo tranquilo que um dos seus protagonistas possui – isso mesmo, entendo que nesta narrativa haja mais de um deles – vão percebendo, mas sem nos dar conta que estamos percebendo. O primeiro desses “sinais” dá-se quando dois meninos mostram para o nosso interlocutor, um calanguinho de dois rabos que ri depois que os três riram sobre um episódio da conversa deles mesmos.
Logo no parágrafo seguinte – mas após um salto no tempo narrativo ilustrado pelo período Agora, tanto tempo depois, a troco de nada, João Pedroso recorda esse dia esquisito, ...(p. 12) o indício do surreal, que anteriormente denominei de sobrenatural , reaparece. Dessa vez o animalzinho é visto por este protagonista: Apurou a vista, aprumou os óculos e não conseguia saber direito se o que via era alguma coisa distorcida ou imaginária, mas o calango de fato parecia envolvido numa atmosfera de riso. Algo sugeria que estava mesmo sorrindo. Não era, contudo, uma visão agradável, porque tinha um pouco, talvez muito de mofa no sorriso, quase hostilidade. (p. 13)
Deste momento em diante o leitor é conduzido por um enredo que, aparentemente se distancia do episódio, vindo somente a ser explícito somente na página 175, no episódio em que esse mesmo protagonista é convidado por um líder religioso local a fim de ter consigo dividida a tarefa de proteger as pessoas envolvidas nas experiências cientificas, anunciadas de modo sutil nas páginas iniciais e indicadas no parágrafo anterior.
Nos chama a atenção para um breve destaque é o papel da imprensa em dois momentos: no primeiro, o médico responsável pelas experimentações científicas convida João Pedroso para uma coletiva – este é biólogo, mas leva a vida como pescador e peixeiro, mas não o deixam falar. As atenções são voltadas somente para o diretor do Hospital, do médico Lucio Nemésio. Num segundo momento, após o biólogo e o padre tomarem conhecimento das experimentações, e os dois fazem a denuncia, mas suas versões são distorcidas pelas “autoridades”, tornando-as informações ridículas e irreais, fato que os isola da sociedade local, pois para a população, tanto o biólogo, quanto o padre estão delirando. Em outras palavras, o que se torna notícia e o modo como são veiculadas,  passa-se pelo crivo dos donos dos meios de  comunicação.
Enfim, posto já ter me alongado neste anunciado breve ensaio, destaco a acidez do próprio autor, na fala do narrador. Em vários momentos tem-se a nítida impressão de que estamos ouvindo o vozeirão rouco do autor ao fazer referência ao ...um sergipaninho que estuda como um celerado... e ...o sergipaninho aposta a peixeira dele como é... (esta referencia acontece no diálogo do médico com o biólogo logo no capítulo, na p. 38);  ao citar o modo como outro médico, o dr. Ângelo Marcos tornou-se político de esquerda, mas vive das benesses da direita ao se tornar político de prestígio e de ter enriquecido às custas do erário; até mesmo o PT é citado quando este mesmo médico, fica na dúvida de qual roupa vestir, como vemos na p. 19, Muito bem, a hora de escolher a roupa. Um terno leve, por causa do calor da ilha. Mas terno e gravata, nada dessa cafejestada populista, que está na moda agora, coisa de baixa extração tipo PT.
Ler O Sorriso do Lagarto proporcionou ainda mais a minha ligação com João Ubaldo Ribeiro, com quem mantinha aproximação desde a infância quando via suas entrevistas. Ser escritor, irônico, morador da ilha de Itaparica eram os ingredientes principais dessa relação. Os próximos a serem lido e relidos são, na ordem, Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro. O primeiro será lido mais uma vez, pois já o utilizei como leitura obrigatória há cerca de 05(cinco) anos para as turmas de terceira série do CELEM, escola onde trabalho desde 2001 e por 03(três) anos consecutivos. O segundo, enfim, do mesmo modo que Dom Quixote, será lido na totalidade, uma vez que nas diversas tentativas com ambos, nunca passei da primeira página. Mas, do mesmo modo que atravessei o Grande sertão:veredas, do enorme João Guimarães Rosa, atravessa-lo-eis.
Inté!!!!! Sem revisão.



O trabalho aqui foi elaborado sem qualquer leitura anterior sobre o romance O Sorriso do Lagarto – o que farei em momento posterior  - é uma publicação Record/Altaya, da coleção Mestres da Literatura Contemporânea, cujos direitos estão reservados a editora Nova Fronteira, e o ano é o de 1989.


                              Manhã de domingo, com o sol de verão em pleno outono, aos vinte e dois dias de mais um mês de maio.

domingo, 15 de maio de 2016

EM TEMPOS DE AMADURECIMENTOS DE COMPORTAMENTOS DEMOCRÁTICOS


Hesitei em escrever algo depois do episódio vergonhoso da madrugada da ultima quinta-feira, o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, mesmo vergonhoso, torno a escrever, o episódio, espero que as pessoas, contra ou a favor do impedimento, reflitam sobre ele e sobre o modo como agem as instituições: A JUSTIÇA, O PARLAMENTO, e principalmente, OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. Tentando analisar um de cada vez e como eles se imbricam em seus propósitos, passo aos meus comentários analíticos. Detalhe importante: escrevo esse texto ao som dos Novos Baianos (Baby, canta A menina dança), na reabertura da Concha Acústica do Majestoso Teatro Castro Alves, da minha, da sua, da nossa cidade da Bahia, a   cidade de São Salvador, pelo sinal da TVE – BAHIA, via TV BRASIL.

Os meios de comunicação, em particular as redes de televisão, onde a maior parte da população adquire a informação, muito particularmente. Lembrem que em 2013 a Rede Globo, concentro-me nela, somente, convidava a todos irem para as ruas; lembrem-se que o inicio foi o movimento passe livre, capitaneado por estudantes paulistanos e espalhado pelo país, dessa maneira, já sem a ideia inicial. Veio 2014 e com ele as eleições e a Presidenta reeleita, novamente tendo como seu vice, o sr. Michel Temer. A Polícia Federal, livre e solta, agindo dentro dos limites constitucionais, com a Operação Lava-jato, sob a batuta do sr. Sergio Moro. Cuja ação buscava desvendar o desvio de milhões de dólares da Petrobrás.

Eis que 2015 e 2016 vieram e, com eles, a intensificação das manifestações, dessa vez pedindo o impedimento da Presidenta recentemente eleita e reempossada e das ações da P. Federal intimando, prendendo na Lava-Jato. Lembremos que a presidenta não interferiu não atuação da PF. Denuncias sobre diversos políticos e empresários aconteciam.

As passeatas eram convocadas pelos telejornais da Rede Globo com seus jornalistas atuando ao vivo. Por sua vez os defensores do mandato da Presidenta começaram a ter tratamento semelhante, mas não eram denominados de POVO, mas ALIADOS DE DILMA E LULA, em uma clara alusão de interesses pessoais por quem defendia e considerados defensores do Brasil, quem estava a favor do impedimento.

O Parlamento, nosso terceiro elemento, com ampla base favorável ao governo, tanto no Senado, quanto na Câmara, desde o primeiro mandato começa a revelar outra faceta. A Câmara sob a liderança do dep. Eduardo Cunha, que no auge da chamada Operação Lava-jato é citado em crime financeiro, o que foi comprovado, mas que sequer teve seu posto de presidente da Câmara abalado. A sua deposição, pela Justiça, deu-se somente após a Câmara ter aprovado o impedimento da Presidenta. O Senado, com maioria governista ainda maior que na outra casa legislativa, também começa a mostras sinais de insatisfação. O resto da história, todos sabemos. Acompanhem a atuação do "novo" governo do sr. Michel Temer.

Mas o que a maioria não percebe é exatamente o que tento identificar desde o inicio do texto: a maneira pela qual os meios de comunicação dão tratamento aos fatos, isto é, o critério utilizado para este ou aquele acontecimento. Por que um assunto ganha tanto destaque nesta ou naquela emissora. Enfim, por que um episódio vira notícia e antes virar notícia, POR QUE ELE ACONTECE?

Concluo o texto ao som de Moraes Moreira, um dos Novos Baianos.


PS.O autor não é mais filiado ao PT desde o ano de 2009, mas defende a Democracia e o respeito às leis.

domingo, 17 de abril de 2016

Sem olhos em Gaza, uma viagem para dentro de si no meio do tempo, de Aldous Huxley.

Um diário atípico é o que acabei de ler indagorinha, debaixo do coqueiro do quintal dicasa, com a parceira varrendo o que a natureza rejuvenesceu: as folhas da tangerineira, da caramboleira (existe esse nome para pé de carambola?) e outras relíquias cotidianas naturais !!! Uma leitura sem pressa, na boa, sem a preocupação pedagógica. Leitura prazerosa, degustada a cada data indicada. Viajando em cada canto da Europa – era ela o ambiente, isso mesmo, pois Paris, Londres, Genebra, o Mediterrâneo, os alpes, os rios e os canais e outros recantos do velho denominado velho continente são constantemente citados na narrativa protagonizada por Anthony, este é o nome dele.
A princípio o que nos chama a atenção é o fato de que todos os capítulos são identificados por numeração cardinal e, ao mesmo tempo, datados, conforme os diarios mais comuns. O diferencial é exatamente que esse diario não acompanha, na narrativa a sucessão consecutiva dos capítulos, elas, as datas, vão e vêm ao sabor do narrador (ou narradores?, afinal localizamos “ele” e “eu” narrando algures e alhures. Por exemplo, o capítulo 1, de 30 de agosto de   1933 é seguido pelo capítulo 2 de 4 de abril de 1934, o seguinte, de 30 de agosto de 1933, o cap. 4 já “desce” para 6 de novembro de 1902, depois “sobe” para 8 de dezembro de 1926 e assim sucessivamente. Desse modo, meus amigos e minhas amigas, temos uma ideia do quanto instigante e desafiadora é a leitura de Sem olhos em gaza, publicado em 1936, no árduos tempo de ascensão do nazi-fazismo.
Essa é outra faceta do livro escrito pelo mesmo autor de Admirável mundo novo, sucesso mundial, mas que o autor dessas mal traçadas linhas não tecerá comentários,  deixá-lo-eis para vocês conhecerem de perto essa outra pérola da literatura internacional. Mas voltando ao que chamei de mais uma face do livro, o nazismo, Hitler e outros quetais, sem ser panfletário, o autor aborda esse mal que a humanidade infelizmente conheceu. Mas o faz a partir do olhar burguês de seus personagens, é a esta classe econômica que eles pertencem. As reflexões transcendem o etno-centrismo(mesmo que ele surja em alguns momentos da história ali narrada), quando Anthony e seus parceiros de jornada refletem aquela “praga” social  a  luz da filosofia, da sociologia e da própria literatura.
E o que nos “revela” Sem olhos em Gaza? A introspecção de um personagem-escritor perdido em roteiros ainda por serem descobertos pela burguesia turística; viajantes em busca de si mesmos, portanto sempre prontos, ativos, em busca do inalcançável. Permitam-me citar dois trechos. O primeiro e o último da narrativa:
Os retratos já se iam cobrindo dessa turvação que costuma empanar nossas lembranças. P. 5
O relógio bateu sete horas. Lento cauteloso ele [Anthony] permitiu-se deixar a luz penetrar de novo, através da treva, nos intermitentes, indecisos fulgores, e sombras da existência cotidiana. Levantou-se enfim e foi a cozinha preparar algum alimento. P. 425
A minha aposta para que no título a Gaza seja o destaque, deve-se ao fato de que Israel não existisse como Nação e a burguesia europeia visse a praga social,  mesmo que aromatizada de teorias conforme cito no parágrafo anterior, de um dos roteiros turísticos existenciais mais visitados por ela.
Esse texto foi construído sem o tradicional ir e vir ao texto-fonte, portanto trata-se de uma visão única do livro, é a primeiríssima impressão que tive da narrativa, cujo lugar que aparece no título, na própria história, não surge em momento algum. Sem correção do autor. Por conta e risco hehehehehe. Mistérios de A. H. Se alguém dignar-se a ler essas mal traçadas linhas, peço que comente-as pelo blog. Um abraço e o exemplar está disponível aqui em casa. Com dois vê kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.




domingo, 10 de abril de 2016

Mario Gusmão, o anjo negro da Bahia é a grande estrela de Glauber em Dragão da maldade contra o santo guerreiro
Da cozinha ouve-se a fina flor da musica importada do States United of the America; da rua vem a melodia gostosa , manhosa, caliente do arrocha com a voz macia do grande Silvano Sales e da sala, a mais genuína musica brasileira, a dita folclórica, presente nas várias cenas de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Eis o caldeirão cultural brasileiro, o qual, da nossa parte, convive em perfeita harmonia.
Mas nosso intento aqui é conversar com vocês sobre algumas cenas do filme e destacando na película o grande Mario Gusmão, o Oxóssi/São Jorge na narrativa fílmica, o homenageado no 6º FECIBA, o Festival de Cinema Baiano - vejam página no Facebook. O filme do Glauber está disponível no canal You Tube.
O filme narra as trajetórias que se cruzam: Coirano, o cangaceiro que vinga a morte de Lampião e Antonio das Mortes, matador de aluguel, presente no filme anterior, o Deus e do Diabo na Terra do Sol, também de G. Rocha. Mesclando a musica do povo, dita folclórica, com a clássica; o Catolicismo e o Candomblé e o que está nas entranhas de todas essas faces: a luta de classes. De um lado os coroneis e , do outro, o povo. Sem comida, sem moradia, sem trabalho, aos desmandos das vontades de poucos. Eis o que nos oferece o Glauber.
 O senhor é um homem formado, mas a minha ignorância tem vergonha, é uma das grandes frases que marcam o filme, dita por Antonio das Mortes ao delegado, ao recusar a proposta deste para assassinar o coronel e mandante do lugar, cuja esposa era amante do delegado, para o que receberia uma fazendinha como recompensa.
A cena da tentativa de assassinato do coronel enquanto ao fundo estavam as imagens de Cristo e da Virgem Maria é outro momento antológico do filme, mostrando a ironia ferina do discurso glauberiano. Detalhe importante: o coronel era cego.
A cena do remorso coletivo: o professor, a mulher do coronel, o padre e o delegado morto. Mostra como os três apaniguados e asseclas do rei, neste caso, o coronel, foram acometidos. Este momento acontece após a tentativa de assassinato do coronel ter sido frustrada. Para esse momento lembrei do texto de um jovem francês, Ettiene de La Boetie, que viveu no século XVI, Discurso sobre a servidão voluntária. O qual também serve para outra cena na qual o coronel, já se sentindo vingado do adultério, é carregado nos braços pelo povo e ao lado da mulher.
Outro grande remorso é o de Antonio das Mortes após um diálogo com a Santa: no momento em que ele carrega o professor pelas ruas da cidade, aparece uma placa de Mogi das Cruzes, SP e as palavras da Santa martelando em sua mente porque ele matou o cangaceiro e que esta morte representará a morte do povo do lugar, cuja previsão é concretizada: Ai arrebenta a guerra sem fim, repetida três vezes e, em seguida, ao som de levanta sacode a poeira e dá a volta por cima, sucesso popular na época do filme (outras músicas esclarecedoras da narrativa dão um toque especial ao filme). Na cidade, vários nomes de estabelecimentos comerciais indicam a confusão mental que Antonio das Mortes vem sofrendo.
O cangaceiro surge ao modo de Cristo na cruz e o professor retirando as armas dele sugerindo que tomaria uma atitude diante dos fatos. E ao fundo um violeiro tipicamente catingueiro canta modas com enfoque político social. O que pode sugerir este conjunto de cenas de personagens?
A cena final deve ir para um museu, pois é antológica: montado em um cavalo branco eis que surgem a Santa e no comando, o grande Oxóssi/São Jorge, e encarnando-o, Mario Gusmão, acabam com a batalha ferindo mortalmente com sua lança o sanguinário coronel. E, ironicamente, no chão, puxando a rédea, o padre, numa clara alusão da subserviência da Igreja Católica aos verdadeiros valores religiosos do povo do sertão dos Estados do Nordeste brasileiro, o Sincretismo da união ou culto simultâneo do Candomblé com aquela instituição religiosa, bem ao gosto do que Euclides da Cunha afirmara em Os Sertões, o sertanejo é uma rocha, isto é, mineral fruto da junção de outros minerais, o povo do sertão, gente branca, negra e índigena.
Mario Gusmão emprestando ao filme sua envergadura dramática e, como Oxóssi, “benzendo” o ex-cangaceiro volteando-o por três vezes e depois se seguindo caminho. É a cena final.
O título do nosso texto traz o nome de um documentário sobre o grande Mário, de autoria de Elson Rosário, também presente no Festival.

VIVA MÁRIO GUSMÃO, VIVA O FECIBA!!!!!

domingo, 3 de abril de 2016

E o Brasil, o que será?, Marcos José de Souza

O acirramento das paixões, com elas, a falta da razão; as mudanças nas regras do jogo político-governamental em pleno andamento da partida e nesse meio a agonia do torcedor da seleção brasileira de futebol lucro(antes, arte) com a enxurrada de duplas ditas sertanejas e pinceladas de funkeiras rebolativas, e até mesmo as nenhum pouco afrodescendentes, mas representantes da dita Axé music. É a indústria, cultural, mas é indústria. Ou seria Industria Descultural?
Esse é quadro brasileiro que vem sendo pintado há mais de duas décadas. Sim a mudança nas regras da legislação eleitoral começou há duas décadas, mais precisamente no ano de 1994, quando o príncipe da Sociologia, o sr. Fernando H. Cardoso (quem deu esse título a ele foi o Glauber Rocha) estava na iminência de ser destronado do poder e, por isso criaram a reeleição para os cargos majoritários em pleno mandato, permitindo assim que ele fosse reeleito.
De lá pra cá, 1994, ano do tetra “Sai que é sua Taffareeeeeelllll”....É tetra É tetra É tetra É tetra” ainda soa em nossos ouvidos o grito de um famoso locutor de futebol de uma muito mais famosa, influente e condutora dos nossos destinos, empresa de comunicação. As duplas, não mais Sócrates e Zico, mas Zezé e Luciano e muitas mais por vir. Esse era o roteiro da vida real brasileira. E por falar em real, fomos agraciados com um plano econômico que levava esse nome, Plano Real, denominação da nova moeda (acho que já tivemos cinco na nossa recentíssima história como Nação -independente (?).
À frente dos destinos do país, o príncipe da Sociologia. Renomado intelectual do terceiro mundo, banido da Universidade por se colocar contra o golpe militar de 1964. Combateu a inflação e combateu a inflação e combateu a inflação. Ah, iniciou, timidamente, a politica de transferência de renda, mas combateu a inflação. Enquanto isso... A pirâmide social e econômica do Brasil não sofreu alteração. Mas ajudou, e muito, os banqueiros do nosso torrão tupinniquim.
Não criou uma Universidade sequer.
Enfim, chegamos ao governo do analfabeto, mas doutor honoris causa em algumas Universidades brasileiras e estrangeiras. Fugindo da seca que sempre assola o semiárido brasileiro, abandonado pelo pai, vai para São Paulo ganhar a vida ao lado da mãe e dos irmãos. Elege-se duas vezes Presidente da Republica. Já lhe faltava um dos dedos da mão (esquerda?).
Reelegeram a sucessora do analfabeto que teve sua vida transformada em filme. Mais uma vez as regras do jogo precisam ser mudadas: anule-se a eleição: TENHO DITO!!! Terceiro turno?
Mas volto ao princípio, do texto: Afinal, o Brasil, o que será? A gente é torto, igual Garrincha e Aleijadinho? Ninguém precisa consertar parafraseando Celso Viáfora, cuja interpretação que mais conheço é com outro, o Ney, do Matogrosso. Ouçam. Reflitam.
Entre outras possíveis leituras, o Brasil tem potencial e já provou, nos diversos momentos da sua história, e que conduzir os destinos da Nação, ter diploma universitário tem demonstrado não ser suficiente. Faltando um dedo. Sendo mulher. Respeitar as regras do jogo é primeiro caminho. Legalidade com justiça social, caminhando colados. Amor ao próximo e a próxima. Respeito, por fim.

Enquanto isso, sigamos em nossa agonia rumo ao Mundial de 2020. Troquem de anão!!!!!! Chamem a Branca de Neeeeeeeeveeeeee!!!!!!

quarta-feira, 23 de março de 2016

O texto abaixo concorreu ao Prêmio Paulo Freire promovido pela Universidade Estadual da Bahia, em novembro de 2015 no Encontro do livro e da leitura - ELLUNEB - na categoria Projeto de Leitura, conquistando o segundo lugar. A todos que dele participaram, os meus agradecimentos. 
NA TRILHA D’OS SERTÕES: PELOS CAMINHOS DA LEITURA, NAS ESTRADAS  DA VIDAMarcos José de Souza



Fátima, Bahia, 2009-2011
INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO

Três e meia da madrugada. O friozinho do sertão nos acomoda na cama e nos faz “esquecer” o calor que está por vir assim que ele, o Rei Sol, surgir no atrás da serra, pros lados de Paripiranga. É junho, mas o desejo é maior que qualquer possível obstáculo.
Acorda!!!! Levanta!!!!, professor!!!!, as crianças, já bastante crescidas, o aguardam com ansiedade e alegria. São 55(cinquenta e cinco)“meninos” e “meninas” trabalhadores e trabalhadoras, estudantes do 3º ano do Magistério, do querido Colégio Floriano, do turno noturno, que não hesitaram ao convite do professor Marcos, chamado já alimentado por algumas leituras no livro didático, filmes “estranhos” exibidos em sala de aula – nos áureos tempos do vídeo-cassete, audição de musicas em áudio e ao vivo promovidas pelas cantorias com os artistas da “terra”, dentre eles, majoritariamente, Vando Reis.
Lá  vai o professor naquela madrugada junina do ano dois mil, para a primeira viagem de turismo pedagógico, com ele mesmo denominara, para Monte Santo, com as demais já elencadas e pela ordem: Canudos, Paulo Afonso e Feira de Santana (esta ultima não foi realizada em face de o final do ano letivo ter nos alcançado e, com ele, a debandada geral dos estudantes). Usando seu chapéu de palha, sua bolsa a tira-colo e, juntando-se às demais, a velha e querida máquina fotográfica Kodak com filme de 36 poses, chega o professor ao local da partida: corre, vai chamar aqueles preguiçosos!!!! E cadê as bonitinhas, desistiram? Que nada, estão esperando no trevo. Quantas memórias saborosas,  quentes, apaixonantes, afetivas e carinhosas seriam registradas...Sim, foram todos e todas juntando-se aos demais, pois muitas e muitas já aguardavam o professor em frente à budega de seu Profiro.
Lá foram chegando os herdeiros de Branco de Profiro do Raso (o da budega, é de Herculano Reis, das Pedrinhas): Vilmário, Maria e Romário, este já levava Jivanilda, esposa. A mais animada, e mãe de cinco filhos, a Josefa Maria, a grande Iaiá, chega com o seu primogênito e colega de classe, Rondinele e os sobrinhos, também colegas, Tiago e Cristiane. A turba vai aumentando. As duplas de irmãs Rita/Joselita e Lilian(que casou com Robério)/Letícia, as primeiras, de dona Moça e as segundas, de João de Manum. Mais adiante também se casaram, mas logo se separaram, Divaldo, o Bolinha e Aline. Também integrou a comitiva, o dono som, que animou a viagem pagodeando daqui pra e de lá pra cá, o Clodoaldo, ou simplesmente, Clodo. A Bela, as Márcias, sendo que a Novais nos deixou para sempre. O Lázaro, o Fabio, a Gildecy, o Gidelmo, as Ana Paula, de Salvador, o pai e a Ruscioleli, de Antonio Menezes, a Adriana de Derniço, a Conceição e a Cácia. A Maria São Pedro, conhecida como Marli. As Sandras, a Josefa e a Bréa. A Eulane, na companhia do ex-aluno e já professor da turma, o grande José Adelmo, a secretária Elma e o diretor Edmilson com a esposa, Meire.
Em terras montesantenses fomos recebidos por um sol amigo e a medida que nos aproximávamos do Piquaraçá, o deslumbre aumentava, com uma brisa generosa, o que nos ajudou bastante em todo o trajeto. Com ela, veio a neblina, que provocou até frio em alguns momentos, mas sem anular a paisagem vista em todos os locais da subida – cada vez mais íngreme. Cada passo as lembranças e relacionamentos com as cenas vistas nos filmes, em destaque Deus e Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, aumentavam. O encantamento se dava tanto pela beleza do lugar, quanto pelas correlações feitas com o filme e os textos lidos, especialmente, os trechos de Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Ajudados por um guia e integrante da pastoral da juventude, graças ao apoio da aluna Joselita, já citada neste relato, subimos e descemos o monte piquaraçá, posteriormente, Monte Santo, após a passagem por aquelas terras, do frade capuchinho, o Apolônio, de Todi, Itália, que considerou a montanha semelhante ao calvário por onde andou o Cristo. Erguendo uma capela no alto da montanha ainda no século XVIII, e as que lá se encontram e organizando o percurso usado em peregrinações cujo ápice acontece no mês de outubro há mais de 200(duzentos) anos.
Na descida fomos presenteados com a visita ao museu do Sertão, na época dirigido pelo menino que segura o estandarte do líder religioso no filme citado acima, seu Dedega. Nesse museu há uma réplica do meteorito Bendengó, que pode ser visto originalmente no Museu de Nacional no Rio de Janeiro. Ainda vimos filmes sobre a romaria de Monte Santo e outros fenômenos sociais e culturais daquele universo brasileiro. Aproveitamos o ensejo para revisitarmos o filme Deus e o Diabo e, por extensão, o livro Os Sertões.
A segunda viagem ocorreu somente no mês de outubro, poucos dias antes das eleições municipais, o que provocou o desmonte para a terceira, para Paulo Afonso (a quarta também não aconteceu conforme informamos no inicio do texto).
Tendo em vista ser o assunto principal, o Movimento de Canudos e, extensivamente, Antonio Conselheiro, Euclides da Cunha e o livro Os Sertões, a turma de futuros professores e professoras foi aumentando a ansiedade e o desejo de pisar o chão por onde viveu e morreu uma porção considerável de brasileiros e de brasileiras. As páginas do livro não davam mais conta da curiosidade. As palavras do professor já não mais os satisfaziam. Desse modo, pé na estrada: Canudos nos aguarde.
Com a mesma contribuição da Pastoral da Juventude fizemos uma viagem ainda mais rica em face de que naquela cidade a presença dos atores do episódio é muito mais forte e marcante. Em terras canudenses os estudantes sentiram com mais força a presença do Conselheiro e do seu povo, por extensão, as palavras escritas, o texto euclidiano.
É a partir dessa primeira viagem a Canudos que começa a nascer o projeto de estudo Na Trilha d’Os Sertões. Já a partir do ano seguinte, 2001 iniciamos o trabalho mais consistente, sempre a partir da união das leituras do livro vingador, Os Sertões, de Euclides da Cunha e o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, incluindo-as como atividades obrigatórias de leitura, inclusive o filme e os demais que foram sendo incorporados ao longo dos anos. Destacamos a leitura do filme em face de que insisto com os estudantes que é necessário ler a película, direcionando, em alguns momentos, o olhar deles e delas para determinados detalhes da narrativa fílmica, insistindo na tese de que nada é por acaso, pois em qualquer instante há sempre o olhar, o ponto de vista de quem dirige o filme. Da mesma forma que o narrador de todo e qualquer romance, conto, etc. desse modo, vou sempre fazendo a relação entre as narrativas, em especial, a literária e a fílmica.
Assim, o projeto veio se configurando como lugar de leitura, politização, entretenimento e de inclusão social através da leitura, nas palavras do prof. Dr. Aleilton Fonseca, um dos nossos contribuidores  quando por aqui esteve no encerramento da segunda turma extraescolar do projeto, mais precisamente no pequeno povoado denominado Tabua, oficialmente, São José do Campo Alegre. Naquela oportunidade o professor nos apresentou algumas das suas produções, em especial, O Pendulo de Euclides, o qual foi tornado de leitura obrigatória no curso, tanto na sua versão escolar, quanto extraescolar.
Desse modo, ainda restrito ao universo escolar, viemos consolidando as leituras temáticas que envolviam a atmosfera do Movimento de canudos, literatura, filmografia e viagens aos palcos daquele fenômeno social até o ano de 2009 quando formamos a primeira das três turmas extraescolares do projeto de estudo Na Trilha d’Os Sertões.
Na rede social Facebook há algumas páginas com a expressão Na Trilha d’os Sertões no celem, feitas pelos estudantes, como atividades avaliativas quando oferecemos o curso em unidade letiva para as turmas de terceiro ano.
Em grande parte o surgimento do curso deve-se as nossas intervenções na Rádio Regional de Cícero Dantas – um dos palcos do Movimento de Canudos – instalada em um casarão que pertenceu ao Barão de Jeremoabo, também um dos atores políticos daquele embate, cujo nome da cidade é em sua homenagem. Ali, a radialista Ângela Santana, juntamente com Paula Andrea e Aline, funcionárias da emissora, nos incentivou para a criação do curso quando, no programa A Voz do Povo, abordávamos assuntos de natureza educacional, política e, na maioria das vezes, literária, com destaque para o livro Os Sertões.
A partir das intervenções radiofônicas e das contribuições das radialistas, organizamos o primeiro curso das três versões escolares que ocorreram e mais duas escolares, sendo a primeira no ano de 2009, a segunda, em 2010, a terceira em 2011, a quarta em 2013 e a quinta em 2014, respectivamente.
PUBLICO-ALVO
O curso é destinado a todos e a todas que se interessam por leitura, das mais variadas faixas etárias, mas o pré-requisito estabelecido é ter em mãos o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, de qualquer edição.
OBJETIVOS
A leitura como hábito e prática politica estão no lastro da nossa intenção, cujos desdobramentos possam ser vistos no cotidiano desses jovens, profissionais liberais e professores e professoras da Educação Básica da nossa região, qual seja, a mudança no comportamento político. Pois tendo como germinal de um  projeto de disseminação do hábito da leitura, um livro do valor histórico-social que Os Sertões adquiriu desde a sua publicação, é nada menos que revolucionária nossa atitude, entretanto fazendo parte de uma política macro, pois os microcosmos, dos quais nossa prática faz parte, não darão conta da superação das necessidades e dos obstáculos.
METODOLOGIA
O curso Na trilha d’Os Sertões acontece com atividades diversificadas sendo, majoritariamente marcadas por encontros para exposição do conteúdo do livro Os Sertões, seguida de exposição de filmes pertinentes ao tema, sempre ambas movidas com debates. Ainda realizamos viagens aos palcos do fenômeno, a guerra de Canudos: Monte Santo, Canudos e o que chamamos de “rota do Conselheiro” – as cidades Cícero Dantas, Ribeira do Pombal, Cipó, Nova Soure, Crisópolis e Itapicuru.
No primeiro dia de encontro do curso apresentamos o roteiro com a indicação das atividades indicadas acima, ficando as viagens e a exibição dos filmes, distribuídas a cada dia de discussão de uma parte do livro, que é desenvolvida da seguinte maneira – entretanto, o curta-metragem, Na Terra do Sol, de Lula Oliveira é exibido, tendo em vista tanto pelo caráter estético, quanto pelo literário, pois o diretor ressignifica a cena final dos combates em Canudos:
O cursista, já de posse do livro Os sertões, tem uma parte orientada pelo professor a qual deve ser lida em casa. No 2º encontro o professor leva um roteiro de leitura daquele trecho indicado e previamente lido pelo cursista. Dinâmica recorrente em quase todos eles, modificada somente para a exibição de algum longa-metragem ou viagem, exceto em dias de encontro para as viagens. Para esta atividade são orientadas algumas observações do próprio local visitado, proporcionando ao cursista o direcionamento do seu olhar frente a um mundo visto nas telas e no livro Os Sertões. Em todas ocasiões há sempre um convidado que versa sobre algum assunto pertinente proferindo uma palestra, momento em que são entregues os certificados de participação cuja frequência mínima é de 75 %. Outro diferencial é que o cursista faz algum trabalho para ser entregue ao final ou durante a realização do curso, ou apresenta um trabalho a título de encerramento das atividades.
As partes do livro são as seguintes:
1.      A Terra – a parte inteira
2.      O Homem – a parte inteira
3.      A Luta - PRELIMINARES
4.      A Luta - TRAVESSIA DO CAMBAIO
5.      A Luta – Quarta expedição primeira parte
6.      A Luta – Quarta expedição segunda parte
7.      A Luta – Nova fase da luta
8.      Últimos dias
Os roteiros de leitura são redigidos e confeccionados pelo professor, a nível de síntese, com inserções de citações do original e entregue uma cópia a cada cursista . Estas citações são escolhidas em face da carga estética que o autor empregou como, por exemplo, o item Higrometros singulares, cuja descrição de um soldado morto e o título dado revelam a capacidade criativa, poética, de Euclides da Cunha.
Assim vamos chamando a atenção do cursista para os detalhes da grande obra. Ali adiante chamamos a atenção para o uso recorrente do gerúndio em A procissão dos jiraus, em outro instante já fazemos uma leitura paralela entre as linguagens utilizadas no curso, a literária e fílmica, sempre ressaltando a diferença de abordagem entre uma e outra, isto é, destaco o olhar de cada um e o modo de construção peculiar, tanto do escritor, quanto do cineasta.
O curso NA TRILHA D’OS SERTÕES aconteceu em 05(cinco) edições:
1.      Município de Cícero Dantas-Ba – 20(vinte) pessoas das mais variadas atuações na sociedade, incluindo 03(três) radialistas e um contabilista; ano – 2009
2.      Município de Fátima, povoado Tabua-Ba – 40(quarenta) pessoas, cujo predomínio era de jovens e ex-alunos do professor coordenador do curso; ano - 2010
3.      Município de Cícero Dantas-Ba - 10(dez) pessoas, todas professoras da Rede Municipal. Ano - 2011
4.      Município de São Cristóvão-Se, U. F. de Sergipe - 40(quarenta) pessoas, estudantes da instituição e da comunidade do entorno dela. Ano – 2015 (projeto em elaboração para ser apresentado)
Nos anos de 2013 e 2014 o curso foi ofertado no Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães, Fátima-Ba, como Estudo temático nas disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Redação, durante a III Unidade letiva de cada ano indicado acima. O diferencial em termos de leitura da versão escolar para a extraescolar, é que na segunda lemos na totalidade os livros OS SERTÕES, de E. da Cunha e O PENDULO DE EUCLIDES, de Aleilton Fonseca. Esta exclusividade deve-se ao fato de que na escola os estudantes se deparam com um numero muito maior de atividades, devido à quantidade de matérias escolares.
RESULTADOS OBTIDOS
Para este momento do nosso relato quero destacar a participação dos cursistas e de profissionais da área artística que viram de perto o nosso trabalho, exibindo suas observações pós curso, entendendo, desse modo que os resultados são, exatamente, a capacidade/potencialidade que o curso desenvolveu nos participantes no que tange ao olhar renovado frente ao texto literário. Na instigação para ir além do visto, mas não percebido nas linhas e, principalmente nas entrelinhas. Em outras palavras, ressignifica o ato de ler: seja esse ato estético ou político que o texto carrega e nos é apresentado.
Fruto do nosso primeiro curso, valemo-nos das palavras da cursista, Aline Santos que conseguiu traduzir o “resultado” em poesia: “A Literatura escancara os escândalos sociais, mergulhada na sutileza, sendo empreendida no patamar local e global, já que ela enquanto linguagem movimenta a atmosfera terrestre, fazendo do imenso cosmo, uma minúscula partícula universal, encontradas em cada ser humano com olhar caleidoscópico.          
Falar acerca da literatura de Os Sertões é tatear com a língua o que a literatura só permite sentir. Uma vez emersa no fazer literário desta obra é possível vislumbrar sensações: a pele muda de cor, pois impossível não sentir a aspereza do “soli” nordestino. Os cabelos tornam-se ásperos, uma vez que a poeira marcada pela seca não permite a leveza. A fala entrelaça-se com a língua e com o marejar dos olhos. Assim, escreve no solo gentil o nome de um desconhecido.
Tudo muda: corpo, alma e mente. Real e surreal, mas em que acreditar? Para aqueles que acreditam em imagens Os Sertões cria as mais nítidas figuras, homens e mulheres destorcidos pela fé, cujo nome é substituído por uma crença, uma fuga da realidade. Assim, todos se tornam guerreiros, anônimos guerreiros conselheiros.
Embevecidos, uma voz ecoa, para mais uma vez ratificar através da escrita de Euclides “O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE”    
Tais percepções foram possíveis através de uma leitura detalhada de Os Sertões, mediante uma metodologia eficaz do professor coordenador Marcos, em a TRILHA DOS SERTÕES. Que trouxe para nós a experiência de conhecer uma obra de suma importância da literatura brasileira, quiçá um marco histórico na vida do sertanejo.”

Já tendo feito referencia acima do professor Aleilton Fonseca, reitero a sua aproximação com o nosso trabalho quando aqui esteve no encerramento da segunda edição do curso, no povoado Tabua, zona rural do município de Fátima-Bahia. Docente da Universidade Estadual de Feira de Santana e membro da Academia de Letras da Bahia, afirmou que o nosso trabalho, antes de ser uma atividade de literatura, é uma ação de inclusão social, em face dos sonhos e das perspectivas que o curso gera nas mentes dos jovens que ali passaram durante os 03(três) meses de duração das atividades. O depoimento do prof. pode ser conferido em álbum do nosso perfil na rede social Facebook.
O depoimento seguinte é do poeta, hoje estudante universitário, Diego Oliver:
“... participei do grupo de leitura organizado pelo professor Marcos José espaço Na Trilha D’Os Sertões que teve como principal norteador o livro Os Sertões de Euclides da Cunha. Os encontros eram realizados numa comunidade da cidade de Fatima na Bahia. O combinado era que lêssemos os capítulos a serem discutidos previamente para discutirmos em grupo. De maneira calma e descontraída os encontros me deixavam cada vez mais interessado em continuar as leituras que me encantava cada vez mais a cada página, logo me vi buscando outras fontes de leitura que pudessem me dar suporte nas discussões.
Juntamente com as leituras e discussões acerca do livro trazíamos para os encontros assuntos referentes à nossa cultura sertaneja que afinal era retratada no livro em questão e também questões referentes à educação no Brasil e a prática leitora. Participar desse projeto mudou de forma significativa minha forma de olhar o mundo e a valorizar minhas raízes culturais e adquirir uma prática mais assídua e consciente de leitura, o contato com o livro Os Sertões e a experiência de ouvir e ler relatos sobra a Guerra de Canudos e as diferentes opiniões sobre o tema me fizeram olhar de forma analítica os fatos que ocorreram na nossa história, e reconhecer o importante papel da educação como veículo de aquisição de cultura.”
Em outra edição esteve conosco, em trabalho de pesquisa, o cineasta e documentarista Elson Rosário, cujas palavras e imagens tivemos como registrar. Eis o que ele nos diz e em fotos, a atuação dele registrando nossa atividade:
Depoimento do cineasta Elson Rosário
Ao tomar conhecimento do projeto “Na Trilha d’Os Sertões” constatei o quanto seria importante e necessário a realização do seu registro audiovisual no formato documental possibilitando ampliar o alcance de um trabalho de tal envergadura realizado em escola pública no semiárido baiano ambiente carente de recursos financeiros e tecnológicos.
Na pesquisa exploratória visando a estruturação do nosso documentário fui impactado pelo desempenho e postura do professor em capacitar os participantes por meio de uma visão crítica, política e emancipatória que estimula a criação e organização de novas histórias e relatos inspirados pela leitura da obra literária “Os Sertões” de Euclides da Cunha. A iniciativa do professor Marcos José de Souza consolida-se como pioneira naquele ambiente, a qual busca o esclarecimento do povo, tendo o adolescente/jovem como protagonista, de um fenômeno histórico ainda muito pouco conhecido da sociedade brasileira.
Acredito que, no contexto da aplicação prática de uma política cultural da leitura, o esforço pedagógico desenvolvido pelo professor Marcos José de Souza é importante e necessário para a comunidade ao permitir que estudantes, adolescentes e jovens entrem em contato direto com um fenômeno histórico-político-social de relevância para a afirmação da identidade do povo brasileiro.
Elson Rosário, cineasta.
Referencias
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo:Nova Cultural. 2003.
FONSECA, Aleilton. O pendulo de Euclides. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil. 2009.
OLAVO, Antonio. Paixão e guerra no sertão de Canudos.
OLIVEIRA, L. Na Terra do Sol. Curta-metragem.
PRONZATO, C. Canudos – numa longa curva. Curta-metragem.
PRONZATO, C.A Bahia de Euclides da Cunha.Média-metragem.
PRONZATO, C.Calazans – o tradutor dos sertões.Média-metragem.
REZENDE, Sergio. Canudos. 1997
ROCHA, G. Deus e Diabo na Terra do Sol.1964
SAMPAIO, C. N.(org.) Canudos - Cartas para o Barão. São Paulo:Edusp; São Paulo:IOESP. 1999.