O texto abaixo concorreu ao Prêmio Paulo Freire promovido pela Universidade Estadual da Bahia, em novembro de 2015 no Encontro do livro e da leitura - ELLUNEB - na categoria Projeto de Leitura, conquistando o segundo lugar. A todos que dele participaram, os meus agradecimentos.
NA
TRILHA D’OS SERTÕES: PELOS CAMINHOS DA LEITURA, NAS ESTRADAS DA VIDAMarcos
José de Souza
Fátima,
Bahia, 2009-2011
INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO
Três
e meia da madrugada. O friozinho do sertão nos acomoda na cama e nos faz
“esquecer” o calor que está por vir assim que ele, o Rei Sol, surgir no atrás
da serra, pros lados de Paripiranga. É junho, mas o desejo é maior que qualquer
possível obstáculo.
Acorda!!!!
Levanta!!!!, professor!!!!, as crianças, já bastante crescidas, o aguardam com
ansiedade e alegria. São 55(cinquenta e cinco)“meninos” e “meninas”
trabalhadores e trabalhadoras, estudantes do 3º ano do Magistério, do querido
Colégio Floriano, do turno noturno, que não hesitaram ao convite do professor
Marcos, chamado já alimentado por algumas leituras no livro didático, filmes
“estranhos” exibidos em sala de aula – nos áureos tempos do vídeo-cassete,
audição de musicas em áudio e ao vivo promovidas pelas cantorias com os
artistas da “terra”, dentre eles, majoritariamente, Vando Reis.
Lá vai o professor naquela madrugada junina do
ano dois mil, para a primeira viagem de turismo pedagógico, com ele mesmo
denominara, para Monte Santo, com as demais já elencadas e pela ordem: Canudos,
Paulo Afonso e Feira de Santana (esta ultima não foi realizada em face de o
final do ano letivo ter nos alcançado e, com ele, a debandada geral dos
estudantes). Usando seu chapéu de palha, sua bolsa a tira-colo e, juntando-se
às demais, a velha e querida máquina fotográfica Kodak com filme de 36 poses,
chega o professor ao local da partida: corre, vai chamar aqueles
preguiçosos!!!! E cadê as bonitinhas, desistiram? Que nada, estão esperando no
trevo. Quantas memórias saborosas,
quentes, apaixonantes, afetivas e carinhosas seriam registradas...Sim,
foram todos e todas juntando-se aos demais, pois muitas e muitas já aguardavam
o professor em frente à budega de seu Profiro.
Lá
foram chegando os herdeiros de Branco de Profiro do Raso (o da budega, é de
Herculano Reis, das Pedrinhas): Vilmário, Maria e Romário, este já levava
Jivanilda, esposa. A mais animada, e mãe de cinco filhos, a Josefa Maria, a
grande Iaiá, chega com o seu primogênito e colega de classe, Rondinele e os
sobrinhos, também colegas, Tiago e Cristiane. A turba vai aumentando. As duplas
de irmãs Rita/Joselita e Lilian(que casou com Robério)/Letícia, as primeiras,
de dona Moça e as segundas, de João de Manum. Mais adiante também se casaram,
mas logo se separaram, Divaldo, o Bolinha e Aline. Também integrou a comitiva,
o dono som, que animou a viagem pagodeando daqui pra e de lá pra cá, o
Clodoaldo, ou simplesmente, Clodo. A Bela, as Márcias, sendo que a Novais nos
deixou para sempre. O Lázaro, o Fabio, a Gildecy, o Gidelmo, as Ana Paula, de
Salvador, o pai e a Ruscioleli, de Antonio Menezes, a Adriana de Derniço, a
Conceição e a Cácia. A Maria São Pedro, conhecida como Marli. As Sandras, a
Josefa e a Bréa. A Eulane, na companhia do ex-aluno e já professor da turma, o
grande José Adelmo, a secretária Elma e o diretor Edmilson com a esposa, Meire.
Em
terras montesantenses fomos recebidos por um sol amigo e a medida que nos
aproximávamos do Piquaraçá, o deslumbre aumentava, com uma brisa generosa, o
que nos ajudou bastante em todo o trajeto. Com ela, veio a neblina, que
provocou até frio em alguns momentos, mas sem anular a paisagem vista em todos
os locais da subida – cada vez mais íngreme. Cada passo as lembranças e
relacionamentos com as cenas vistas nos filmes, em destaque Deus e Diabo na
Terra do Sol, de Glauber Rocha, aumentavam. O encantamento se dava tanto pela
beleza do lugar, quanto pelas correlações feitas com o filme e os textos lidos,
especialmente, os trechos de Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Ajudados
por um guia e integrante da pastoral da juventude, graças ao apoio da aluna
Joselita, já citada neste relato, subimos e descemos o monte piquaraçá,
posteriormente, Monte Santo, após a passagem por aquelas terras, do frade
capuchinho, o Apolônio, de Todi, Itália, que considerou a montanha semelhante
ao calvário por onde andou o Cristo. Erguendo uma capela no alto da montanha
ainda no século XVIII, e as que lá se encontram e organizando o percurso usado
em peregrinações cujo ápice acontece no mês de outubro há mais de 200(duzentos)
anos.
Na
descida fomos presenteados com a visita ao museu do Sertão, na época dirigido
pelo menino que segura o estandarte do líder religioso no filme citado acima,
seu Dedega. Nesse museu há uma réplica do meteorito Bendengó, que pode ser
visto originalmente no Museu de Nacional no Rio de Janeiro. Ainda vimos filmes
sobre a romaria de Monte Santo e outros fenômenos sociais e culturais daquele
universo brasileiro. Aproveitamos o ensejo para revisitarmos o filme Deus e o
Diabo e, por extensão, o livro Os Sertões.
A
segunda viagem ocorreu somente no mês de outubro, poucos dias antes das
eleições municipais, o que provocou o desmonte para a terceira, para Paulo
Afonso (a quarta também não aconteceu conforme informamos no inicio do texto).
Tendo
em vista ser o assunto principal, o Movimento de Canudos e, extensivamente,
Antonio Conselheiro, Euclides da Cunha e o livro Os Sertões, a turma de futuros
professores e professoras foi aumentando a ansiedade e o desejo de pisar o chão
por onde viveu e morreu uma porção considerável de brasileiros e de
brasileiras. As páginas do livro não davam mais conta da curiosidade. As
palavras do professor já não mais os satisfaziam. Desse modo, pé na estrada:
Canudos nos aguarde.
Com
a mesma contribuição da Pastoral da Juventude fizemos uma viagem ainda mais
rica em face de que naquela cidade a presença dos atores do episódio é muito
mais forte e marcante. Em terras canudenses os estudantes sentiram com mais
força a presença do Conselheiro e do seu povo, por extensão, as palavras
escritas, o texto euclidiano.
É
a partir dessa primeira viagem a Canudos que começa a nascer o projeto de
estudo Na Trilha d’Os Sertões. Já a partir do ano seguinte, 2001 iniciamos o
trabalho mais consistente, sempre a partir da união das leituras do livro
vingador, Os Sertões, de Euclides da Cunha e o filme Deus e o Diabo na Terra do
Sol, de Glauber Rocha, incluindo-as como atividades obrigatórias de leitura,
inclusive o filme e os demais que foram sendo incorporados ao longo dos anos.
Destacamos a leitura do filme em face de que insisto com os estudantes que é
necessário ler a película, direcionando, em alguns momentos, o olhar deles e
delas para determinados detalhes da narrativa fílmica, insistindo na tese de
que nada é por acaso, pois em qualquer instante há sempre o olhar, o ponto de
vista de quem dirige o filme. Da mesma forma que o narrador de todo e qualquer
romance, conto, etc. desse modo, vou sempre fazendo a relação entre as
narrativas, em especial, a literária e a fílmica.
Assim,
o projeto veio se configurando como lugar de leitura, politização,
entretenimento e de inclusão social através da leitura, nas palavras do prof.
Dr. Aleilton Fonseca, um dos nossos contribuidores quando por aqui esteve no encerramento da
segunda turma extraescolar do projeto, mais precisamente no pequeno povoado
denominado Tabua, oficialmente, São José do Campo Alegre. Naquela oportunidade
o professor nos apresentou algumas das suas produções, em especial, O Pendulo
de Euclides, o qual foi tornado de leitura obrigatória no curso, tanto na sua
versão escolar, quanto extraescolar.
Desse
modo, ainda restrito ao universo escolar, viemos consolidando as leituras
temáticas que envolviam a atmosfera do Movimento de canudos, literatura,
filmografia e viagens aos palcos daquele fenômeno social até o ano de 2009
quando formamos a primeira das três turmas extraescolares do projeto de estudo
Na Trilha d’Os Sertões.
Na
rede social Facebook há algumas páginas com a expressão Na Trilha d’os Sertões
no celem, feitas pelos estudantes, como atividades avaliativas quando
oferecemos o curso em unidade letiva para as turmas de terceiro ano.
Em
grande parte o surgimento do curso deve-se as nossas intervenções na Rádio
Regional de Cícero Dantas – um dos palcos do Movimento de Canudos – instalada
em um casarão que pertenceu ao Barão de Jeremoabo, também um dos atores
políticos daquele embate, cujo nome da cidade é em sua homenagem. Ali, a radialista
Ângela Santana, juntamente com Paula Andrea e Aline, funcionárias da emissora,
nos incentivou para a criação do curso quando, no programa A Voz do Povo,
abordávamos assuntos de natureza educacional, política e, na maioria das vezes,
literária, com destaque para o livro Os Sertões.
A
partir das intervenções radiofônicas e das contribuições das radialistas,
organizamos o primeiro curso das três versões escolares que ocorreram e mais
duas escolares, sendo a primeira no ano de 2009, a segunda, em 2010, a terceira
em 2011, a quarta em 2013 e a quinta em 2014, respectivamente.
PUBLICO-ALVO
O
curso é destinado a todos e a todas que se interessam por leitura, das mais
variadas faixas etárias, mas o pré-requisito estabelecido é ter em mãos o livro
Os Sertões, de Euclides da Cunha, de qualquer edição.
OBJETIVOS
A
leitura como hábito e prática politica estão no lastro da nossa intenção, cujos
desdobramentos possam ser vistos no cotidiano desses jovens, profissionais
liberais e professores e professoras da Educação Básica da nossa região, qual
seja, a mudança no comportamento político. Pois tendo como germinal de um projeto de disseminação do hábito da leitura,
um livro do valor histórico-social que Os Sertões adquiriu desde a sua
publicação, é nada menos que revolucionária nossa atitude, entretanto fazendo
parte de uma política macro, pois os microcosmos, dos quais nossa prática faz
parte, não darão conta da superação das necessidades e dos obstáculos.
METODOLOGIA
O
curso Na trilha d’Os Sertões acontece com atividades diversificadas sendo,
majoritariamente marcadas por encontros para exposição do conteúdo do livro Os Sertões, seguida de exposição de filmes pertinentes ao tema,
sempre ambas movidas com debates. Ainda realizamos viagens aos palcos do fenômeno, a guerra de Canudos: Monte Santo,
Canudos e o que chamamos de “rota do Conselheiro” – as cidades Cícero Dantas,
Ribeira do Pombal, Cipó, Nova Soure, Crisópolis e Itapicuru.
No
primeiro dia de encontro do curso apresentamos o roteiro com a indicação das
atividades indicadas acima, ficando as viagens e a exibição dos filmes,
distribuídas a cada dia de discussão de uma parte do livro, que é desenvolvida
da seguinte maneira – entretanto, o curta-metragem, Na Terra do Sol, de Lula
Oliveira é exibido, tendo em vista tanto pelo caráter estético, quanto pelo
literário, pois o diretor ressignifica a cena final dos combates em Canudos:
O
cursista, já de posse do livro Os sertões, tem uma parte orientada pelo
professor a qual deve ser lida em casa. No 2º encontro o professor leva um
roteiro de leitura daquele trecho indicado e previamente lido pelo cursista. Dinâmica
recorrente em quase todos eles, modificada somente para a exibição de algum
longa-metragem ou viagem, exceto em dias de encontro para as viagens. Para esta
atividade são orientadas algumas observações do próprio local visitado,
proporcionando ao cursista o direcionamento do seu olhar frente a um mundo
visto nas telas e no livro Os Sertões. Em todas ocasiões há sempre um convidado
que versa sobre algum assunto pertinente proferindo uma palestra, momento em
que são entregues os certificados de participação cuja frequência mínima é de
75 %. Outro diferencial é que o cursista faz algum trabalho para ser entregue
ao final ou durante a realização do curso, ou apresenta um trabalho a título de
encerramento das atividades.
As
partes do livro são as seguintes:
1. A
Terra – a parte inteira
2. O
Homem – a parte inteira
3.
A Luta - PRELIMINARES
4. A
Luta - TRAVESSIA DO CAMBAIO
5. A
Luta – Quarta expedição primeira parte
6. A
Luta – Quarta expedição segunda parte
7. A
Luta – Nova fase da luta
8. Últimos
dias
Os
roteiros de leitura são redigidos e confeccionados pelo professor, a nível de
síntese, com inserções de citações do original e entregue uma cópia a cada
cursista . Estas citações são escolhidas em face da carga estética que o autor
empregou como, por exemplo, o item Higrometros
singulares, cuja descrição de um soldado morto e o título dado revelam a
capacidade criativa, poética, de Euclides da Cunha.
Assim
vamos chamando a atenção do cursista para os detalhes da grande obra. Ali
adiante chamamos a atenção para o uso recorrente do gerúndio em A procissão dos jiraus, em outro
instante já fazemos uma leitura paralela entre as linguagens utilizadas no
curso, a literária e fílmica, sempre ressaltando a diferença de abordagem entre
uma e outra, isto é, destaco o olhar de cada um e o modo de construção
peculiar, tanto do escritor, quanto do cineasta.
O
curso NA TRILHA D’OS SERTÕES aconteceu em 05(cinco) edições:
1. Município
de Cícero Dantas-Ba – 20(vinte) pessoas das mais variadas atuações na
sociedade, incluindo 03(três) radialistas e um contabilista; ano – 2009
2. Município
de Fátima, povoado Tabua-Ba – 40(quarenta) pessoas, cujo predomínio era de
jovens e ex-alunos do professor coordenador do curso; ano - 2010
3. Município
de Cícero Dantas-Ba - 10(dez) pessoas, todas professoras da Rede Municipal. Ano
- 2011
4. Município
de São Cristóvão-Se, U. F. de Sergipe - 40(quarenta) pessoas, estudantes da
instituição e da comunidade do entorno dela. Ano – 2015 (projeto em elaboração
para ser apresentado)
Nos
anos de 2013 e 2014 o curso foi ofertado no Colégio Estadual Luís Eduardo
Magalhães, Fátima-Ba, como Estudo temático nas disciplinas Língua Portuguesa e
Literatura Brasileira e Redação, durante a III Unidade letiva de cada ano
indicado acima. O diferencial em termos de leitura da versão escolar para a
extraescolar, é que na segunda lemos na totalidade os livros OS SERTÕES, de E.
da Cunha e O PENDULO DE EUCLIDES, de Aleilton Fonseca. Esta exclusividade
deve-se ao fato de que na escola os estudantes se deparam com um numero muito
maior de atividades, devido à quantidade de matérias escolares.
RESULTADOS OBTIDOS
Para
este momento do nosso relato quero destacar a participação dos cursistas e de
profissionais da área artística que viram de perto o nosso trabalho, exibindo
suas observações pós curso, entendendo, desse modo que os resultados são,
exatamente, a capacidade/potencialidade que o curso desenvolveu nos
participantes no que tange ao olhar renovado frente ao texto literário. Na
instigação para ir além do visto, mas não percebido nas linhas e,
principalmente nas entrelinhas. Em outras palavras, ressignifica o ato de ler:
seja esse ato estético ou político que o texto carrega e nos é apresentado.
Fruto do nosso primeiro
curso, valemo-nos das palavras da cursista, Aline Santos que conseguiu traduzir
o “resultado” em poesia: “A Literatura escancara os escândalos sociais,
mergulhada na sutileza, sendo empreendida no patamar local e global, já que ela
enquanto linguagem movimenta a atmosfera terrestre, fazendo do imenso cosmo,
uma minúscula partícula universal, encontradas em cada ser humano com olhar
caleidoscópico.
Falar acerca da literatura de Os Sertões é tatear com a língua o
que a literatura só permite sentir. Uma vez emersa no fazer literário desta
obra é possível vislumbrar sensações: a pele muda de cor, pois impossível não
sentir a aspereza do “soli” nordestino. Os cabelos tornam-se ásperos, uma vez
que a poeira marcada pela seca não permite a leveza. A fala entrelaça-se com a
língua e com o marejar dos olhos. Assim, escreve no solo gentil o nome de um
desconhecido.
Tudo muda: corpo, alma e mente. Real
e surreal, mas em que acreditar? Para aqueles que acreditam em imagens Os Sertões cria as mais nítidas
figuras, homens e mulheres destorcidos pela fé, cujo nome é substituído por uma
crença, uma fuga da realidade. Assim, todos se tornam guerreiros, anônimos
guerreiros conselheiros.
Embevecidos, uma voz ecoa, para mais
uma vez ratificar através da escrita de Euclides “O SERTANEJO É ANTES DE TUDO
UM FORTE”
Tais percepções foram possíveis
através de uma leitura detalhada de Os Sertões, mediante uma metodologia eficaz
do professor coordenador Marcos, em a TRILHA DOS SERTÕES. Que trouxe para nós a
experiência de conhecer uma obra de suma importância da literatura brasileira,
quiçá um marco histórico na vida do sertanejo.”
Já
tendo feito referencia acima do professor Aleilton
Fonseca, reitero a sua aproximação com o nosso trabalho quando aqui esteve
no encerramento da segunda edição do curso, no povoado Tabua, zona rural do
município de Fátima-Bahia. Docente da Universidade Estadual de Feira de Santana
e membro da Academia de Letras da Bahia, afirmou que o nosso trabalho, antes de
ser uma atividade de literatura, é uma ação de inclusão social, em face dos
sonhos e das perspectivas que o curso gera nas mentes dos jovens que ali
passaram durante os 03(três) meses de duração das atividades. O depoimento do
prof. pode ser conferido em álbum do nosso perfil na rede social Facebook.
O
depoimento seguinte é do poeta, hoje estudante universitário, Diego Oliver:
“... participei do grupo de leitura organizado pelo professor Marcos José
espaço Na Trilha D’Os Sertões que teve como principal norteador o livro Os
Sertões de Euclides da Cunha. Os encontros eram realizados numa comunidade da
cidade de Fatima na Bahia. O combinado era que lêssemos os capítulos a serem
discutidos previamente para discutirmos em grupo. De maneira calma e
descontraída os encontros me deixavam cada vez mais interessado em continuar as
leituras que me encantava cada vez mais a cada página, logo me vi buscando
outras fontes de leitura que pudessem me dar suporte nas discussões.
Juntamente com as leituras e discussões acerca do livro trazíamos para os
encontros assuntos referentes à nossa cultura sertaneja que afinal era
retratada no livro em questão e também questões referentes à educação no Brasil
e a prática leitora. Participar desse projeto mudou de forma significativa
minha forma de olhar o mundo e a valorizar minhas raízes culturais e adquirir
uma prática mais assídua e consciente de leitura, o contato com o livro Os
Sertões e a experiência de ouvir e ler relatos sobra a Guerra de Canudos e as
diferentes opiniões sobre o tema me fizeram olhar de forma analítica os fatos
que ocorreram na nossa história, e reconhecer o importante papel da educação
como veículo de aquisição de cultura.”
Em
outra edição esteve conosco, em trabalho de pesquisa, o cineasta e
documentarista Elson Rosário, cujas
palavras e imagens tivemos como registrar. Eis o que ele nos diz e em fotos, a
atuação dele registrando nossa atividade:
Depoimento do cineasta Elson Rosário
Ao tomar conhecimento do projeto “Na Trilha d’Os Sertões” constatei o
quanto seria importante e necessário a realização do seu registro audiovisual
no formato documental possibilitando ampliar o alcance de um trabalho de tal
envergadura realizado em escola pública no semiárido baiano ambiente carente de
recursos financeiros e tecnológicos.
Na pesquisa exploratória visando a estruturação do nosso documentário
fui impactado pelo desempenho e postura do professor em capacitar os
participantes por meio de uma visão crítica, política e emancipatória que
estimula a criação e organização de novas histórias e relatos inspirados pela
leitura da obra literária “Os Sertões” de Euclides da Cunha. A iniciativa do
professor Marcos José de Souza consolida-se como pioneira naquele ambiente, a
qual busca o esclarecimento do povo, tendo o adolescente/jovem como
protagonista, de um fenômeno histórico ainda muito pouco conhecido da sociedade
brasileira.
Acredito que, no contexto da aplicação prática de uma política
cultural da leitura, o esforço pedagógico desenvolvido pelo professor Marcos
José de Souza é importante e necessário para a comunidade ao permitir que
estudantes, adolescentes e jovens entrem em contato direto com um fenômeno
histórico-político-social de relevância para a afirmação da identidade do povo
brasileiro.
Elson Rosário, cineasta.
Referencias
CUNHA,
Euclides da. Os sertões. São Paulo:Nova Cultural. 2003.
FONSECA,
Aleilton. O pendulo de Euclides. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil. 2009.
OLAVO,
Antonio. Paixão e guerra no sertão de Canudos.
OLIVEIRA,
L. Na Terra do Sol. Curta-metragem.
PRONZATO,
C. Canudos – numa longa curva. Curta-metragem.
PRONZATO,
C.A Bahia de Euclides da Cunha.Média-metragem.
PRONZATO,
C.Calazans – o tradutor dos sertões.Média-metragem.
REZENDE,
Sergio. Canudos. 1997
ROCHA,
G. Deus e Diabo na Terra do Sol.1964
SAMPAIO,
C. N.(org.) Canudos - Cartas para o Barão. São Paulo:Edusp; São Paulo:IOESP.
1999.