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A
Representação do Nordeste no Cinema: dialogando com 03 produções fílmicas
Partindo...sim,
partindo de um lugar para algum lugar, a pé ou de caminhão, de carro (o
carnaval não vai passar, mas a paisagem natural, cultural, social, econômica e
humana, sim) pela Região Nordeste do Brasil, em particular o seu, o nosso
sertão, em Trânsito; Muderno; Líquido; Sujeito e Estético, temos algumas
das possibilidades representacionais dessa Região do Brasil.
Ao
rever 03(três) produções cinematográficas que trazem o sertão da região Nordeste
do Brasil como locus de realização de uma trama, dentre vários outros já
feitos, Vidas Secas; Cinema, Aspirinas e Urubus e Árido Movie
(elencados, vistos e discutidos nessa ordem), necessariamente não mais
vislumbramos uma extensão geográfica, mas um universo.
Mas
eles não são os mesmos, aliás, são díspares e tanto eles, quanto o próprio
sertão, apresentam características próprias, mesmo que interdependentes, como
Cavalcanti, em dissertação produzida na UNICAMP em 2010, aponta 05(cinco)
sertões, conforme destaco no parágrafo de abertura, contradigo-me ao afirmar
que todas elas, as características estão postas em todos os eles: filmes e
sertões.
Em
Vidas Secas, de Nelson Pereira do Santos, temos uma família que vive um
ciclo e em círculo na busca de sua permanência. Eles fazem parte do habitat,
portanto não há vida deles fora daquela vida, a saber, um homem adulto,
Fabiano, uma mulher adulta, Sinha Vitória, um menino mais velho, outro menino
mais novo, uma cachorra – até um papagaio. Mas como eles são humanos, dois
deles vislumbram outras possibilidades de vida, entretanto...elas não chegam. E
da família, dos seus componentes, não sabemos para onde foram em suas novas
jornadas, a pé, uns em deslocamento geográfico, outros também em trânsito
pessoal. Em preto e branco, por isso e apesar disso, a película nos faz ver e
sentir o sol em sua majestade, tornando os humanos e a paisagem, meros dependentes
e escravos dele, o Rei Sol. O filme é uma leitura do livro de mesmo nome do
escritor Graciliano Ramos.
Um
caminhão cruzando as estradas da caatinga, ao som de Serra da Boa Esperança... na
boleia e condução, um alemão fugindo da Segunda Grande Guerra: na carroceria
-caminhão baú, aspirinas, a salvação contra as dores. Do lado de fora, gente
que vive – fora do mapa, outras poucas querendo nele entrar. Quem entra – na
boleia - e permanece?, Ranulpho. Ambos buscam novos horizontes, enquanto um
quer subir o mapa, depois é forçado a esse deslocamento rumo ainda mais ao
Norte, o outro, quer descer, ir para onde veio, já no Brasil, o alemão. Não
sabemos se chegaram aos seus “destinos”, somente sabemos que partiram. Acompanhando
e permanecendo, continua o Rei Sol, o mesmo de Vidas Secas. Eis o que nos
apresentam “os” Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.
E
agora, por que vou? O homem do tempo, é surpreendido, sem tempo de reação! Muda-se
a paisagem cultural, social, econômica e natural.
Após
o assassinato do próprio pai, o dito protagonista do filme Árido Movie é
impelido a retornar à sua cidade natal. Mas sua vida não mais o pertence, há um
novo universo em Rocha, há uma nova teia de relações que transformaram a aridez
daquele ambiente não mais natural, em um barril de pólvora. A plantação e o
tráfico de maconha, e ainda o jogo do bicho, ocupam e mandam nos espaços,
destruindo a população nativa, ainda sob a égide da religiosidade e dos bons
costumes. Ditam as regras. Continuam fornecendo matéria-prima para as grandes
cidades, incluindo, dessa vez, a maconha.
E
continua o sertão, árido, mas em movimento. Em transe contínuo. Mesmo com o
elefante e o cachorro de pedra, mesmo com a falta d’água, na superfície, mesmo a
vida pacata, mas com os homicídios e genocídios...é verdadeiramente um filme
árido, em movimento.
Consideramos,
a partir do exposto, a existência dos sertões, e de outros sertões, e nos
reportando mais uma vez a Cavalcanti (2010), nomeados como Sertões
Autóctones, desta feita correlacionando, de forma simples e direta, os
filmes aos sertões por ele nomeados, ressaltando que todos os Sertões estão
presentes nos 03(três) filmes, mas com destaque hegemônico e particular do
nosso olhar:
O
Sertão em Trânsito é representado pelo filme Cinema, Aspirinas e Urubus
tendo em vista a permanência dos personagens principais na boleia do caminhão
na totalidade da narrativa sempre em deslocamento geográfico e pessoal; o Sertão
Muderno é representado por Árido Movie com a sua nova configuração social e
econômica; o Sertão Sujeito, isto é, o lugar é pêndulo, é o timão, é a
tela natural onde a paisagem se configura e se afirma (aqui há uma clara diferença
da nossa visão ao do autor dos sertões autóctones sobre esse tipo de sertão, o
que é visto em Vidas Secas).
Enquanto
isso...que não é na sala de Justiça, os outros Sertões pertencem aos
três filmes, concomitantemente, a saber: o Sertão Líquido, tendo em
vista as alterações, ou na paisagem, ou individuo, ou nas relações econômicas,
sociais e culturais e, por fim, o mais pertinente ao fazer artístico, o Sertão
Estético, o modo como cada cineasta e equipe enxergam e vislumbram o
ambiente e o tecido social. Vale ressaltar que esse olhar é de dentro, isto é,
em Cinema, Aspirinas e Urubus e Árido Movie, enquanto que em Vidas Secas, é de
fora, mas todos, de dentro do Brasil.
Nossa
ideia de movimento, de deslocamento dos personagens em dada película não se
restringe ao uso do veículo, mas também ao pessoal, aquele em que o personagem “sai
de si”.
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