domingo, 30 de dezembro de 2018

 Nas linhas sinuosas de Antonio Carlos Mangueira Viana

Há um ano me dei conta que conhecia o contista Antonio Carlos Viana, é sem o "Mangueira" que ele é mais conhecido, o qual me fora apresentado pelo ex-parceiro e ex-camarada Landisvalth Lima lá pelos idos dos anos 2000 em uma polêmica sobre as leituras indicadas para o vestibular da Universidade Federal de Sergipe, nossa querida UFS.
Nesta ocasião eu estava à frente de alguns jovens, hoje autoridades em nosso município, levando-os àquela Universidade para prestarem o vestibular, quando Landis me falou que o escritor sergipano havia sido preterido das leituras obrigatórias em face do caráter pornográfico a que os textos de Viana classificado - quem conseguiu retirar tinha força política e econômica junto à instituição.
Deixando esse detalhe de lado, voltemos ao momento em que, há um ano, em evento científico sobre o escritor e realizado na mesma UFS, coordenado pela professor Oscilene, me dei conta que conhecia o nobilíssimo artista da palavra. O conhecia dos corredores vespertinos da Universidade, pois pela manhã estava no estádio, na piscina ou em outro setor do Departamento de Educação Física, e às tardes buscava refúgio intelectual nos Departamentos de Letras,História, Pedagogia entre outros do CECH. 
Vieram as lembranças de ver aquele sujeito carrancudo, de andar solitário que neste ano de 2017 se revela, não tardiamente, um grande escritor que nos surpreende em seus contos, com títulos e conclusões que fogem do lugar comum que nossa "lógica" de leitor experiente nos conduz. Isto é, vamos nos acostumando a antever conclusões, a comparar títulos de contos ou romances com o desenrolar do texto, etc. Em Viana as situações, os elementos da narrativa não são dados de maneira comum. Esse é o desafio e o prazer de lê-lo.
Durante o evento fui me deliciando com as exposições e leituras diretas de textos de Viana, em particular aquelas que tratam do feminino, de mulheres protagonistas e usando o recurso da internet, fui logo adquirindo os livros dele, os quais estou agora lendo-os, mergulhando no universo aracajuano e nas fantasias/ficções desse mestre da Literatura brasileira e universal, uma vez que já ganhou prêmios nacionais e é traduzido em alguns idiomas, o que confere essa titulação por muitos e muitas já atribuída e por mim ratificada. No evento alguns títulos de contos ficaram na memória e ao lê-los senti a mesma emoção de quando os ouvi naquelas tardes de Dezembro de 2017.
Os títulos dos livros são detalhes importantes do seu trabalho como JEITO DE MATAR LAGARTAS, o primeiro que li; ABERTO ESTÁ O INFERNO, o segundo; O MEIO DO MUNDO E OUTROS CONTOS e CINE PRIVÊ, cuja ordem de leitura desses dois não sei qual será, pois estou fazendo um esforço para fazer uma leitura livre, solta das amarras acadêmicas (se isso é possível para quem já fora tragado pelas águas da Ciência, mas estou me esforçando, apesar de fazer a leitura do primeiro, pelos contos com títulos no feminino, na ordem do índice, mas não me perguntem o motivo, pois não sei responder).
Após a primeira leitura, Jeito de matar lagartas fui ao You Tube para ver algumas entrevistas de Viana e logo me deparei com uma feita por outro escritor, o pernambucano Marcelino Freire e de tantas coisas importantes e bonitas que Viana falou destaco a seguinte: o livro de contos para ser bom algum ou alguns deles tem que grudar na memória do leitor. Esse é o sinal de que o livro é bom. E eu aproveitei a dica do autor para destacar com vocês alguns deles, mas hoje somente um será escolhido, os demais serão incluídos em outras postagens que farei acrescentando nesse mesmo texto.
O escolhido está no segundo livro lido, Aberto está o inferno, Quando meu pai enlouqueceu. É uma narrativa do êxodo, mas de volta pra casa, de uma família que migrou e depois teve que retornar para a terra natal. Narra a reação de um filho que percebe o choque de um pai ao ter que retornar e sentindo-se derrotado pela situação, enlouquece. Eles retornam, mas nada será como antes. Esse pequeno trecho é o máximo que posso escrever na tentativa de capturar os meus leitores e minhas leitoras para a leitura do texto original, mas reproduzirei aqui um trecho do conto, que também não revelo a localização:


Chovia no dia em que meu pai enlouqueceu. Sempre chove em dia de desgraça. Foi assim quando meu irmão quebrou o braço, quando me mãe sofreu um aborto e no enterro de minha avó. A gente voltava do Rio, onde fomos morar e não deu certo. A morte de Getúlio acabara com meu pai.

Esse trecho transcrito teve a contribuição valiosa do meu grande Ariel Carvalho de Souza, por enquanto futuro jogador de futebol e jornalista, que ditou o texto para que o papai digitasse.

PS. Texto não revisado pelo autor.