Cinema como construção da História a contrapelo? Crônicas históricas da escravidão no Brasil por Cacá Diegues
Nesta última semana nos voltamos
para um episódio, longo episódio da História do Brasil, a escravidão de povos
africanos. Apesar da temática, as narrativas trouxeram momentos de luta pela
liberdade, de organização popular, de resistência e de capacidade tanto de
sobrevivência, quanto de luta e principalmente, capacidade de vivência.
Nosso desafio posterior
ao debate, que foi alimentado pelos filmes Ganga Zumba, Xica da Silva e
Quilombo, todos de Cacá Diegues, por textos sobre os filmes e um texto teórico
sobre História e Conhecimento Histórico, foi o de pensar em que medida esses
filmes podem oportunizar um debate contemporâneo, historicamente falando.
O presente registro das
nossas impressões dar-se-á somente com a tentativa de fomentar leituras e análises
das teses formuladas por Walter Benjamim, em seu texto Sobre o conceito de
História, o qual é estruturado em teses pequenas, registradas aqui somente
aquelas indicadas por nosso professor da disciplina, dentre as quais acrescento
somente uma, a de número 12.
T6 - A existência da
tradição – por que ela existe em nossa Nação? A escravidão e seu reflexo com a
divisão social ainda presente no cotidiano brasileiro.
T7 – Rever a História, um
dado momento histórico, é preciso esquecer a posterioridade desse dado instante
e rever o contrário do que o discurso oficial estabeleceu, por isso Palmares,
como representante maior da luta e da vida do povo negro brasileiro, é outro
com Cacá Diegues, nos dá outra perspectiva de representação.
T8 – O conhecimento
histórico e o acontecimento são a regra. Os filmes de Cacá Diegues, mesmo sendo
uma obra de arte, isto é, saber humano muito mais suscetível ao olhar/ao pensar
de quem o faz e ser carregado do elemento poético na sua elaboração, nos revela
que há outras regras possíveis para o conhecimento histórico e para a História.
Dentre os filmes destaco nesta tese Xica da Silva, produzido em plena Ditadura
civil-militar, no qual a narrativa nos traz uma escrava dotada de coragem para
falar, para ser e agir como uma afro-brasileira, no sentido mais amplo desta
palavra.
T9 – Estamos condenados à
Civilização. Essa é a máxima com a qual Euclides da Cunha, em Os Sertões,
impunha à catástrofe anunciada para e pelo século XX. A tempestade “natural”
impulsiona o progresso que destroi a História, isto é, a própria Humanidade e
dela não podemos escapar.
T12 – O que a História e
o conhecimento histórico permitem a longa vida, a posteridade, é aquilo e
aquele que não possibilita a subversão, a derrubada/tomada do poder. Desse modo
Cacá Diegues nos alenta que outros líderes, outro locus (e outros locais)
de resistência, de luta e de liberdade existiram com feições próprias, ou de
modo mais amplo, com sua própria cultura.
T13 - Assim como estamos
condenados à Civilização, vide T9, temos o Progresso como entidade autônoma,
substantiva e necessária, mas Humanidade e Progresso não podem se dissociar
como querem os social-democratas, como vê-se em Quilombo, e antes em Ganga
Zumba, nos quais as transformações, para melhor, na vida, era restrita a uma
ínfima parcela da população.
T17 –O Historicismo não
dialoga, não analisa, não subverte, não confronta o conhecimento histórico.
Entretanto o conhecimento histórico e a História são germinais. A vida e o
tempo nos legam novas possibilidades de conhecimento e de existência.
Carissimo amigo Marcos,embora com muitos limitantes nessa área me arrisco aqui fazer a minha pequena contribuição a respeito da importância do cinema barasileiro representando a historia da escravidão.Compondo um pouco do que aprendi nas leituras com os trechos dos filmes, me arrisco a dizer que o cinema exerce grande importância quando falamos de escravidão principalmente pelo fato resagtar a historia e a grandeza dos detalhes que é possivel trazer.Fiz uma analise sintetica que me fez chegar a conclusao que ambos mostram de forma muito rica a vida sub-humana a que todos formam submetidos,as dificuldades,preconceitos,distinção enfim a escravidão propriamente dita.
ResponderExcluirObrigado, Claudio, pela contribuição no e ao debate. Sigamos.
ExcluirLendo o seu texto, lembrei-me de uma conversa de boteco (no sentido literal da expressão) que outrora tivemos. A temática me parece ter sido sobre até onde a narrativa servia como fonte história. Concordamos e discordamos. Hoje, penso compreender o valor desta fonte histórica, mesmo guardando as mesmas ressalvas feita naquela ocasião e pelos mesmo motivos. No caso da obra cinematográfica referendada, tenho a impressão de que a regra continua a se aplicar, uma vez que é esta um ponto de vista, uma versão dos fatos pensada e produzida por alguém, carregada com o seu arcabouço ideológico. Assim, no que tange ao seu uso enquanto fonte para quem deseja estudar e/ou contar história, penso ser perfeitamente possível. Nesse momento, sou levado aquilo o que acredito ser o nosso principal ponto de discordância que convergem para a mesma estrada esburacada. Explico. Para mim, se faz sempre necessário expor a necessidade do cuidado com o trado das fontes, sejam eles de uma natureza ou de outra, o que me torna um tanto chato e repetitivo; para você, ao menos é essa a impressão que tenho sempre que conversamos, as fontes devem ser oferecidas e tudo aquilo o que for produzido através delas é válido. Esses caminhos, como disse acima, nos levam, basicamente ao mesmo resultado. A produção do conhecimento e o estímulo à sua busca.
ResponderExcluirObrigado, Moisés! É por aí, há fontes, elas estão aí. NO caso do Cinema e seu filme histórico, teoricamente existem as possibilidades de Filme como Agente histórico, quando a película engendra a atitude no indivíduo para a ação; o Filme como Fonte Histórica, já delineada por você e por fim, o Filme como Representação Histórica que cria um ambiente semelhante ao fenômeno ou período histórico, mas sem perder de vista a perspectiva de ser uma obra de ficção.
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