quarta-feira, 23 de março de 2016

O texto abaixo concorreu ao Prêmio Paulo Freire promovido pela Universidade Estadual da Bahia, em novembro de 2015 no Encontro do livro e da leitura - ELLUNEB - na categoria Projeto de Leitura, conquistando o segundo lugar. A todos que dele participaram, os meus agradecimentos. 
NA TRILHA D’OS SERTÕES: PELOS CAMINHOS DA LEITURA, NAS ESTRADAS  DA VIDAMarcos José de Souza



Fátima, Bahia, 2009-2011
INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO

Três e meia da madrugada. O friozinho do sertão nos acomoda na cama e nos faz “esquecer” o calor que está por vir assim que ele, o Rei Sol, surgir no atrás da serra, pros lados de Paripiranga. É junho, mas o desejo é maior que qualquer possível obstáculo.
Acorda!!!! Levanta!!!!, professor!!!!, as crianças, já bastante crescidas, o aguardam com ansiedade e alegria. São 55(cinquenta e cinco)“meninos” e “meninas” trabalhadores e trabalhadoras, estudantes do 3º ano do Magistério, do querido Colégio Floriano, do turno noturno, que não hesitaram ao convite do professor Marcos, chamado já alimentado por algumas leituras no livro didático, filmes “estranhos” exibidos em sala de aula – nos áureos tempos do vídeo-cassete, audição de musicas em áudio e ao vivo promovidas pelas cantorias com os artistas da “terra”, dentre eles, majoritariamente, Vando Reis.
Lá  vai o professor naquela madrugada junina do ano dois mil, para a primeira viagem de turismo pedagógico, com ele mesmo denominara, para Monte Santo, com as demais já elencadas e pela ordem: Canudos, Paulo Afonso e Feira de Santana (esta ultima não foi realizada em face de o final do ano letivo ter nos alcançado e, com ele, a debandada geral dos estudantes). Usando seu chapéu de palha, sua bolsa a tira-colo e, juntando-se às demais, a velha e querida máquina fotográfica Kodak com filme de 36 poses, chega o professor ao local da partida: corre, vai chamar aqueles preguiçosos!!!! E cadê as bonitinhas, desistiram? Que nada, estão esperando no trevo. Quantas memórias saborosas,  quentes, apaixonantes, afetivas e carinhosas seriam registradas...Sim, foram todos e todas juntando-se aos demais, pois muitas e muitas já aguardavam o professor em frente à budega de seu Profiro.
Lá foram chegando os herdeiros de Branco de Profiro do Raso (o da budega, é de Herculano Reis, das Pedrinhas): Vilmário, Maria e Romário, este já levava Jivanilda, esposa. A mais animada, e mãe de cinco filhos, a Josefa Maria, a grande Iaiá, chega com o seu primogênito e colega de classe, Rondinele e os sobrinhos, também colegas, Tiago e Cristiane. A turba vai aumentando. As duplas de irmãs Rita/Joselita e Lilian(que casou com Robério)/Letícia, as primeiras, de dona Moça e as segundas, de João de Manum. Mais adiante também se casaram, mas logo se separaram, Divaldo, o Bolinha e Aline. Também integrou a comitiva, o dono som, que animou a viagem pagodeando daqui pra e de lá pra cá, o Clodoaldo, ou simplesmente, Clodo. A Bela, as Márcias, sendo que a Novais nos deixou para sempre. O Lázaro, o Fabio, a Gildecy, o Gidelmo, as Ana Paula, de Salvador, o pai e a Ruscioleli, de Antonio Menezes, a Adriana de Derniço, a Conceição e a Cácia. A Maria São Pedro, conhecida como Marli. As Sandras, a Josefa e a Bréa. A Eulane, na companhia do ex-aluno e já professor da turma, o grande José Adelmo, a secretária Elma e o diretor Edmilson com a esposa, Meire.
Em terras montesantenses fomos recebidos por um sol amigo e a medida que nos aproximávamos do Piquaraçá, o deslumbre aumentava, com uma brisa generosa, o que nos ajudou bastante em todo o trajeto. Com ela, veio a neblina, que provocou até frio em alguns momentos, mas sem anular a paisagem vista em todos os locais da subida – cada vez mais íngreme. Cada passo as lembranças e relacionamentos com as cenas vistas nos filmes, em destaque Deus e Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, aumentavam. O encantamento se dava tanto pela beleza do lugar, quanto pelas correlações feitas com o filme e os textos lidos, especialmente, os trechos de Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Ajudados por um guia e integrante da pastoral da juventude, graças ao apoio da aluna Joselita, já citada neste relato, subimos e descemos o monte piquaraçá, posteriormente, Monte Santo, após a passagem por aquelas terras, do frade capuchinho, o Apolônio, de Todi, Itália, que considerou a montanha semelhante ao calvário por onde andou o Cristo. Erguendo uma capela no alto da montanha ainda no século XVIII, e as que lá se encontram e organizando o percurso usado em peregrinações cujo ápice acontece no mês de outubro há mais de 200(duzentos) anos.
Na descida fomos presenteados com a visita ao museu do Sertão, na época dirigido pelo menino que segura o estandarte do líder religioso no filme citado acima, seu Dedega. Nesse museu há uma réplica do meteorito Bendengó, que pode ser visto originalmente no Museu de Nacional no Rio de Janeiro. Ainda vimos filmes sobre a romaria de Monte Santo e outros fenômenos sociais e culturais daquele universo brasileiro. Aproveitamos o ensejo para revisitarmos o filme Deus e o Diabo e, por extensão, o livro Os Sertões.
A segunda viagem ocorreu somente no mês de outubro, poucos dias antes das eleições municipais, o que provocou o desmonte para a terceira, para Paulo Afonso (a quarta também não aconteceu conforme informamos no inicio do texto).
Tendo em vista ser o assunto principal, o Movimento de Canudos e, extensivamente, Antonio Conselheiro, Euclides da Cunha e o livro Os Sertões, a turma de futuros professores e professoras foi aumentando a ansiedade e o desejo de pisar o chão por onde viveu e morreu uma porção considerável de brasileiros e de brasileiras. As páginas do livro não davam mais conta da curiosidade. As palavras do professor já não mais os satisfaziam. Desse modo, pé na estrada: Canudos nos aguarde.
Com a mesma contribuição da Pastoral da Juventude fizemos uma viagem ainda mais rica em face de que naquela cidade a presença dos atores do episódio é muito mais forte e marcante. Em terras canudenses os estudantes sentiram com mais força a presença do Conselheiro e do seu povo, por extensão, as palavras escritas, o texto euclidiano.
É a partir dessa primeira viagem a Canudos que começa a nascer o projeto de estudo Na Trilha d’Os Sertões. Já a partir do ano seguinte, 2001 iniciamos o trabalho mais consistente, sempre a partir da união das leituras do livro vingador, Os Sertões, de Euclides da Cunha e o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, incluindo-as como atividades obrigatórias de leitura, inclusive o filme e os demais que foram sendo incorporados ao longo dos anos. Destacamos a leitura do filme em face de que insisto com os estudantes que é necessário ler a película, direcionando, em alguns momentos, o olhar deles e delas para determinados detalhes da narrativa fílmica, insistindo na tese de que nada é por acaso, pois em qualquer instante há sempre o olhar, o ponto de vista de quem dirige o filme. Da mesma forma que o narrador de todo e qualquer romance, conto, etc. desse modo, vou sempre fazendo a relação entre as narrativas, em especial, a literária e a fílmica.
Assim, o projeto veio se configurando como lugar de leitura, politização, entretenimento e de inclusão social através da leitura, nas palavras do prof. Dr. Aleilton Fonseca, um dos nossos contribuidores  quando por aqui esteve no encerramento da segunda turma extraescolar do projeto, mais precisamente no pequeno povoado denominado Tabua, oficialmente, São José do Campo Alegre. Naquela oportunidade o professor nos apresentou algumas das suas produções, em especial, O Pendulo de Euclides, o qual foi tornado de leitura obrigatória no curso, tanto na sua versão escolar, quanto extraescolar.
Desse modo, ainda restrito ao universo escolar, viemos consolidando as leituras temáticas que envolviam a atmosfera do Movimento de canudos, literatura, filmografia e viagens aos palcos daquele fenômeno social até o ano de 2009 quando formamos a primeira das três turmas extraescolares do projeto de estudo Na Trilha d’Os Sertões.
Na rede social Facebook há algumas páginas com a expressão Na Trilha d’os Sertões no celem, feitas pelos estudantes, como atividades avaliativas quando oferecemos o curso em unidade letiva para as turmas de terceiro ano.
Em grande parte o surgimento do curso deve-se as nossas intervenções na Rádio Regional de Cícero Dantas – um dos palcos do Movimento de Canudos – instalada em um casarão que pertenceu ao Barão de Jeremoabo, também um dos atores políticos daquele embate, cujo nome da cidade é em sua homenagem. Ali, a radialista Ângela Santana, juntamente com Paula Andrea e Aline, funcionárias da emissora, nos incentivou para a criação do curso quando, no programa A Voz do Povo, abordávamos assuntos de natureza educacional, política e, na maioria das vezes, literária, com destaque para o livro Os Sertões.
A partir das intervenções radiofônicas e das contribuições das radialistas, organizamos o primeiro curso das três versões escolares que ocorreram e mais duas escolares, sendo a primeira no ano de 2009, a segunda, em 2010, a terceira em 2011, a quarta em 2013 e a quinta em 2014, respectivamente.
PUBLICO-ALVO
O curso é destinado a todos e a todas que se interessam por leitura, das mais variadas faixas etárias, mas o pré-requisito estabelecido é ter em mãos o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, de qualquer edição.
OBJETIVOS
A leitura como hábito e prática politica estão no lastro da nossa intenção, cujos desdobramentos possam ser vistos no cotidiano desses jovens, profissionais liberais e professores e professoras da Educação Básica da nossa região, qual seja, a mudança no comportamento político. Pois tendo como germinal de um  projeto de disseminação do hábito da leitura, um livro do valor histórico-social que Os Sertões adquiriu desde a sua publicação, é nada menos que revolucionária nossa atitude, entretanto fazendo parte de uma política macro, pois os microcosmos, dos quais nossa prática faz parte, não darão conta da superação das necessidades e dos obstáculos.
METODOLOGIA
O curso Na trilha d’Os Sertões acontece com atividades diversificadas sendo, majoritariamente marcadas por encontros para exposição do conteúdo do livro Os Sertões, seguida de exposição de filmes pertinentes ao tema, sempre ambas movidas com debates. Ainda realizamos viagens aos palcos do fenômeno, a guerra de Canudos: Monte Santo, Canudos e o que chamamos de “rota do Conselheiro” – as cidades Cícero Dantas, Ribeira do Pombal, Cipó, Nova Soure, Crisópolis e Itapicuru.
No primeiro dia de encontro do curso apresentamos o roteiro com a indicação das atividades indicadas acima, ficando as viagens e a exibição dos filmes, distribuídas a cada dia de discussão de uma parte do livro, que é desenvolvida da seguinte maneira – entretanto, o curta-metragem, Na Terra do Sol, de Lula Oliveira é exibido, tendo em vista tanto pelo caráter estético, quanto pelo literário, pois o diretor ressignifica a cena final dos combates em Canudos:
O cursista, já de posse do livro Os sertões, tem uma parte orientada pelo professor a qual deve ser lida em casa. No 2º encontro o professor leva um roteiro de leitura daquele trecho indicado e previamente lido pelo cursista. Dinâmica recorrente em quase todos eles, modificada somente para a exibição de algum longa-metragem ou viagem, exceto em dias de encontro para as viagens. Para esta atividade são orientadas algumas observações do próprio local visitado, proporcionando ao cursista o direcionamento do seu olhar frente a um mundo visto nas telas e no livro Os Sertões. Em todas ocasiões há sempre um convidado que versa sobre algum assunto pertinente proferindo uma palestra, momento em que são entregues os certificados de participação cuja frequência mínima é de 75 %. Outro diferencial é que o cursista faz algum trabalho para ser entregue ao final ou durante a realização do curso, ou apresenta um trabalho a título de encerramento das atividades.
As partes do livro são as seguintes:
1.      A Terra – a parte inteira
2.      O Homem – a parte inteira
3.      A Luta - PRELIMINARES
4.      A Luta - TRAVESSIA DO CAMBAIO
5.      A Luta – Quarta expedição primeira parte
6.      A Luta – Quarta expedição segunda parte
7.      A Luta – Nova fase da luta
8.      Últimos dias
Os roteiros de leitura são redigidos e confeccionados pelo professor, a nível de síntese, com inserções de citações do original e entregue uma cópia a cada cursista . Estas citações são escolhidas em face da carga estética que o autor empregou como, por exemplo, o item Higrometros singulares, cuja descrição de um soldado morto e o título dado revelam a capacidade criativa, poética, de Euclides da Cunha.
Assim vamos chamando a atenção do cursista para os detalhes da grande obra. Ali adiante chamamos a atenção para o uso recorrente do gerúndio em A procissão dos jiraus, em outro instante já fazemos uma leitura paralela entre as linguagens utilizadas no curso, a literária e fílmica, sempre ressaltando a diferença de abordagem entre uma e outra, isto é, destaco o olhar de cada um e o modo de construção peculiar, tanto do escritor, quanto do cineasta.
O curso NA TRILHA D’OS SERTÕES aconteceu em 05(cinco) edições:
1.      Município de Cícero Dantas-Ba – 20(vinte) pessoas das mais variadas atuações na sociedade, incluindo 03(três) radialistas e um contabilista; ano – 2009
2.      Município de Fátima, povoado Tabua-Ba – 40(quarenta) pessoas, cujo predomínio era de jovens e ex-alunos do professor coordenador do curso; ano - 2010
3.      Município de Cícero Dantas-Ba - 10(dez) pessoas, todas professoras da Rede Municipal. Ano - 2011
4.      Município de São Cristóvão-Se, U. F. de Sergipe - 40(quarenta) pessoas, estudantes da instituição e da comunidade do entorno dela. Ano – 2015 (projeto em elaboração para ser apresentado)
Nos anos de 2013 e 2014 o curso foi ofertado no Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães, Fátima-Ba, como Estudo temático nas disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Redação, durante a III Unidade letiva de cada ano indicado acima. O diferencial em termos de leitura da versão escolar para a extraescolar, é que na segunda lemos na totalidade os livros OS SERTÕES, de E. da Cunha e O PENDULO DE EUCLIDES, de Aleilton Fonseca. Esta exclusividade deve-se ao fato de que na escola os estudantes se deparam com um numero muito maior de atividades, devido à quantidade de matérias escolares.
RESULTADOS OBTIDOS
Para este momento do nosso relato quero destacar a participação dos cursistas e de profissionais da área artística que viram de perto o nosso trabalho, exibindo suas observações pós curso, entendendo, desse modo que os resultados são, exatamente, a capacidade/potencialidade que o curso desenvolveu nos participantes no que tange ao olhar renovado frente ao texto literário. Na instigação para ir além do visto, mas não percebido nas linhas e, principalmente nas entrelinhas. Em outras palavras, ressignifica o ato de ler: seja esse ato estético ou político que o texto carrega e nos é apresentado.
Fruto do nosso primeiro curso, valemo-nos das palavras da cursista, Aline Santos que conseguiu traduzir o “resultado” em poesia: “A Literatura escancara os escândalos sociais, mergulhada na sutileza, sendo empreendida no patamar local e global, já que ela enquanto linguagem movimenta a atmosfera terrestre, fazendo do imenso cosmo, uma minúscula partícula universal, encontradas em cada ser humano com olhar caleidoscópico.          
Falar acerca da literatura de Os Sertões é tatear com a língua o que a literatura só permite sentir. Uma vez emersa no fazer literário desta obra é possível vislumbrar sensações: a pele muda de cor, pois impossível não sentir a aspereza do “soli” nordestino. Os cabelos tornam-se ásperos, uma vez que a poeira marcada pela seca não permite a leveza. A fala entrelaça-se com a língua e com o marejar dos olhos. Assim, escreve no solo gentil o nome de um desconhecido.
Tudo muda: corpo, alma e mente. Real e surreal, mas em que acreditar? Para aqueles que acreditam em imagens Os Sertões cria as mais nítidas figuras, homens e mulheres destorcidos pela fé, cujo nome é substituído por uma crença, uma fuga da realidade. Assim, todos se tornam guerreiros, anônimos guerreiros conselheiros.
Embevecidos, uma voz ecoa, para mais uma vez ratificar através da escrita de Euclides “O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE”    
Tais percepções foram possíveis através de uma leitura detalhada de Os Sertões, mediante uma metodologia eficaz do professor coordenador Marcos, em a TRILHA DOS SERTÕES. Que trouxe para nós a experiência de conhecer uma obra de suma importância da literatura brasileira, quiçá um marco histórico na vida do sertanejo.”

Já tendo feito referencia acima do professor Aleilton Fonseca, reitero a sua aproximação com o nosso trabalho quando aqui esteve no encerramento da segunda edição do curso, no povoado Tabua, zona rural do município de Fátima-Bahia. Docente da Universidade Estadual de Feira de Santana e membro da Academia de Letras da Bahia, afirmou que o nosso trabalho, antes de ser uma atividade de literatura, é uma ação de inclusão social, em face dos sonhos e das perspectivas que o curso gera nas mentes dos jovens que ali passaram durante os 03(três) meses de duração das atividades. O depoimento do prof. pode ser conferido em álbum do nosso perfil na rede social Facebook.
O depoimento seguinte é do poeta, hoje estudante universitário, Diego Oliver:
“... participei do grupo de leitura organizado pelo professor Marcos José espaço Na Trilha D’Os Sertões que teve como principal norteador o livro Os Sertões de Euclides da Cunha. Os encontros eram realizados numa comunidade da cidade de Fatima na Bahia. O combinado era que lêssemos os capítulos a serem discutidos previamente para discutirmos em grupo. De maneira calma e descontraída os encontros me deixavam cada vez mais interessado em continuar as leituras que me encantava cada vez mais a cada página, logo me vi buscando outras fontes de leitura que pudessem me dar suporte nas discussões.
Juntamente com as leituras e discussões acerca do livro trazíamos para os encontros assuntos referentes à nossa cultura sertaneja que afinal era retratada no livro em questão e também questões referentes à educação no Brasil e a prática leitora. Participar desse projeto mudou de forma significativa minha forma de olhar o mundo e a valorizar minhas raízes culturais e adquirir uma prática mais assídua e consciente de leitura, o contato com o livro Os Sertões e a experiência de ouvir e ler relatos sobra a Guerra de Canudos e as diferentes opiniões sobre o tema me fizeram olhar de forma analítica os fatos que ocorreram na nossa história, e reconhecer o importante papel da educação como veículo de aquisição de cultura.”
Em outra edição esteve conosco, em trabalho de pesquisa, o cineasta e documentarista Elson Rosário, cujas palavras e imagens tivemos como registrar. Eis o que ele nos diz e em fotos, a atuação dele registrando nossa atividade:
Depoimento do cineasta Elson Rosário
Ao tomar conhecimento do projeto “Na Trilha d’Os Sertões” constatei o quanto seria importante e necessário a realização do seu registro audiovisual no formato documental possibilitando ampliar o alcance de um trabalho de tal envergadura realizado em escola pública no semiárido baiano ambiente carente de recursos financeiros e tecnológicos.
Na pesquisa exploratória visando a estruturação do nosso documentário fui impactado pelo desempenho e postura do professor em capacitar os participantes por meio de uma visão crítica, política e emancipatória que estimula a criação e organização de novas histórias e relatos inspirados pela leitura da obra literária “Os Sertões” de Euclides da Cunha. A iniciativa do professor Marcos José de Souza consolida-se como pioneira naquele ambiente, a qual busca o esclarecimento do povo, tendo o adolescente/jovem como protagonista, de um fenômeno histórico ainda muito pouco conhecido da sociedade brasileira.
Acredito que, no contexto da aplicação prática de uma política cultural da leitura, o esforço pedagógico desenvolvido pelo professor Marcos José de Souza é importante e necessário para a comunidade ao permitir que estudantes, adolescentes e jovens entrem em contato direto com um fenômeno histórico-político-social de relevância para a afirmação da identidade do povo brasileiro.
Elson Rosário, cineasta.
Referencias
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo:Nova Cultural. 2003.
FONSECA, Aleilton. O pendulo de Euclides. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil. 2009.
OLAVO, Antonio. Paixão e guerra no sertão de Canudos.
OLIVEIRA, L. Na Terra do Sol. Curta-metragem.
PRONZATO, C. Canudos – numa longa curva. Curta-metragem.
PRONZATO, C.A Bahia de Euclides da Cunha.Média-metragem.
PRONZATO, C.Calazans – o tradutor dos sertões.Média-metragem.
REZENDE, Sergio. Canudos. 1997
ROCHA, G. Deus e Diabo na Terra do Sol.1964
SAMPAIO, C. N.(org.) Canudos - Cartas para o Barão. São Paulo:Edusp; São Paulo:IOESP. 1999.