Sem olhos em
Gaza, uma viagem para dentro de si no meio do tempo, de Aldous Huxley.
Um diário
atípico é o que acabei de ler indagorinha, debaixo do coqueiro do quintal dicasa, com a
parceira varrendo o que a natureza rejuvenesceu: as folhas da tangerineira, da
caramboleira (existe esse nome para pé de carambola?) e outras relíquias
cotidianas naturais !!! Uma leitura sem pressa, na boa, sem a preocupação
pedagógica. Leitura prazerosa, degustada a cada data indicada. Viajando em cada
canto da Europa – era ela o ambiente, isso mesmo, pois Paris, Londres, Genebra,
o Mediterrâneo, os alpes, os rios e os canais e outros recantos do velho
denominado velho continente são constantemente citados na narrativa
protagonizada por Anthony, este é o nome dele.
A princípio o
que nos chama a atenção é o fato de que todos os capítulos são identificados
por numeração cardinal e, ao mesmo tempo, datados, conforme os diarios mais comuns.
O diferencial é exatamente que esse diario não acompanha, na narrativa a
sucessão consecutiva dos capítulos, elas, as datas, vão e vêm ao sabor do
narrador (ou narradores?, afinal localizamos “ele” e “eu” narrando algures e
alhures. Por exemplo, o capítulo 1, de 30 de agosto de 1933 é seguido pelo capítulo 2 de 4 de abril
de 1934, o seguinte, de 30 de agosto de 1933, o cap. 4 já “desce” para 6 de
novembro de 1902, depois “sobe” para 8 de dezembro de 1926 e assim
sucessivamente. Desse modo, meus amigos e minhas amigas, temos uma ideia do
quanto instigante e desafiadora é a leitura de Sem olhos em gaza, publicado em
1936, no árduos tempo de ascensão do nazi-fazismo.
Essa é outra
faceta do livro escrito pelo mesmo autor de Admirável mundo novo, sucesso
mundial, mas que o autor dessas mal traçadas linhas não tecerá comentários, deixá-lo-eis para vocês conhecerem de perto
essa outra pérola da literatura internacional. Mas voltando ao que chamei de
mais uma face do livro, o nazismo, Hitler e outros quetais, sem ser
panfletário, o autor aborda esse mal que a humanidade infelizmente conheceu.
Mas o faz a partir do olhar burguês de seus personagens, é a esta classe
econômica que eles pertencem. As reflexões transcendem o etno-centrismo(mesmo
que ele surja em alguns momentos da história ali narrada), quando Anthony e
seus parceiros de jornada refletem aquela “praga” social a luz da filosofia, da sociologia e da própria
literatura.
E o que nos
“revela” Sem olhos em Gaza? A introspecção de um personagem-escritor perdido em
roteiros ainda por serem descobertos pela burguesia turística; viajantes em
busca de si mesmos, portanto sempre prontos, ativos, em busca do inalcançável.
Permitam-me citar dois trechos. O primeiro e o último da narrativa:
Os retratos já se iam cobrindo dessa
turvação que costuma empanar nossas lembranças. P. 5
O relógio bateu sete horas. Lento cauteloso
ele [Anthony] permitiu-se deixar a luz penetrar de novo, através da treva, nos
intermitentes, indecisos fulgores, e sombras da existência cotidiana. Levantou-se
enfim e foi a cozinha preparar algum alimento. P.
425
A minha aposta
para que no título a Gaza seja o destaque, deve-se ao fato de que Israel não
existisse como Nação e a burguesia europeia visse a praga social, mesmo que aromatizada de teorias conforme cito
no parágrafo anterior, de um dos roteiros turísticos existenciais mais
visitados por ela.
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