ver para enxergar - ou seria o contrário?, enxergar para ver?
Inicio meu texto informando que ele foi produzido tão logo acabei de ver o filme Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho, 2001, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4F87sHz6y4s&t=2s&ab_channel=Mir%C3%A1Filmes, produzido pela Copacabana filmes e produções, Ravina filmes e e Dueto filmes, acessado na noite de hoje, noite em que produzo esse brevíssimo ensaio/comentário. Portanto é um texto produzido no calor da hora e, com os riscos de esquecer de muitos dos detalhes e dos/das participantes, mas assim o quis fazer.
O filme é um mosaico de depoimentos
que versam sobre o papel fundamental e profícuo da ausência da visão promovida
pelos olhos, isso mesmo que você leu, o filme traz em seu cerne, em suas
imagens, falas e cenas, a vantagem de não vermos, uma vez que já diz o velho
dito popular, o essencial é invisível aos olhos. Hoje tive mais uma vez essa comprovação
ao ver (ou rever?), Janela da Alma. Viram a minha dúvida? Vi, mas não
mais sei se o vi. Por que será que tenho essa dúvida?
Sei que nos áureos tempos da
TV BRASIL, denominada a tevê do Lula, vi em diversos programas, bons programas
por sinal, reportagens sobre esse filme, disso tenho certeza, viram agora a
minha certeza? Por que será que tenho esta convicção de ter visto reportagens
sobre o próprio, mas nenhuma se vi o próprio filme? Somente vendo Janela da
Alma para sabermos porque aqueles que não enxergam, com os olhos, afirmam
que não precisam dos olhos para ver. E por que não termos certeza de termos
visto algo mesmo sendo dotados da visão, isto é, de “enxergarmos com os olhos?”
Com depoimentos de gente como
José Saramago, que dentre várias pérolas ditas (esta não me fugiu à memória):
estamos vivendo a caverna de Platão nos tempos atuais, o filme é de 2001,
portanto lançado há 19 anos e, continua o escritor português, viveremos ainda
mais esta caverna, mais adiante, afinal tudo é propaganda, tudo nos envolve
para um mundo que não nos pertence, que não é o mundo que imaginamos ser. Fiquei
perplexo com mais essa do gênio portuga. Dona Isabel de seu Porfírio adorava
essa palavra “perplexo” e eu amava essa paixão dela.
Mas temos muito mais: Manuel
de Barros, que com sua verve cômica, solta uma das dele; os cineastas Wim Wenders
e Agnes Varda -que contam histórias belíssimas, destaco aqui a dele: que até as
crianças ao pedirem que os contem uma história, estão, na verdade, querendo outro
mundo. O poeta Antonio Cícero, a atriz Marieta Severo. Outros que não consegui
memorizar o nome dão testemunhos maravilhosos, daqueles que nos deixam, mais
uma vez: perplexos, ou como se diz no sertão: de “bocaberta”, “bêstas”....
Por fim destaco a primorosa
presença do panmúsico Hermeto Pascoal, do qual dentre as pérolas, destaco a seguinte:
ouvimos pela nuca e enxergamos pela testa, em um ponto entre os olhos e acima
um pouco deste, centralizadamente.
Quanto a algumas imagens, elas
são muito coloridas e se mexem feito uma cortina que foi balançada de leve;
entre um quadro e outro, a tela fica escura para que, aos poucos, as cores
comecem a aparecer, com pontos luminosos, numa tentativa de se aproximar ao que
dizem aqueles e aquelas que não enxergam conseguem “ver”. Atentem para os detalhes
dos locais onde cada um/uma fala, o som que aparece, desde a música a um ruído
qualquer!
Janela da Alma é um
filme que deve ser visto, várias vezes, inclusive com a tela escura em uma das sessões;
em grupo e isoladamente; e ainda em uma das exibições, serem anotadas as máximas
filosóficas ditas pelos participantes com seus testemunhos abissais!!!! Não deixem
de ver! Todos e todas – sem distinção.
diretor Walter Carvalho
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