domingo, 17 de abril de 2016

Sem olhos em Gaza, uma viagem para dentro de si no meio do tempo, de Aldous Huxley.

Um diário atípico é o que acabei de ler indagorinha, debaixo do coqueiro do quintal dicasa, com a parceira varrendo o que a natureza rejuvenesceu: as folhas da tangerineira, da caramboleira (existe esse nome para pé de carambola?) e outras relíquias cotidianas naturais !!! Uma leitura sem pressa, na boa, sem a preocupação pedagógica. Leitura prazerosa, degustada a cada data indicada. Viajando em cada canto da Europa – era ela o ambiente, isso mesmo, pois Paris, Londres, Genebra, o Mediterrâneo, os alpes, os rios e os canais e outros recantos do velho denominado velho continente são constantemente citados na narrativa protagonizada por Anthony, este é o nome dele.
A princípio o que nos chama a atenção é o fato de que todos os capítulos são identificados por numeração cardinal e, ao mesmo tempo, datados, conforme os diarios mais comuns. O diferencial é exatamente que esse diario não acompanha, na narrativa a sucessão consecutiva dos capítulos, elas, as datas, vão e vêm ao sabor do narrador (ou narradores?, afinal localizamos “ele” e “eu” narrando algures e alhures. Por exemplo, o capítulo 1, de 30 de agosto de   1933 é seguido pelo capítulo 2 de 4 de abril de 1934, o seguinte, de 30 de agosto de 1933, o cap. 4 já “desce” para 6 de novembro de 1902, depois “sobe” para 8 de dezembro de 1926 e assim sucessivamente. Desse modo, meus amigos e minhas amigas, temos uma ideia do quanto instigante e desafiadora é a leitura de Sem olhos em gaza, publicado em 1936, no árduos tempo de ascensão do nazi-fazismo.
Essa é outra faceta do livro escrito pelo mesmo autor de Admirável mundo novo, sucesso mundial, mas que o autor dessas mal traçadas linhas não tecerá comentários,  deixá-lo-eis para vocês conhecerem de perto essa outra pérola da literatura internacional. Mas voltando ao que chamei de mais uma face do livro, o nazismo, Hitler e outros quetais, sem ser panfletário, o autor aborda esse mal que a humanidade infelizmente conheceu. Mas o faz a partir do olhar burguês de seus personagens, é a esta classe econômica que eles pertencem. As reflexões transcendem o etno-centrismo(mesmo que ele surja em alguns momentos da história ali narrada), quando Anthony e seus parceiros de jornada refletem aquela “praga” social  a  luz da filosofia, da sociologia e da própria literatura.
E o que nos “revela” Sem olhos em Gaza? A introspecção de um personagem-escritor perdido em roteiros ainda por serem descobertos pela burguesia turística; viajantes em busca de si mesmos, portanto sempre prontos, ativos, em busca do inalcançável. Permitam-me citar dois trechos. O primeiro e o último da narrativa:
Os retratos já se iam cobrindo dessa turvação que costuma empanar nossas lembranças. P. 5
O relógio bateu sete horas. Lento cauteloso ele [Anthony] permitiu-se deixar a luz penetrar de novo, através da treva, nos intermitentes, indecisos fulgores, e sombras da existência cotidiana. Levantou-se enfim e foi a cozinha preparar algum alimento. P. 425
A minha aposta para que no título a Gaza seja o destaque, deve-se ao fato de que Israel não existisse como Nação e a burguesia europeia visse a praga social,  mesmo que aromatizada de teorias conforme cito no parágrafo anterior, de um dos roteiros turísticos existenciais mais visitados por ela.
Esse texto foi construído sem o tradicional ir e vir ao texto-fonte, portanto trata-se de uma visão única do livro, é a primeiríssima impressão que tive da narrativa, cujo lugar que aparece no título, na própria história, não surge em momento algum. Sem correção do autor. Por conta e risco hehehehehe. Mistérios de A. H. Se alguém dignar-se a ler essas mal traçadas linhas, peço que comente-as pelo blog. Um abraço e o exemplar está disponível aqui em casa. Com dois vê kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.




domingo, 10 de abril de 2016

Mario Gusmão, o anjo negro da Bahia é a grande estrela de Glauber em Dragão da maldade contra o santo guerreiro
Da cozinha ouve-se a fina flor da musica importada do States United of the America; da rua vem a melodia gostosa , manhosa, caliente do arrocha com a voz macia do grande Silvano Sales e da sala, a mais genuína musica brasileira, a dita folclórica, presente nas várias cenas de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Eis o caldeirão cultural brasileiro, o qual, da nossa parte, convive em perfeita harmonia.
Mas nosso intento aqui é conversar com vocês sobre algumas cenas do filme e destacando na película o grande Mario Gusmão, o Oxóssi/São Jorge na narrativa fílmica, o homenageado no 6º FECIBA, o Festival de Cinema Baiano - vejam página no Facebook. O filme do Glauber está disponível no canal You Tube.
O filme narra as trajetórias que se cruzam: Coirano, o cangaceiro que vinga a morte de Lampião e Antonio das Mortes, matador de aluguel, presente no filme anterior, o Deus e do Diabo na Terra do Sol, também de G. Rocha. Mesclando a musica do povo, dita folclórica, com a clássica; o Catolicismo e o Candomblé e o que está nas entranhas de todas essas faces: a luta de classes. De um lado os coroneis e , do outro, o povo. Sem comida, sem moradia, sem trabalho, aos desmandos das vontades de poucos. Eis o que nos oferece o Glauber.
 O senhor é um homem formado, mas a minha ignorância tem vergonha, é uma das grandes frases que marcam o filme, dita por Antonio das Mortes ao delegado, ao recusar a proposta deste para assassinar o coronel e mandante do lugar, cuja esposa era amante do delegado, para o que receberia uma fazendinha como recompensa.
A cena da tentativa de assassinato do coronel enquanto ao fundo estavam as imagens de Cristo e da Virgem Maria é outro momento antológico do filme, mostrando a ironia ferina do discurso glauberiano. Detalhe importante: o coronel era cego.
A cena do remorso coletivo: o professor, a mulher do coronel, o padre e o delegado morto. Mostra como os três apaniguados e asseclas do rei, neste caso, o coronel, foram acometidos. Este momento acontece após a tentativa de assassinato do coronel ter sido frustrada. Para esse momento lembrei do texto de um jovem francês, Ettiene de La Boetie, que viveu no século XVI, Discurso sobre a servidão voluntária. O qual também serve para outra cena na qual o coronel, já se sentindo vingado do adultério, é carregado nos braços pelo povo e ao lado da mulher.
Outro grande remorso é o de Antonio das Mortes após um diálogo com a Santa: no momento em que ele carrega o professor pelas ruas da cidade, aparece uma placa de Mogi das Cruzes, SP e as palavras da Santa martelando em sua mente porque ele matou o cangaceiro e que esta morte representará a morte do povo do lugar, cuja previsão é concretizada: Ai arrebenta a guerra sem fim, repetida três vezes e, em seguida, ao som de levanta sacode a poeira e dá a volta por cima, sucesso popular na época do filme (outras músicas esclarecedoras da narrativa dão um toque especial ao filme). Na cidade, vários nomes de estabelecimentos comerciais indicam a confusão mental que Antonio das Mortes vem sofrendo.
O cangaceiro surge ao modo de Cristo na cruz e o professor retirando as armas dele sugerindo que tomaria uma atitude diante dos fatos. E ao fundo um violeiro tipicamente catingueiro canta modas com enfoque político social. O que pode sugerir este conjunto de cenas de personagens?
A cena final deve ir para um museu, pois é antológica: montado em um cavalo branco eis que surgem a Santa e no comando, o grande Oxóssi/São Jorge, e encarnando-o, Mario Gusmão, acabam com a batalha ferindo mortalmente com sua lança o sanguinário coronel. E, ironicamente, no chão, puxando a rédea, o padre, numa clara alusão da subserviência da Igreja Católica aos verdadeiros valores religiosos do povo do sertão dos Estados do Nordeste brasileiro, o Sincretismo da união ou culto simultâneo do Candomblé com aquela instituição religiosa, bem ao gosto do que Euclides da Cunha afirmara em Os Sertões, o sertanejo é uma rocha, isto é, mineral fruto da junção de outros minerais, o povo do sertão, gente branca, negra e índigena.
Mario Gusmão emprestando ao filme sua envergadura dramática e, como Oxóssi, “benzendo” o ex-cangaceiro volteando-o por três vezes e depois se seguindo caminho. É a cena final.
O título do nosso texto traz o nome de um documentário sobre o grande Mário, de autoria de Elson Rosário, também presente no Festival.

VIVA MÁRIO GUSMÃO, VIVA O FECIBA!!!!!

domingo, 3 de abril de 2016

E o Brasil, o que será?, Marcos José de Souza

O acirramento das paixões, com elas, a falta da razão; as mudanças nas regras do jogo político-governamental em pleno andamento da partida e nesse meio a agonia do torcedor da seleção brasileira de futebol lucro(antes, arte) com a enxurrada de duplas ditas sertanejas e pinceladas de funkeiras rebolativas, e até mesmo as nenhum pouco afrodescendentes, mas representantes da dita Axé music. É a indústria, cultural, mas é indústria. Ou seria Industria Descultural?
Esse é quadro brasileiro que vem sendo pintado há mais de duas décadas. Sim a mudança nas regras da legislação eleitoral começou há duas décadas, mais precisamente no ano de 1994, quando o príncipe da Sociologia, o sr. Fernando H. Cardoso (quem deu esse título a ele foi o Glauber Rocha) estava na iminência de ser destronado do poder e, por isso criaram a reeleição para os cargos majoritários em pleno mandato, permitindo assim que ele fosse reeleito.
De lá pra cá, 1994, ano do tetra “Sai que é sua Taffareeeeeelllll”....É tetra É tetra É tetra É tetra” ainda soa em nossos ouvidos o grito de um famoso locutor de futebol de uma muito mais famosa, influente e condutora dos nossos destinos, empresa de comunicação. As duplas, não mais Sócrates e Zico, mas Zezé e Luciano e muitas mais por vir. Esse era o roteiro da vida real brasileira. E por falar em real, fomos agraciados com um plano econômico que levava esse nome, Plano Real, denominação da nova moeda (acho que já tivemos cinco na nossa recentíssima história como Nação -independente (?).
À frente dos destinos do país, o príncipe da Sociologia. Renomado intelectual do terceiro mundo, banido da Universidade por se colocar contra o golpe militar de 1964. Combateu a inflação e combateu a inflação e combateu a inflação. Ah, iniciou, timidamente, a politica de transferência de renda, mas combateu a inflação. Enquanto isso... A pirâmide social e econômica do Brasil não sofreu alteração. Mas ajudou, e muito, os banqueiros do nosso torrão tupinniquim.
Não criou uma Universidade sequer.
Enfim, chegamos ao governo do analfabeto, mas doutor honoris causa em algumas Universidades brasileiras e estrangeiras. Fugindo da seca que sempre assola o semiárido brasileiro, abandonado pelo pai, vai para São Paulo ganhar a vida ao lado da mãe e dos irmãos. Elege-se duas vezes Presidente da Republica. Já lhe faltava um dos dedos da mão (esquerda?).
Reelegeram a sucessora do analfabeto que teve sua vida transformada em filme. Mais uma vez as regras do jogo precisam ser mudadas: anule-se a eleição: TENHO DITO!!! Terceiro turno?
Mas volto ao princípio, do texto: Afinal, o Brasil, o que será? A gente é torto, igual Garrincha e Aleijadinho? Ninguém precisa consertar parafraseando Celso Viáfora, cuja interpretação que mais conheço é com outro, o Ney, do Matogrosso. Ouçam. Reflitam.
Entre outras possíveis leituras, o Brasil tem potencial e já provou, nos diversos momentos da sua história, e que conduzir os destinos da Nação, ter diploma universitário tem demonstrado não ser suficiente. Faltando um dedo. Sendo mulher. Respeitar as regras do jogo é primeiro caminho. Legalidade com justiça social, caminhando colados. Amor ao próximo e a próxima. Respeito, por fim.

Enquanto isso, sigamos em nossa agonia rumo ao Mundial de 2020. Troquem de anão!!!!!! Chamem a Branca de Neeeeeeeeveeeeee!!!!!!