sábado, 20 de outubro de 2018


Educação de tempo integral, pacto para o fortalecimento do ensino médio, reforma curricular para o ensino médio: temas ricos, pouco trabalhados. Mas há uma luz acesa!!!!


Há tempo, principalmente nos últimos 05(cinco) anos viemos acompanhando, de modo indireto, isto é, sem adentrar no debate, várias inferências sobre o ensino médio, dentre eles, o ENEM, a demanda – jovem trabalhador, não-trabalhador, das pequenas, medias e grandes cidades, da zonas centrais e periféricas, da zona urbana e da zona rural, da rede pública e da rede privada – o currículo – educação de tempo integral e o que estudar e como estudar.
É a partir deste ultimo aspecto – o que e como estudar no ensino médio, o currículo - que declinaremos neste momento, que deveria ter saído em janeiro, conforme tarefa auto-imposta, a saber, um texto sobre educação a cada 30(trinta) dias, ao menos, durante o ano de 2015, tendo seu início sequencial em dezembro de 2014.
Estando no Ensino Médio desde o ano de 1997 e exclusivamente nele desde 2001, sempre nos inquietamos com o comportamento dos estudantes, jovens, na sua quase totalidade, na faixa etária dos 15 aos 17 anos, portanto, uma fase da vida de início de consolidação dos mais variados conceitos, morais, sócias, intelectuais, políticos, desse modo, gente que pensa e tem opinião, por mais que nós professores e professoras, entendamos que são SOMENTE adolescentes e jovens. Foi a partir desse itinerário de confrontação – mundo adulto, diplomado e mundo juvenil sempre ansioso por mudanças – que viemos construindo um novo olhar sobre o que e como ensinar no ensino médio: a proposta de um currículo por temas, isto é, no lugar das disciplinas, teríamos cursos variados, tendo por base o conteúdo daquelas matérias de ensino e os conhecimentos obrigatórios para este nível de ensino, traduzidos na legislação por competências e habilidades.
I - Para ilustrar essa ideia passo a expor uma leitura que fiz do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, publicado em 1995, pela editora Globo, São Paulo. O exemplar que li está na 45ª edição. O livro trata, sinteticamente falando, da “aventura” de 07(sete) cadáveres que decidem protestar contra o atraso nos próprios sepultamentos. Esse atraso dá-se por conta da luta dos trabalhadores da cidade de Antares, cidade onde ocorrem as ações da narrativa. Escolhi o capítulo LXXVI para trazer à tona algumas possibilidades do que denominei de estudo por temas, no lugar das convencionais disciplinas. Após essa exposição, delinearei outra atividade, esta já aplicada na escola onde trabalhamos, bem como minha sugestão de alteração curricular, esta ideia foi indicada no plano de ação, que pode ser total ou parcial no ano letivo.

Por ora vamos ao trecho do livro aludido acima:
O diálogo “invocado” por dona Valentina(esposa do juiz Dr. Quintiliano do Vale) apresenta os sinais de liberdade feminina, quando: ela acende um cigarro na presença do marido, que sabe do vício, mas não permite ação na presença dele; o ato de “modificar”  o acontecimento – a ressureição dos sete antarenses – em um conto de fadas (sobre essa iniciativa de dona Valentina o narrador não nos diz nada sobre como ela fez a mudança de um fato real – na narrativa, mas surreal para os leitores) e, por fim, quando surpreende o marido dizendo que ela não é uma dama, conforme a justiça entende, ao tempo em que convida-o para se despirem das máscaras usadas cotidianamente e assim falarem a verdade, um para o outro, como dois seres humanos normais.

Destaco ainda o conceito que ela dá para Justiça, a área de trabalho do marido, chamando de janela que abre e fecha de acordo com as conveniências do transcurso de um assunto ou episódio real. Isto é, se ele, o juiz, concorda, a janela do diálogo é aberta, se ele discorda, a janela é fechada.
O idioma francês como símbolo de intelectualidade e de modernidade ou ainda de elitismo, mesmo já perdendo espaço para o idioma inglês, é outro elemento informativo que o romance revela, significando, sociológica e politicamente, o poder político-ideológico que eles, os idiomas estrangeiros e de potências econômicas e militares, exercem em um país “sem comando”, ou até mesmo subserviente a essas nações.

O trecho a seguir traz uma visão panorâmica da obra, sem deixar de sugerir um posicionamento do autor desse texto:

O romance é um manifesto à liberdade, uma denúncia sobre os modos de ocupação de terras devolutas – e do modo como nasceram muitos latifundiários no Brasil – e à formação de muitas famílias tradicionais que ocuparam e ainda ocupam o poder econômico e politico em terras brasilianas, ao tempo em exibe também o cotidiano desses núcleos sociais.

O livro é volumoso, mas nem por isso, cansativo. Apresenta diálogos e narrativas irônicas, bem ao gosto do jovem e do adolescente, carregados de humor e de muita informação. É uma obra literária completa: DIVERTE, ENREDA, INFORMA. É um texto necessário ao estudante do ensino médio, aos curiosos, às curiosas, a quem se dedica a conhecer a sociedade brasileira, mesmo tendo sido o Rio Grande  do Sul, usado como palco por um dos mestres dos pampas gaúchos, o grande Érico Veríssimo.

O curso no ensino médio, tendo por base o livro INCIDENTE EM ANTARES, como pude relatar nesse pequeno texto, traz elementos da arte literária, história, política, geografia, religião, biologia, química, tendo a língua portuguesa como idioma em que foi escrito, entre outras disciplinas que os profissionais da educação possam enxergar. De posse do livro, a leitura cotidiana e extra-classe  será o objeto principal de estudo e o total de horas destinado ao curso, deve ser definido ainda na preparação do ano letivo e, em conjunto com outros temas de cursos, o horário da turma/classe será preenchido observando-se as determinações, critérios, princípios, carga horária e outros que a legislação estabelece.

II - Outros temas para cursos já foram expostos onde trabalho como, por exemplo, O FUNCIONAMENTO DA CASA DE FARINHA, O BIOMA CAATINGA, AS FESTAS POPULARES, entre outros, cujo desenvolvimento contempla os conhecimentos estabelecidos por lei.
Como afirmei anteriormente nesse texto, uma proposta de ensino por temas foi sugerida em nossa preparação do ano letivo o qual passo a delinear a seguir em duas possibilidades:
A primeira é a de inclusão paulatinamente e consecutiva, isto é, neste ano de 2015 os novos estudantes teriam à sua disposição os cursos temáticos para sua livre matrícula. Porém, em caso de excesso de solicitações para determinado curso, o professor/a professora responsável fará uma seleção e, assim, teria o seu quantitativo máximo de estudantes matriculados. Em 2016 e 2017, teremos, assim as turmas de 1ª e de 2ª série em novo formato. Observando o detalhe que os jovens não estariam vinculados à sua classe de origem, pois eles estarão livres para matricularem-se em cursos diferentes, assim um rapaz de 17 anos, em 2017, poderá fazer um curso, por exemplo, Na Trilha d’Os sertões, com um alguém que esteja recém-saindo do Ensino Fundamental, com 15 anos de idade.
Para formar a quantidade de horas letivas, os estudantes serão matriculados em outros cujas vagas existem a fim de garantir a carga-horária mínima tanto do ano letivo, quanto do nível de ensino.
Entendo que desse modo o estudante terá mais prazer em estudar, pois  não teria o desconforto de ler um romance, calcular o valor de seno, tangente, as guerras púnicas, etc, etc, etc, isto é, temas inerentes às disciplinas que compõem o quadro curricular do ensino médio.

A segunda possibilidade é a da oferta concomitante, isto é, os estudantes fariam a sua opção no 1º ano de ingresso no ensino médio: ingressar nos cursos temáticos ou na 1ª série por disciplinas. Não uso propositalmente para esta segunda opção o termo “regular” por entender que sendo aceito o ensino do currículo por temas, este também passa a ser regular. Um detalhe importante: não pode haver mudança de matrícula em meio ao percurso, uma vez matriculado em uma das opções, deverá o estudante ir até o final dela, pois a diferença de nomenclatura e a quantidade entre si, será muito grande.
Por fim descrevo em linhas gerais o que denominei de CINEMA NA ESCOLA. Trata-se de uma semana de aula que consiste em exibir o mesmo filme em todas as salas de aula, ao mesmo tempo. São 05(cinco) filmes para a semana, denominada de SEMANA TEMÁTICA, um filme para cada dia. As primeiras sequências foram escolhidas pelos professores, ainda no ano de 2009, as demais foram indicadas pelos estudantes, sempre abordando o mesmo tema e tendo o cinema nacional como lugar de destaque, isto é, a maioria deles é de filmes brasileiros.
Como um dia de aula qualquer, o sinal é acionado e todos os estudantes se dirigem para as suas salas. Há um pequeno intervalo durante a exibição e ao final dele, a merenda é fornecida. Após a degustação, todos e todas voltam para a classe e o debate sobre o filme é iniciado. A critério do professor/da professora, alguma atividade é solicitada após o debate ou até mesmo, alguma pergunta, sobre qualquer um dos filmes é solicitada em prova escrita, independentemente da disciplina.
Após esse itinerário espero ter contribuído para a reflexão e o debate deste nível de ensino há tempos carente de profundas mudanças, em particular, no atendimento aos seus principais atores, os estudantes, no que diz respeito ao ouvir o que eles e elas querem vivenciar, ouvir, falar, conflitar, produzir, socializar, aprender...
Em dia de chuva com muito calor abafado, nuvens carregadas e a perspectiva de muita chuva para o sertão mocoense (ou seria montealvernense?)
 Fátima, 24 de fevereiro de 2015.
 

Esta é a capa do exemplar utilizado pelo autor do texto.


 
Nesta foto vê-se a edição do livro utilizado, bem como sua edição e editora e, principalmente, sua autoria.


Nesta foto temos o capítulo onde é iniciada a “saga” da revolta dos mortos antarenses.

Esta foto mostra a continuação do capítulo indicado na página anterior.
Esse trabalho fora anteriormente publicado no blogdolandis, de responsabilidade do professor Landisvalth Lima,da cidade de Heliópolis - Bahia.


Mais uma vez retorno com minhas postagens, tanto para dar vida a esse veículo, quanto para socializar minhas produções nesse tempo de produção em série que a Universidade Brasileira vem se comportando (vale e sabe quem produz e publica em revista acadêmica e tem seu currículo lattes acumulado de produções , isto mesmo,é acumulação). Como sou avesso a esse tipo de comportamento, resolvi alimentar meu blog, que é nosso, com minhas produções, mesmo tendo a intenção de retornar à academia e fazer meu Doutoramento.
Abaixo dois pequenos trabalhos que fiz durante esta minha segunda graduação, em Letras Vernáculas,  pela Universidade Federal de Sergipe, na modalidade à distância. uma dívida pessoal recentemente paga (fui diplomado no mês de junho deste ano). Isso mesmo, apesar de já ter consolidado minha carreira profissional como professor de Língua Portuguesa, eu não era diplomado.

Em outro momento postarei outros textos frutos dos trabalhos


Conceito de Literatura. Literatura de viagem. Brasil colônia

O ser humano sempre desenvolveu o fascínio pelo desconhecido e a literatura foi um dos meios pelos quais essa curiosidade ganhou corpo, forma, cor, cheiro, vida. Estou me referindo ao que se convencionou denominar por Literatura de viagem, esses escritos que desde a Antiguidade Clássica vêm divertindo, surpreendendo, emocionando, informando a todos e todas que mantém contanto com 
esse “tipo” de produção escrita.
Dialogando com Cesar Palma Santos em tese sobre esse “gênero”, em um pequeno trecho do seu trabalho constatamos que a Literatura de viagem é um campo recente de estudos, mas sua produção é vasta ,mas podem ser consideradas como suas algumas das seguintes características: são narrativas reais sobre o encontro com o “outro”, cujo ambiente e cultura são diferentes daqueles de quem narra, narradas em primeira pessoa, entre outras.
No Brasil, temos alguns exemplos de narrativas de viagem, elencadas como, dentre outras denominações, Literatura de viagem, A Carta de Achamento do Brasil, a primeira do gênero, que relata e descreve os primeiros instantes do encontro entre os futuros, colonizador e colonizado, escrita por Pero Vaz de Caminha.


 Em “A hora da estrela”, de Clarice Lispector, temos a personagem  Macabeia.Vejam como descrevo e analiso essa enigmática figura da literatura nacional.

A personagem Macabea é apresentada como uma pessoa frágil, desprovida de desejos e de anseios. Entretanto o desenrolar dos fatos vão despertando e revelando anseios, curiosidades e o novo se descortinam diante de seus olhos. É uma mulher contida, mas em contínuo desabrochar (sem perder o que chamamos de ingenuidade, como são reveladas atitudes tomadas a partir de “sugestões de outros personagens próximos”). São essas características vistas em Macabea as quais se traduzem em “comportamentos reais”, seja no trabalho, e suas atitudes de subserviência, seja na vida familiar, que ganha existência na pensão onde mora e, principalmente, na relacionamento amoroso e muito conturbado com Olímpico. Macabea é órfã e sente-se sozinha, incapaz, mas admira as pessoas livres. E é essa admiração que a impulsiona, põe-na adiante, mesmo com o fim trágico ao qual fora destinado.




domingo, 6 de novembro de 2016

Boa noite, gente!!!
Enfim volto a publicar algo por aqui. Abaixo, na íntegra, a carta enviada por e-mail ao Senhor Secretário de Educação do Estado, o senhor Walter Pinheiro. Socializo com vocês na expectativa de tornar o principal tema da missiva, um projeto coletivo, o CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO BASEADO NO ENSINO POR TEMAS. Quem conhece nosso NA TRILHA D'OS SERTÕES já sabe um pouco do procedimento, do modus operandi, pois ele é o germinal deste meu mais novo empreendimento: a construção de mais uma possibilidade de cursar o nível médio. Boa leitura e enviem comentários, inclusive contra a proposta.
Fátima, Bahia, 06 de novembro de 2016

Exmo. Sr. Secretário de Educação do Estado da Bahia

A educação pública, gratuita e de qualidade sempre esteve no meu horizonte profissional e intelectual. Nestes 24(vinte e quatro) anos de atividades atuando, inicialmente, no Ensino Fundamental maior, na disciplina EDUCAÇÃO FÍSICA – minha formação inicial -  em 2001 migrei de UE e de disciplina, agora na disciplina e suas correlatas de área, como REDAÇÃO, LITERATURA INFANTIL, entre outras, todas no Ensino Médio. Atualmente sou estudante de graduação em Letras Vernáculas também pela Universidade Federal de Sergipe, onde fiz meu Mestrado em Educação.
Nesta missiva quero discorrer, majoritariamente sobre o Currículo do Ensino Médio (e a duração dessa etapa), mas também “passar” pelo Curso Normal Médio, e pela particularidade que é a mudança do nome da UEE onde atuo como docente.
Durante a minha trajetória desenvolvi alguns, desenvolvo outros, projetos de trabalho e aquele que me faz me dirigir ao senhor secretário é aquele que diz respeito ao currículo no Ensino Médio, cujo núcleo gerador é o ENSINO POR TEMAS, o qual consiste em um reordenamento e redistribuição de conteúdos e de atividades para esse nível de ensino prenhe de ideias e de desejos, em face exatamente do público-alvo, os adolescentes, os jovens que são, por excelência, inquietos por conta da sua vontade de mudança e de um cotidiano menos fatigante.
Partindo dos princípios orientadores já existentes, a saber, os PARÂMETROS e as DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO, a LDB 9394/1996, e buscando as teses nas diversas disciplinas que compõem o quadro curricular do Ensino Médio, obedecendo ao quantitativo de horas anuais, o cotidiano semanal/mensal seria composto por minicursos temáticos, como por exemplo, nossa ideia já posta em prática a qual considero como germinal. Trata-se do curso NA TRILHA D’OS SERTÕES experimentado no colégio em que atuo e envolvendo as disciplinas LINGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA, REDAÇÃO E SOCIOLOGIA nos anos de 2013 2014, quando eu e o professor Fábio José de Araújo, com Sociologia, desenvolvemos atividades em conjunto, mas dando aulas nas disciplinas. Isto é essa experiências não traduzem exatamente o ENSINO POR TEMAS, porque a ideia é a de que toda a escola deixe a disciplina, de modo explícito e particular, e construa minicursos elaborados por um ou mais professores. Tenho outras sugestões de temas/minicursos para tentar ser mais claro na proposta, porém ele é um trabalho coletivo, envolvendo todos os docentes e, preferencialmente, com a participação de pais/mães e os próprios estudantes e, mais adiante, outras pessoas da comunidade.
Faço saber que o curso NA TRILHA D’OS SERTÕES, o germinal desta minha proposta, é uma atividade disciplinar que já realizei na escola e fora dela, são conhecidas por atividades realizadas pelos estudantes e publicadas na rede social FACEBOOK, com postagens que levam esse nome sendo de fácil localização, o qual tornou-se fruto de interesse do documentarista Elson Rosario (atualmente participando como avaliador de projetos da SECULT-BA). É também conhecido, com participação direta, do prof. Dr.  Aleilton Fonseca, docente da UEFS e membro da Academia de Letras da Bahia.
OPERACIONALIZAÇÃO DO CURSO – MATRÍCULA E ALGUMAS IDEIAS INICIAIS
Concretamente teríamos o seguinte: o grupo de profissionais da UEE se reúne no início de fevereiro para construir seus minicursos e a unidade escolar disponibiliza para todos, um conjunto de possibilidades para matrícula para que o horário semanal seja preenchido. Entretanto, caso algum minicurso apesente uma demanda maior acima do permitido por classe, a UEE faria um processo seletivo a fim de preencher o quantitativo de vagas.
Na possibilidade de algum estudante ficar com matrícula abaixo do quantitativo de horas, deverá ser matriculado em qualquer outro minicurso disponível e, para isso, a UEE exigirá do grupo docente um leque suficiente dessas atividades para evitar esta situação.
Como se trata de uma inovação que desestrutura o cotidiano da escola, sugiro que a oferta da UEE seja concomitante com o chamado ensino regular e para esta novidade, somente uma turma seja disponibilizada e a possibilidade do aluno migrar de uma para outra turma, seja a do ensino por temas para a regular, ou vice-versa.
Esta minha ideia já foi apresentada na Semana de Planejamento Pedagógico no ano de 2014, e no documento oficial denominado Intervenção Pedagógica, local de registro da situação da Unidade Escolar, e enviado por esta SEC-BA, mas não obtive retorno.
O segundo ponto de sugestão dessa minha “pauta” diz respeito à duração do Ensino Médio, passando para 05(cinco) anos, com matrícula facultativa a quem cumpriu o mínimo estabelecido por lei, sendo a oferta de disciplina e atividades a partir da disponibilidade da UEE. Podendo ainda ser dividida por semestres, para que o aluno tem um vínculo menos limitador das possibilidades de criação de outros vínculos, tendo em vista que este discente já possui o direito de ingressar em outros cursos, de níveis mais elevados, dentre eles, principalmente a Educação Superior. Desse modo, dividido por semestre o estudante não fica “parado” e ao ter outra oportunidade, não terá prejuízo em não concluir essa nova fase de estudos, contribuindo para a sua formação intelectual e curricular, levando consigo, ao menos um ou mais semestres de ampliação de estudos.
Ainda sobre a duração, entendo que o ensino noturno deva ser ampliado para quatro anos,  com redução de carga horária diária, ficando das 19:00 às 21:50, com somente 04(quatro) aulas diárias. Dessa forma o quantitativo exigido por lei não sofreria prejuízo.
O terceiro ponto diz respeito ao Curso Normal, que faz uma ausência enorme na nossa UEE (e em toda a região, pois conheço diversos colegas de trabalhos, os quais relatam essa carência, tanto por parte deles, quanto pela dos alunos). Faço saber ao senhor que durante o ano de 2010 participei como voluntário de uma equipe de professores da rede ao integrar o balanço do curso normal médio na Bahia, promovido por esta SEC; na oportunidade, liderados pela profa. Alba Guedes, UNEB-SSA, estudamos os currículos do Normal Médio, em vigor até aquele ano e enviamos uma minuta de critérios mínimos a serem cumpridos pelas UEE que pretendessem ofertar o curso a partir de 2011. Realizamos cerca de 05(cinco) encontros em Salvador, sempre voluntariamente, e ficamos responsáveis por visitar as escolas interessadas nas regiões onde somos lotados e interessadas na implantação do curso.
Ainda visitei 04(quatro) escolas nos municípios de Cícero Dantas, Jeremoabo, Pedro Alexandre e Santa Brígida, ficando sem visita os municípios de Paulo Afonso, Nova Soure e outros.
Ao final das viagens fizemos um novo encontro e em seguida, com os mesmos atores para apresentação da primeira, fizemos uma plenária ampliada sempre em Salvador, do novo currículo para o CURSO NORMAL MÉDIO, cujos itens mais importantes eram: 1º) para a atração dos futuros/aspirantes à docência, um intercâmbio com a UNEB para a matrícula imediata em uma licenciatura dos/das que pretendiam continuar na busca da docência (neste país carente desse tipo de profissional) e o 2º) o currículo centrado em áreas, inclusive as disciplinas profissionalizantes.
Entretanto, sendo final de ano letivo, com mudança de Secretário, de modo autoritário e DESRESPEITADOR, o novo titular suspendeu as matrículas, relegando ao esquecimento, MAS NUNCA ESQUECIDO POR AQUELES E AQUELAS QUE PRETENDIAM CURSAR O NORMAL MÉDIO.
Por fim, o quarto ponto, diz respeito ao nome da unidade escolar onde atuo desde 2001, ano de sua inauguração, o COLÉGIO ESTADUAL LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, para ANA MIRENA DA SILVA, professora do nosso município, negra, arrimo de família pobre e alfabetizadora por cerca 03(três) décadas. Perseguida politicamente no período de nossa emancipação política, quando éramos distrito de Cícero Dantas, fez um trabalho silencioso, mas consistente. Outras motivações para a alteração do nome, vão desde a conhecida do senhor, que é a disseminação dos nomes dos familiares do sr. Antonio Carlos Peixoto Magalhães, cuja intenção o senhor sabe muito mais do que eu. E por fim, a própria localização da nossa UEE, sito à Rua Maria Preta, cujo nome é a referência a um tanque construído por escravos que está localizado no final da rua, onde antes era uma estrada vicinal que dá acesso a algumas localidades rurais, ao núcleo urbano do nosso município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espero poder ser atendido pelo Exmo. Sr. Secretário de Educação do Estado da Bahia para poder discorrer com mais propriedade sobre nosso CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO POR TEMAS, assim como sobre os outros pontos desta missiva. Segue, anexo, algumas produções científicas e apresentadas em eventos, uma na U. F. de Sergipe e a outra na UNEB-SSA, ambas com temáticas pertinentes às minhas inquietações profissionais e político-intelectuais conforme tento expor nesta comunicação.
Na expectativa de poder contribuir para uma educação pública, gratuita e de qualidade, despeço-me e aguardo a possibilidade de dividir diretamente com o senhor e equipe as minhas ideias.
Att.

Marcos José de Souza

domingo, 22 de maio de 2016

Burguesia baiana em veraneio, saúde publica, pescaria e outros experimentos itaparicanos – um breve estudo ensaístico sobre a obra O Sorriso do Lagarto, de João Ubaldo Ribeiro.
Ouço aquele vozeirão desgastado pelo uísque e pelo cigarro a todo instante, até mesmo quando não o leio, somente mesmo pela recordação de algum texto seu e, principalmente quando o vi/vejo em entrevistas. E de toda essa nossa amizade(?) o episódio que me chamou mais a atenção foi quando ele mudou-se para Berlim e o jornal A TARDE(verei a data em outro momento), publicou: João Ubaldo troca o calor de Itaparica, pelo frio de Berlim. Naquele dia aumentou ainda mais nossa amizade e dali em diante me aproximei ainda mais daquele bigodudo, pirracento, mas muito criativo, cujo primeiro contato real nosso deu-se em meados dos anos em uma adaptação para a televisão, desta obra que ora comento, realizada pela Rede Globo de Televisão (vejam que essa emissora não pode ser “castigada” pelo baixo moralismo de seu telejornalismo, as minisséries salvam a “pátria” dela – nem tudo está perdido).
Neste ano de 2015, ops, passado, fiz algumas novas leituras de um livro de crônicas e outro denominado “para ser lido na escola”, (não menciono os nomes exatamente para estimular a curiosidade dos meus amigos e amigas) os quais foram utilizados como leitura obrigatória para as turmas da primeira série do Ensino Médio, nível de ensino que atuo desde 2001. Isso mesmo, leitura obrigatória com exposição oral para os colegas, cujo expositor, com mais 4 ou 5 colegas ficam de frente para a classe e “contam” a história lida, seja ela conto, crônica ou reportagem.


Esse recomeço de amizade nos fez tirar da lista de prioridades o grande O SORRISO DO LAGARTO, é isso mesmo que vocês leram, RETIREI da lista e fiz a leitura, enfim, depois de ter comprado um exemplar há exatos 05(cinco) anos. Um livro dividido em  10(dez) capítulos, os quais apresentando divisões internas sem numeração, em “quadros” deste novelão. E ler “O Sorriso” nos aproximou ainda mais daquele pé de cana itaparicajuano- misto de quem é de Aracaju, onde nasceu, com Itaparica, onde viveu e fazia parte da paisagem da ilha, muito frequentada por turistas, inclusive esta condição ele cita em algumas crônicas e até mesmo entrevista.
Iniciar a leitura do livro O sorriso do lagarto, para quem viu minissérie televisiva, necessariamente é levado a se enredar na modorra praiana de Ubaldo. Sem querer querendo, como diria um filósofo mexicano bem conhecido dos brasileiros de todas as idades, o narrador vai nos cansando com o vento, o sol, a maresia e, por fim, já exaustos, com o balanço do mar.
Queremos introduzir o lagarto sorridente logo nas primeiras páginas, mas ele não aparece (ou somos nós que não o enxergamos? A releitura do primeiro capítulo não foi realizada, o que faço costumeiramente, fato que provocará alterações de juízo de valor da nossa parte sobre esse nosso próprio texto), mas voltemos ao ... enredo, pescaria, maresia, sol, mar, ilha de Itaparica...huuuummmmm, delicia!!!!!


Eis, em breves palavras, o recado “literário” d’O Sorriso: A Ilha de Itaparica, Baía de Todos os Santos, é o cenário predominante das ações em que um grupo de pescadores residentes na ilha e outro grupo de veranistas da burguesia baiana coexistem e cruzam seus caminhos. Em determinado momento, um ilhéu, pescador, mas com formação acadêmica em Biologia, é convidado por outro a fim de ouvir uma confissão a respeito de criaturas estranhas, feita por outro morador da ilha, muito famoso por suas práticas medicinais “populares”. A partir desse encontro os mistérios são ampliados e outros personagens são inseridos como protagonistas, um médico, um padre e um “político, médico e rico”. A notícia se espalha, mas a tese da existências de seres híbridos e rechaçada com escárnio pelos idealizadores da experiência e, para apimentar a trama, o pescador e biólogo e a esposa do político decidem tornar publico o relacionamento amoroso entre eles, o que é descoberto pelo cônjuge dela (o pescador é solteiro). O assassinato do amante a doença psíquica da esposa, permitiram que os veranistas continuassem seus passeios  e festas com a tranquilidade de sempre e o sorriso do lagarto, conhecido somente daqueles dois, o desaparecido e o padre, que fora mudado de paróquia.

E APÓS A SEGUNDA LEITURA...............
Eis que retomo a crônica(?) ubaldiana(para fazer coro ao discurso acadêmico acostumado a criar adjetivos para autores), dessa vez com a releitura do primeiro capítulo, no intuito de enxergar o que foi visto/lido na primeira leitura.
Neste momento destacarei alguns temas, os quais considero centrais para o enredamento de quem lê a narrativa: A EXPERIMENTAÇÃO CIENTÍFICA(adiante justificarei essa denominação em detrimento de experiência), JORNALISMO, BURGUESIA BAIANA, CONVERSAS COM O LEITOR e outros que poderão aparecer no desenvolvimento do presente trabalho. Para isso farei uso de trechos da narrativa, somente do capítulo e dos dois últimos, tendo em vista o tamanho do texto que pretendo elaborar, não ultrapassando o limite autoimposto de cinco páginas – que não será respeitado.
O inicio do romance faz um elo com o seu encerramento ao declarar para o leitor – com quem dialoga na abertura e provoca a reflexão, na conclusão:
Talvez isto não fique ainda por muito tempo, mas o exame consciencioso dos fatos que levaram aos acontecimentos principais deste relato mostra que a sua primeira cena se desenrolou em data já um pouco distante, sem que ninguém então pudesse saber o que pressagiava. (p. 9)
Esses trechos conferem um ritmo reflexivo que a crônica provoca, conforme destaquei pouco acima (Evidentemente que a menção a relato também pode conferir outro gênero textual, mas deixemos aos demais interessados na leitura atribuir outros e outras gêneros e formas).
Como a trama se desenvolve hegemonicamente na Ilha de Itaparica, o Rei Sol e o todo poderoso Oceano Atlântico, singularizado pela Baía de Todos os Santos foram-nos apresentados na primeira página. Desta feita, bem ao gosto do nosso querido Euclides da Cunha, o boêmio João Ubaldo não desperdiço do vernáculo português e, assim, nos enriqueceu com algumas pérolas para descrever a paisagem local. A soalheira dá o toque principal, seguida de – e que provoca -  fulgência metálica, contracosta da ilha, neblina translúcida, revérbero desnatural, sulcos niquelados, fender velozmente, mormaço vítreo.
Os indícios para o fenômeno sobrenatural(?) que nomeia o romance vão surgindo de modo sutil, bem ao gosto  do bom escritor, e no estilo tranquilo que um dos seus protagonistas possui – isso mesmo, entendo que nesta narrativa haja mais de um deles – vão percebendo, mas sem nos dar conta que estamos percebendo. O primeiro desses “sinais” dá-se quando dois meninos mostram para o nosso interlocutor, um calanguinho de dois rabos que ri depois que os três riram sobre um episódio da conversa deles mesmos.
Logo no parágrafo seguinte – mas após um salto no tempo narrativo ilustrado pelo período Agora, tanto tempo depois, a troco de nada, João Pedroso recorda esse dia esquisito, ...(p. 12) o indício do surreal, que anteriormente denominei de sobrenatural , reaparece. Dessa vez o animalzinho é visto por este protagonista: Apurou a vista, aprumou os óculos e não conseguia saber direito se o que via era alguma coisa distorcida ou imaginária, mas o calango de fato parecia envolvido numa atmosfera de riso. Algo sugeria que estava mesmo sorrindo. Não era, contudo, uma visão agradável, porque tinha um pouco, talvez muito de mofa no sorriso, quase hostilidade. (p. 13)
Deste momento em diante o leitor é conduzido por um enredo que, aparentemente se distancia do episódio, vindo somente a ser explícito somente na página 175, no episódio em que esse mesmo protagonista é convidado por um líder religioso local a fim de ter consigo dividida a tarefa de proteger as pessoas envolvidas nas experiências cientificas, anunciadas de modo sutil nas páginas iniciais e indicadas no parágrafo anterior.
Nos chama a atenção para um breve destaque é o papel da imprensa em dois momentos: no primeiro, o médico responsável pelas experimentações científicas convida João Pedroso para uma coletiva – este é biólogo, mas leva a vida como pescador e peixeiro, mas não o deixam falar. As atenções são voltadas somente para o diretor do Hospital, do médico Lucio Nemésio. Num segundo momento, após o biólogo e o padre tomarem conhecimento das experimentações, e os dois fazem a denuncia, mas suas versões são distorcidas pelas “autoridades”, tornando-as informações ridículas e irreais, fato que os isola da sociedade local, pois para a população, tanto o biólogo, quanto o padre estão delirando. Em outras palavras, o que se torna notícia e o modo como são veiculadas,  passa-se pelo crivo dos donos dos meios de  comunicação.
Enfim, posto já ter me alongado neste anunciado breve ensaio, destaco a acidez do próprio autor, na fala do narrador. Em vários momentos tem-se a nítida impressão de que estamos ouvindo o vozeirão rouco do autor ao fazer referência ao ...um sergipaninho que estuda como um celerado... e ...o sergipaninho aposta a peixeira dele como é... (esta referencia acontece no diálogo do médico com o biólogo logo no capítulo, na p. 38);  ao citar o modo como outro médico, o dr. Ângelo Marcos tornou-se político de esquerda, mas vive das benesses da direita ao se tornar político de prestígio e de ter enriquecido às custas do erário; até mesmo o PT é citado quando este mesmo médico, fica na dúvida de qual roupa vestir, como vemos na p. 19, Muito bem, a hora de escolher a roupa. Um terno leve, por causa do calor da ilha. Mas terno e gravata, nada dessa cafejestada populista, que está na moda agora, coisa de baixa extração tipo PT.
Ler O Sorriso do Lagarto proporcionou ainda mais a minha ligação com João Ubaldo Ribeiro, com quem mantinha aproximação desde a infância quando via suas entrevistas. Ser escritor, irônico, morador da ilha de Itaparica eram os ingredientes principais dessa relação. Os próximos a serem lido e relidos são, na ordem, Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro. O primeiro será lido mais uma vez, pois já o utilizei como leitura obrigatória há cerca de 05(cinco) anos para as turmas de terceira série do CELEM, escola onde trabalho desde 2001 e por 03(três) anos consecutivos. O segundo, enfim, do mesmo modo que Dom Quixote, será lido na totalidade, uma vez que nas diversas tentativas com ambos, nunca passei da primeira página. Mas, do mesmo modo que atravessei o Grande sertão:veredas, do enorme João Guimarães Rosa, atravessa-lo-eis.
Inté!!!!! Sem revisão.



O trabalho aqui foi elaborado sem qualquer leitura anterior sobre o romance O Sorriso do Lagarto – o que farei em momento posterior  - é uma publicação Record/Altaya, da coleção Mestres da Literatura Contemporânea, cujos direitos estão reservados a editora Nova Fronteira, e o ano é o de 1989.


                              Manhã de domingo, com o sol de verão em pleno outono, aos vinte e dois dias de mais um mês de maio.

domingo, 15 de maio de 2016

EM TEMPOS DE AMADURECIMENTOS DE COMPORTAMENTOS DEMOCRÁTICOS


Hesitei em escrever algo depois do episódio vergonhoso da madrugada da ultima quinta-feira, o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, mesmo vergonhoso, torno a escrever, o episódio, espero que as pessoas, contra ou a favor do impedimento, reflitam sobre ele e sobre o modo como agem as instituições: A JUSTIÇA, O PARLAMENTO, e principalmente, OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. Tentando analisar um de cada vez e como eles se imbricam em seus propósitos, passo aos meus comentários analíticos. Detalhe importante: escrevo esse texto ao som dos Novos Baianos (Baby, canta A menina dança), na reabertura da Concha Acústica do Majestoso Teatro Castro Alves, da minha, da sua, da nossa cidade da Bahia, a   cidade de São Salvador, pelo sinal da TVE – BAHIA, via TV BRASIL.

Os meios de comunicação, em particular as redes de televisão, onde a maior parte da população adquire a informação, muito particularmente. Lembrem que em 2013 a Rede Globo, concentro-me nela, somente, convidava a todos irem para as ruas; lembrem-se que o inicio foi o movimento passe livre, capitaneado por estudantes paulistanos e espalhado pelo país, dessa maneira, já sem a ideia inicial. Veio 2014 e com ele as eleições e a Presidenta reeleita, novamente tendo como seu vice, o sr. Michel Temer. A Polícia Federal, livre e solta, agindo dentro dos limites constitucionais, com a Operação Lava-jato, sob a batuta do sr. Sergio Moro. Cuja ação buscava desvendar o desvio de milhões de dólares da Petrobrás.

Eis que 2015 e 2016 vieram e, com eles, a intensificação das manifestações, dessa vez pedindo o impedimento da Presidenta recentemente eleita e reempossada e das ações da P. Federal intimando, prendendo na Lava-Jato. Lembremos que a presidenta não interferiu não atuação da PF. Denuncias sobre diversos políticos e empresários aconteciam.

As passeatas eram convocadas pelos telejornais da Rede Globo com seus jornalistas atuando ao vivo. Por sua vez os defensores do mandato da Presidenta começaram a ter tratamento semelhante, mas não eram denominados de POVO, mas ALIADOS DE DILMA E LULA, em uma clara alusão de interesses pessoais por quem defendia e considerados defensores do Brasil, quem estava a favor do impedimento.

O Parlamento, nosso terceiro elemento, com ampla base favorável ao governo, tanto no Senado, quanto na Câmara, desde o primeiro mandato começa a revelar outra faceta. A Câmara sob a liderança do dep. Eduardo Cunha, que no auge da chamada Operação Lava-jato é citado em crime financeiro, o que foi comprovado, mas que sequer teve seu posto de presidente da Câmara abalado. A sua deposição, pela Justiça, deu-se somente após a Câmara ter aprovado o impedimento da Presidenta. O Senado, com maioria governista ainda maior que na outra casa legislativa, também começa a mostras sinais de insatisfação. O resto da história, todos sabemos. Acompanhem a atuação do "novo" governo do sr. Michel Temer.

Mas o que a maioria não percebe é exatamente o que tento identificar desde o inicio do texto: a maneira pela qual os meios de comunicação dão tratamento aos fatos, isto é, o critério utilizado para este ou aquele acontecimento. Por que um assunto ganha tanto destaque nesta ou naquela emissora. Enfim, por que um episódio vira notícia e antes virar notícia, POR QUE ELE ACONTECE?

Concluo o texto ao som de Moraes Moreira, um dos Novos Baianos.


PS.O autor não é mais filiado ao PT desde o ano de 2009, mas defende a Democracia e o respeito às leis.

domingo, 17 de abril de 2016

Sem olhos em Gaza, uma viagem para dentro de si no meio do tempo, de Aldous Huxley.

Um diário atípico é o que acabei de ler indagorinha, debaixo do coqueiro do quintal dicasa, com a parceira varrendo o que a natureza rejuvenesceu: as folhas da tangerineira, da caramboleira (existe esse nome para pé de carambola?) e outras relíquias cotidianas naturais !!! Uma leitura sem pressa, na boa, sem a preocupação pedagógica. Leitura prazerosa, degustada a cada data indicada. Viajando em cada canto da Europa – era ela o ambiente, isso mesmo, pois Paris, Londres, Genebra, o Mediterrâneo, os alpes, os rios e os canais e outros recantos do velho denominado velho continente são constantemente citados na narrativa protagonizada por Anthony, este é o nome dele.
A princípio o que nos chama a atenção é o fato de que todos os capítulos são identificados por numeração cardinal e, ao mesmo tempo, datados, conforme os diarios mais comuns. O diferencial é exatamente que esse diario não acompanha, na narrativa a sucessão consecutiva dos capítulos, elas, as datas, vão e vêm ao sabor do narrador (ou narradores?, afinal localizamos “ele” e “eu” narrando algures e alhures. Por exemplo, o capítulo 1, de 30 de agosto de   1933 é seguido pelo capítulo 2 de 4 de abril de 1934, o seguinte, de 30 de agosto de 1933, o cap. 4 já “desce” para 6 de novembro de 1902, depois “sobe” para 8 de dezembro de 1926 e assim sucessivamente. Desse modo, meus amigos e minhas amigas, temos uma ideia do quanto instigante e desafiadora é a leitura de Sem olhos em gaza, publicado em 1936, no árduos tempo de ascensão do nazi-fazismo.
Essa é outra faceta do livro escrito pelo mesmo autor de Admirável mundo novo, sucesso mundial, mas que o autor dessas mal traçadas linhas não tecerá comentários,  deixá-lo-eis para vocês conhecerem de perto essa outra pérola da literatura internacional. Mas voltando ao que chamei de mais uma face do livro, o nazismo, Hitler e outros quetais, sem ser panfletário, o autor aborda esse mal que a humanidade infelizmente conheceu. Mas o faz a partir do olhar burguês de seus personagens, é a esta classe econômica que eles pertencem. As reflexões transcendem o etno-centrismo(mesmo que ele surja em alguns momentos da história ali narrada), quando Anthony e seus parceiros de jornada refletem aquela “praga” social  a  luz da filosofia, da sociologia e da própria literatura.
E o que nos “revela” Sem olhos em Gaza? A introspecção de um personagem-escritor perdido em roteiros ainda por serem descobertos pela burguesia turística; viajantes em busca de si mesmos, portanto sempre prontos, ativos, em busca do inalcançável. Permitam-me citar dois trechos. O primeiro e o último da narrativa:
Os retratos já se iam cobrindo dessa turvação que costuma empanar nossas lembranças. P. 5
O relógio bateu sete horas. Lento cauteloso ele [Anthony] permitiu-se deixar a luz penetrar de novo, através da treva, nos intermitentes, indecisos fulgores, e sombras da existência cotidiana. Levantou-se enfim e foi a cozinha preparar algum alimento. P. 425
A minha aposta para que no título a Gaza seja o destaque, deve-se ao fato de que Israel não existisse como Nação e a burguesia europeia visse a praga social,  mesmo que aromatizada de teorias conforme cito no parágrafo anterior, de um dos roteiros turísticos existenciais mais visitados por ela.
Esse texto foi construído sem o tradicional ir e vir ao texto-fonte, portanto trata-se de uma visão única do livro, é a primeiríssima impressão que tive da narrativa, cujo lugar que aparece no título, na própria história, não surge em momento algum. Sem correção do autor. Por conta e risco hehehehehe. Mistérios de A. H. Se alguém dignar-se a ler essas mal traçadas linhas, peço que comente-as pelo blog. Um abraço e o exemplar está disponível aqui em casa. Com dois vê kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.




domingo, 10 de abril de 2016

Mario Gusmão, o anjo negro da Bahia é a grande estrela de Glauber em Dragão da maldade contra o santo guerreiro
Da cozinha ouve-se a fina flor da musica importada do States United of the America; da rua vem a melodia gostosa , manhosa, caliente do arrocha com a voz macia do grande Silvano Sales e da sala, a mais genuína musica brasileira, a dita folclórica, presente nas várias cenas de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Eis o caldeirão cultural brasileiro, o qual, da nossa parte, convive em perfeita harmonia.
Mas nosso intento aqui é conversar com vocês sobre algumas cenas do filme e destacando na película o grande Mario Gusmão, o Oxóssi/São Jorge na narrativa fílmica, o homenageado no 6º FECIBA, o Festival de Cinema Baiano - vejam página no Facebook. O filme do Glauber está disponível no canal You Tube.
O filme narra as trajetórias que se cruzam: Coirano, o cangaceiro que vinga a morte de Lampião e Antonio das Mortes, matador de aluguel, presente no filme anterior, o Deus e do Diabo na Terra do Sol, também de G. Rocha. Mesclando a musica do povo, dita folclórica, com a clássica; o Catolicismo e o Candomblé e o que está nas entranhas de todas essas faces: a luta de classes. De um lado os coroneis e , do outro, o povo. Sem comida, sem moradia, sem trabalho, aos desmandos das vontades de poucos. Eis o que nos oferece o Glauber.
 O senhor é um homem formado, mas a minha ignorância tem vergonha, é uma das grandes frases que marcam o filme, dita por Antonio das Mortes ao delegado, ao recusar a proposta deste para assassinar o coronel e mandante do lugar, cuja esposa era amante do delegado, para o que receberia uma fazendinha como recompensa.
A cena da tentativa de assassinato do coronel enquanto ao fundo estavam as imagens de Cristo e da Virgem Maria é outro momento antológico do filme, mostrando a ironia ferina do discurso glauberiano. Detalhe importante: o coronel era cego.
A cena do remorso coletivo: o professor, a mulher do coronel, o padre e o delegado morto. Mostra como os três apaniguados e asseclas do rei, neste caso, o coronel, foram acometidos. Este momento acontece após a tentativa de assassinato do coronel ter sido frustrada. Para esse momento lembrei do texto de um jovem francês, Ettiene de La Boetie, que viveu no século XVI, Discurso sobre a servidão voluntária. O qual também serve para outra cena na qual o coronel, já se sentindo vingado do adultério, é carregado nos braços pelo povo e ao lado da mulher.
Outro grande remorso é o de Antonio das Mortes após um diálogo com a Santa: no momento em que ele carrega o professor pelas ruas da cidade, aparece uma placa de Mogi das Cruzes, SP e as palavras da Santa martelando em sua mente porque ele matou o cangaceiro e que esta morte representará a morte do povo do lugar, cuja previsão é concretizada: Ai arrebenta a guerra sem fim, repetida três vezes e, em seguida, ao som de levanta sacode a poeira e dá a volta por cima, sucesso popular na época do filme (outras músicas esclarecedoras da narrativa dão um toque especial ao filme). Na cidade, vários nomes de estabelecimentos comerciais indicam a confusão mental que Antonio das Mortes vem sofrendo.
O cangaceiro surge ao modo de Cristo na cruz e o professor retirando as armas dele sugerindo que tomaria uma atitude diante dos fatos. E ao fundo um violeiro tipicamente catingueiro canta modas com enfoque político social. O que pode sugerir este conjunto de cenas de personagens?
A cena final deve ir para um museu, pois é antológica: montado em um cavalo branco eis que surgem a Santa e no comando, o grande Oxóssi/São Jorge, e encarnando-o, Mario Gusmão, acabam com a batalha ferindo mortalmente com sua lança o sanguinário coronel. E, ironicamente, no chão, puxando a rédea, o padre, numa clara alusão da subserviência da Igreja Católica aos verdadeiros valores religiosos do povo do sertão dos Estados do Nordeste brasileiro, o Sincretismo da união ou culto simultâneo do Candomblé com aquela instituição religiosa, bem ao gosto do que Euclides da Cunha afirmara em Os Sertões, o sertanejo é uma rocha, isto é, mineral fruto da junção de outros minerais, o povo do sertão, gente branca, negra e índigena.
Mario Gusmão emprestando ao filme sua envergadura dramática e, como Oxóssi, “benzendo” o ex-cangaceiro volteando-o por três vezes e depois se seguindo caminho. É a cena final.
O título do nosso texto traz o nome de um documentário sobre o grande Mário, de autoria de Elson Rosário, também presente no Festival.

VIVA MÁRIO GUSMÃO, VIVA O FECIBA!!!!!