Sertões
Contemporâneos, Rupturas e Continuidades no Semiárido, da
professora Gislene Moreira, jornalista de formação e com uma caminhada bastante
sólida no campo da Comunicação Social e comprovadas com informações de
pesquisas feitas e apresentadas aqui neste livro, publicado pela Edufba e Eduneb,
no ano de 2018, ambas, editoras universitárias da UFBA e da UNEB,
respectivamente.
O
livro é um trabalho feito após o seu doutoramento pela FLACSO, a Facultad
Latinoamericana de Ciencias Sociales, México. Nele faz uma análise desde a
cultura no nordeste brasileiro, especificamente a partir da etimologia, não no
sentido puramente linguístico, mas cultural e político das palavras Sertão,
semiárido e do processo de mutação política que esses dois termos foram
utilizados, durante a ocupação do território brasileiro aos dias atuais que o
livro é fruto já no século 21. Não apresenta data de elaboração, somente de
publicação que é de 2018. Mas, provavelmente pelas informações colocadas em
todo o texto, nós vamos tendo informações aqui e ali de que ele foi feito já
nesta segunda década do século XXI.
O
índice traz quatro capítulos com títulos bastante sugestivos, principalmente
para um leitor pesquisador professor nascido e residente também neste mesmo
lugar em que a pesquisadora faz suas exposições e análises, a saber, o sertão
culturalmente falando e politicamente também e o semiárido geograficamente
falando
Partindo
da tese de que a expansão da pecuária foi o mote para a dominação dos Sertões
do Brasil aqui entendido como o interior deslocando-se do litoral, quer dizer
saindo do litoral em busca do que se diz em outras plagas, do paraíso perdido
do El dorado, Gislene Moreira traz a tese de que o boi é que movimentava a
economia naqueles tempos. Por exemplo o capítulo 1 intitulado A Farra do
boi: identidade e tradição dos velhos Sertões, o 2, A Morte do boi: modernidade
e transições do Sertão semiárido. O capítulo 3 A Partilha do boi:
inovações da era Lula no semiárido; por fim o capítulo 4, O Boi neon e o
boi roubado: identidades e produção cultural dos Sertões do século XXI.
A
tese central do livro de Gislene como o próprio título sugere é de
transformação aqui eu vou utilizar, o termo Sertão como aquele lugar distante
do litoral que está presente em toda região Nordeste e parte da Sudeste, com o Norte
de Minas Gerai incluído enfim, aquela região que ficou conhecida nacional e
internacionalmente como um lugar que não chove, que não há abundância e etc etc.
Esta afirmativa que faz vai exatamente na linha do que Gislene disserta, que o
sertão é aquele lugar que, desde a nossa colonização aos dias atuais, sofreu
processos de mudanças drásticas e até mesmo radicais, para usar linguagens
muito corriqueiras cotidianas.
Apresentei
esse livro, de modo bastante rápido, no meu minicurso que ministrei
recentemente em evento de Ciências da Linguagem, pela Universidade Federal da
Bahia, o Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da
Cunha. Na oportunidade, a partir da ótica de Euclides sobre o sertão, afirmei
que o próprio autor mudou de ponto de vista político convergindo com a tese de
Gislene, mais de 100 anos depois, de que o sertão nordestino é mutante.
Entretanto
a nossa interlocutora não entende, através de suas teses, que essa mutação seja
“natural”, muito pelo contrário, é política, é racionalizada, pensada. A autora
faz uso de alguns teóricos e conceitos dos quais cito Barbero e a tese da
hibridização cultural.
É
um livro necessário não somente para quem quer pensar o Nordeste brasileiro,
mas a própria condução política desse lugar que ainda viceja por ser Nação. E
mesmo usando de teorias, a leitura é acessível, prazerosa e, o que é mais
importante, esclarecedora, sem radicalismos, mas com objetividade e firmeza.
Mais uma vez afirmo, é uma leitura necessária.
PS. Perdoem a falta de organização das faltas.
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