sábado, 20 de outubro de 2018


Educação de tempo integral, pacto para o fortalecimento do ensino médio, reforma curricular para o ensino médio: temas ricos, pouco trabalhados. Mas há uma luz acesa!!!!


Há tempo, principalmente nos últimos 05(cinco) anos viemos acompanhando, de modo indireto, isto é, sem adentrar no debate, várias inferências sobre o ensino médio, dentre eles, o ENEM, a demanda – jovem trabalhador, não-trabalhador, das pequenas, medias e grandes cidades, da zonas centrais e periféricas, da zona urbana e da zona rural, da rede pública e da rede privada – o currículo – educação de tempo integral e o que estudar e como estudar.
É a partir deste ultimo aspecto – o que e como estudar no ensino médio, o currículo - que declinaremos neste momento, que deveria ter saído em janeiro, conforme tarefa auto-imposta, a saber, um texto sobre educação a cada 30(trinta) dias, ao menos, durante o ano de 2015, tendo seu início sequencial em dezembro de 2014.
Estando no Ensino Médio desde o ano de 1997 e exclusivamente nele desde 2001, sempre nos inquietamos com o comportamento dos estudantes, jovens, na sua quase totalidade, na faixa etária dos 15 aos 17 anos, portanto, uma fase da vida de início de consolidação dos mais variados conceitos, morais, sócias, intelectuais, políticos, desse modo, gente que pensa e tem opinião, por mais que nós professores e professoras, entendamos que são SOMENTE adolescentes e jovens. Foi a partir desse itinerário de confrontação – mundo adulto, diplomado e mundo juvenil sempre ansioso por mudanças – que viemos construindo um novo olhar sobre o que e como ensinar no ensino médio: a proposta de um currículo por temas, isto é, no lugar das disciplinas, teríamos cursos variados, tendo por base o conteúdo daquelas matérias de ensino e os conhecimentos obrigatórios para este nível de ensino, traduzidos na legislação por competências e habilidades.
I - Para ilustrar essa ideia passo a expor uma leitura que fiz do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, publicado em 1995, pela editora Globo, São Paulo. O exemplar que li está na 45ª edição. O livro trata, sinteticamente falando, da “aventura” de 07(sete) cadáveres que decidem protestar contra o atraso nos próprios sepultamentos. Esse atraso dá-se por conta da luta dos trabalhadores da cidade de Antares, cidade onde ocorrem as ações da narrativa. Escolhi o capítulo LXXVI para trazer à tona algumas possibilidades do que denominei de estudo por temas, no lugar das convencionais disciplinas. Após essa exposição, delinearei outra atividade, esta já aplicada na escola onde trabalhamos, bem como minha sugestão de alteração curricular, esta ideia foi indicada no plano de ação, que pode ser total ou parcial no ano letivo.

Por ora vamos ao trecho do livro aludido acima:
O diálogo “invocado” por dona Valentina(esposa do juiz Dr. Quintiliano do Vale) apresenta os sinais de liberdade feminina, quando: ela acende um cigarro na presença do marido, que sabe do vício, mas não permite ação na presença dele; o ato de “modificar”  o acontecimento – a ressureição dos sete antarenses – em um conto de fadas (sobre essa iniciativa de dona Valentina o narrador não nos diz nada sobre como ela fez a mudança de um fato real – na narrativa, mas surreal para os leitores) e, por fim, quando surpreende o marido dizendo que ela não é uma dama, conforme a justiça entende, ao tempo em que convida-o para se despirem das máscaras usadas cotidianamente e assim falarem a verdade, um para o outro, como dois seres humanos normais.

Destaco ainda o conceito que ela dá para Justiça, a área de trabalho do marido, chamando de janela que abre e fecha de acordo com as conveniências do transcurso de um assunto ou episódio real. Isto é, se ele, o juiz, concorda, a janela do diálogo é aberta, se ele discorda, a janela é fechada.
O idioma francês como símbolo de intelectualidade e de modernidade ou ainda de elitismo, mesmo já perdendo espaço para o idioma inglês, é outro elemento informativo que o romance revela, significando, sociológica e politicamente, o poder político-ideológico que eles, os idiomas estrangeiros e de potências econômicas e militares, exercem em um país “sem comando”, ou até mesmo subserviente a essas nações.

O trecho a seguir traz uma visão panorâmica da obra, sem deixar de sugerir um posicionamento do autor desse texto:

O romance é um manifesto à liberdade, uma denúncia sobre os modos de ocupação de terras devolutas – e do modo como nasceram muitos latifundiários no Brasil – e à formação de muitas famílias tradicionais que ocuparam e ainda ocupam o poder econômico e politico em terras brasilianas, ao tempo em exibe também o cotidiano desses núcleos sociais.

O livro é volumoso, mas nem por isso, cansativo. Apresenta diálogos e narrativas irônicas, bem ao gosto do jovem e do adolescente, carregados de humor e de muita informação. É uma obra literária completa: DIVERTE, ENREDA, INFORMA. É um texto necessário ao estudante do ensino médio, aos curiosos, às curiosas, a quem se dedica a conhecer a sociedade brasileira, mesmo tendo sido o Rio Grande  do Sul, usado como palco por um dos mestres dos pampas gaúchos, o grande Érico Veríssimo.

O curso no ensino médio, tendo por base o livro INCIDENTE EM ANTARES, como pude relatar nesse pequeno texto, traz elementos da arte literária, história, política, geografia, religião, biologia, química, tendo a língua portuguesa como idioma em que foi escrito, entre outras disciplinas que os profissionais da educação possam enxergar. De posse do livro, a leitura cotidiana e extra-classe  será o objeto principal de estudo e o total de horas destinado ao curso, deve ser definido ainda na preparação do ano letivo e, em conjunto com outros temas de cursos, o horário da turma/classe será preenchido observando-se as determinações, critérios, princípios, carga horária e outros que a legislação estabelece.

II - Outros temas para cursos já foram expostos onde trabalho como, por exemplo, O FUNCIONAMENTO DA CASA DE FARINHA, O BIOMA CAATINGA, AS FESTAS POPULARES, entre outros, cujo desenvolvimento contempla os conhecimentos estabelecidos por lei.
Como afirmei anteriormente nesse texto, uma proposta de ensino por temas foi sugerida em nossa preparação do ano letivo o qual passo a delinear a seguir em duas possibilidades:
A primeira é a de inclusão paulatinamente e consecutiva, isto é, neste ano de 2015 os novos estudantes teriam à sua disposição os cursos temáticos para sua livre matrícula. Porém, em caso de excesso de solicitações para determinado curso, o professor/a professora responsável fará uma seleção e, assim, teria o seu quantitativo máximo de estudantes matriculados. Em 2016 e 2017, teremos, assim as turmas de 1ª e de 2ª série em novo formato. Observando o detalhe que os jovens não estariam vinculados à sua classe de origem, pois eles estarão livres para matricularem-se em cursos diferentes, assim um rapaz de 17 anos, em 2017, poderá fazer um curso, por exemplo, Na Trilha d’Os sertões, com um alguém que esteja recém-saindo do Ensino Fundamental, com 15 anos de idade.
Para formar a quantidade de horas letivas, os estudantes serão matriculados em outros cujas vagas existem a fim de garantir a carga-horária mínima tanto do ano letivo, quanto do nível de ensino.
Entendo que desse modo o estudante terá mais prazer em estudar, pois  não teria o desconforto de ler um romance, calcular o valor de seno, tangente, as guerras púnicas, etc, etc, etc, isto é, temas inerentes às disciplinas que compõem o quadro curricular do ensino médio.

A segunda possibilidade é a da oferta concomitante, isto é, os estudantes fariam a sua opção no 1º ano de ingresso no ensino médio: ingressar nos cursos temáticos ou na 1ª série por disciplinas. Não uso propositalmente para esta segunda opção o termo “regular” por entender que sendo aceito o ensino do currículo por temas, este também passa a ser regular. Um detalhe importante: não pode haver mudança de matrícula em meio ao percurso, uma vez matriculado em uma das opções, deverá o estudante ir até o final dela, pois a diferença de nomenclatura e a quantidade entre si, será muito grande.
Por fim descrevo em linhas gerais o que denominei de CINEMA NA ESCOLA. Trata-se de uma semana de aula que consiste em exibir o mesmo filme em todas as salas de aula, ao mesmo tempo. São 05(cinco) filmes para a semana, denominada de SEMANA TEMÁTICA, um filme para cada dia. As primeiras sequências foram escolhidas pelos professores, ainda no ano de 2009, as demais foram indicadas pelos estudantes, sempre abordando o mesmo tema e tendo o cinema nacional como lugar de destaque, isto é, a maioria deles é de filmes brasileiros.
Como um dia de aula qualquer, o sinal é acionado e todos os estudantes se dirigem para as suas salas. Há um pequeno intervalo durante a exibição e ao final dele, a merenda é fornecida. Após a degustação, todos e todas voltam para a classe e o debate sobre o filme é iniciado. A critério do professor/da professora, alguma atividade é solicitada após o debate ou até mesmo, alguma pergunta, sobre qualquer um dos filmes é solicitada em prova escrita, independentemente da disciplina.
Após esse itinerário espero ter contribuído para a reflexão e o debate deste nível de ensino há tempos carente de profundas mudanças, em particular, no atendimento aos seus principais atores, os estudantes, no que diz respeito ao ouvir o que eles e elas querem vivenciar, ouvir, falar, conflitar, produzir, socializar, aprender...
Em dia de chuva com muito calor abafado, nuvens carregadas e a perspectiva de muita chuva para o sertão mocoense (ou seria montealvernense?)
 Fátima, 24 de fevereiro de 2015.
 

Esta é a capa do exemplar utilizado pelo autor do texto.


 
Nesta foto vê-se a edição do livro utilizado, bem como sua edição e editora e, principalmente, sua autoria.


Nesta foto temos o capítulo onde é iniciada a “saga” da revolta dos mortos antarenses.

Esta foto mostra a continuação do capítulo indicado na página anterior.
Esse trabalho fora anteriormente publicado no blogdolandis, de responsabilidade do professor Landisvalth Lima,da cidade de Heliópolis - Bahia.


Mais uma vez retorno com minhas postagens, tanto para dar vida a esse veículo, quanto para socializar minhas produções nesse tempo de produção em série que a Universidade Brasileira vem se comportando (vale e sabe quem produz e publica em revista acadêmica e tem seu currículo lattes acumulado de produções , isto mesmo,é acumulação). Como sou avesso a esse tipo de comportamento, resolvi alimentar meu blog, que é nosso, com minhas produções, mesmo tendo a intenção de retornar à academia e fazer meu Doutoramento.
Abaixo dois pequenos trabalhos que fiz durante esta minha segunda graduação, em Letras Vernáculas,  pela Universidade Federal de Sergipe, na modalidade à distância. uma dívida pessoal recentemente paga (fui diplomado no mês de junho deste ano). Isso mesmo, apesar de já ter consolidado minha carreira profissional como professor de Língua Portuguesa, eu não era diplomado.

Em outro momento postarei outros textos frutos dos trabalhos


Conceito de Literatura. Literatura de viagem. Brasil colônia

O ser humano sempre desenvolveu o fascínio pelo desconhecido e a literatura foi um dos meios pelos quais essa curiosidade ganhou corpo, forma, cor, cheiro, vida. Estou me referindo ao que se convencionou denominar por Literatura de viagem, esses escritos que desde a Antiguidade Clássica vêm divertindo, surpreendendo, emocionando, informando a todos e todas que mantém contanto com 
esse “tipo” de produção escrita.
Dialogando com Cesar Palma Santos em tese sobre esse “gênero”, em um pequeno trecho do seu trabalho constatamos que a Literatura de viagem é um campo recente de estudos, mas sua produção é vasta ,mas podem ser consideradas como suas algumas das seguintes características: são narrativas reais sobre o encontro com o “outro”, cujo ambiente e cultura são diferentes daqueles de quem narra, narradas em primeira pessoa, entre outras.
No Brasil, temos alguns exemplos de narrativas de viagem, elencadas como, dentre outras denominações, Literatura de viagem, A Carta de Achamento do Brasil, a primeira do gênero, que relata e descreve os primeiros instantes do encontro entre os futuros, colonizador e colonizado, escrita por Pero Vaz de Caminha.


 Em “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, temos a personagem  Macabeia.Vejam como descrevo e analiso essa enigmática figura da literatura nacional.

A personagem Macabea é apresentada como uma pessoa frágil, desprovida de desejos e de anseios. Entretanto o desenrolar dos fatos vão despertando e revelando anseios, curiosidades e o novo se descortinam diante de seus olhos. É uma mulher contida, mas em contínuo desabrochar (sem perder o que chamamos de ingenuidade, como são reveladas atitudes tomadas a partir de “sugestões de outros personagens próximos”). São essas características vistas em Macabea as quais se traduzem em “comportamentos reais”, seja no trabalho, e suas atitudes de subserviência, seja na vida familiar, que ganha existência na pensão onde mora e, principalmente, na relacionamento amoroso e muito conturbado com Olímpico. Macabea é órfã e sente-se sozinha, incapaz, mas admira as pessoas livres. E é essa admiração que a impulsiona, põe-na adiante, mesmo com o fim trágico ao qual fora destinado.