Nas linhas sinuosas de Antonio Carlos Mangueira Viana
Há um ano me dei conta que conhecia o contista Antonio Carlos Viana, é sem o "Mangueira" que ele é mais conhecido, o qual me fora apresentado pelo ex-parceiro e ex-camarada Landisvalth Lima lá pelos idos dos anos 2000 em uma polêmica sobre as leituras indicadas para o vestibular da Universidade Federal de Sergipe, nossa querida UFS.
Nesta ocasião eu estava à frente de alguns jovens, hoje autoridades em nosso município, levando-os àquela Universidade para prestarem o vestibular, quando Landis me falou que o escritor sergipano havia sido preterido das leituras obrigatórias em face do caráter pornográfico a que os textos de Viana classificado - quem conseguiu retirar tinha força política e econômica junto à instituição.
Deixando esse detalhe de lado, voltemos ao momento em que, há um ano, em evento científico sobre o escritor e realizado na mesma UFS, coordenado pela professor Oscilene, me dei conta que conhecia o nobilíssimo artista da palavra. O conhecia dos corredores vespertinos da Universidade, pois pela manhã estava no estádio, na piscina ou em outro setor do Departamento de Educação Física, e às tardes buscava refúgio intelectual nos Departamentos de Letras,História, Pedagogia entre outros do CECH.
Vieram as lembranças de ver aquele sujeito carrancudo, de andar solitário que neste ano de 2017 se revela, não tardiamente, um grande escritor que nos surpreende em seus contos, com títulos e conclusões que fogem do lugar comum que nossa "lógica" de leitor experiente nos conduz. Isto é, vamos nos acostumando a antever conclusões, a comparar títulos de contos ou romances com o desenrolar do texto, etc. Em Viana as situações, os elementos da narrativa não são dados de maneira comum. Esse é o desafio e o prazer de lê-lo.
Durante o evento fui me deliciando com as exposições e leituras diretas de textos de Viana, em particular aquelas que tratam do feminino, de mulheres protagonistas e usando o recurso da internet, fui logo adquirindo os livros dele, os quais estou agora lendo-os, mergulhando no universo aracajuano e nas fantasias/ficções desse mestre da Literatura brasileira e universal, uma vez que já ganhou prêmios nacionais e é traduzido em alguns idiomas, o que confere essa titulação por muitos e muitas já atribuída e por mim ratificada. No evento alguns títulos de contos ficaram na memória e ao lê-los senti a mesma emoção de quando os ouvi naquelas tardes de Dezembro de 2017.
Os títulos dos livros são detalhes importantes do seu trabalho como JEITO DE MATAR LAGARTAS, o primeiro que li; ABERTO ESTÁ O INFERNO, o segundo; O MEIO DO MUNDO E OUTROS CONTOS e CINE PRIVÊ, cuja ordem de leitura desses dois não sei qual será, pois estou fazendo um esforço para fazer uma leitura livre, solta das amarras acadêmicas (se isso é possível para quem já fora tragado pelas águas da Ciência, mas estou me esforçando, apesar de fazer a leitura do primeiro, pelos contos com títulos no feminino, na ordem do índice, mas não me perguntem o motivo, pois não sei responder).
Após a primeira leitura, Jeito de matar lagartas fui ao You Tube para ver algumas entrevistas de Viana e logo me deparei com uma feita por outro escritor, o pernambucano Marcelino Freire e de tantas coisas importantes e bonitas que Viana falou destaco a seguinte: o livro de contos para ser bom algum ou alguns deles tem que grudar na memória do leitor. Esse é o sinal de que o livro é bom. E eu aproveitei a dica do autor para destacar com vocês alguns deles, mas hoje somente um será escolhido, os demais serão incluídos em outras postagens que farei acrescentando nesse mesmo texto.
O escolhido está no segundo livro lido, Aberto está o inferno, Quando meu pai enlouqueceu. É uma narrativa do êxodo, mas de volta pra casa, de uma família que migrou e depois teve que retornar para a terra natal. Narra a reação de um filho que percebe o choque de um pai ao ter que retornar e sentindo-se derrotado pela situação, enlouquece. Eles retornam, mas nada será como antes. Esse pequeno trecho é o máximo que posso escrever na tentativa de capturar os meus leitores e minhas leitoras para a leitura do texto original, mas reproduzirei aqui um trecho do conto, que também não revelo a localização:
Chovia no dia em que meu pai enlouqueceu. Sempre chove em dia de desgraça. Foi assim quando meu irmão quebrou o braço, quando me mãe sofreu um aborto e no enterro de minha avó. A gente voltava do Rio, onde fomos morar e não deu certo. A morte de Getúlio acabara com meu pai.
Esse trecho transcrito teve a contribuição valiosa do meu grande Ariel Carvalho de Souza, por enquanto futuro jogador de futebol e jornalista, que ditou o texto para que o papai digitasse.
PS. Texto não revisado pelo autor.
domingo, 30 de dezembro de 2018
sábado, 20 de outubro de 2018
Educação de tempo integral, pacto para o
fortalecimento do ensino médio, reforma curricular para o ensino médio: temas
ricos, pouco trabalhados. Mas há uma luz acesa!!!!
Há
tempo, principalmente nos últimos 05(cinco) anos viemos acompanhando, de modo
indireto, isto é, sem adentrar no debate, várias inferências sobre o ensino
médio, dentre eles, o ENEM, a demanda – jovem trabalhador,
não-trabalhador, das pequenas, medias e grandes cidades, da zonas centrais e
periféricas, da zona urbana e da zona rural, da rede pública e da rede privada
– o currículo – educação de tempo
integral e o que estudar e como estudar.
É a
partir deste ultimo aspecto – o que e
como estudar no ensino médio, o currículo - que declinaremos neste momento,
que deveria ter saído em janeiro, conforme tarefa auto-imposta, a saber, um
texto sobre educação a cada 30(trinta) dias, ao menos, durante o ano de 2015,
tendo seu início sequencial em dezembro de 2014.
Estando
no Ensino Médio desde o ano de 1997 e exclusivamente nele desde 2001, sempre
nos inquietamos com o comportamento dos estudantes, jovens, na sua quase
totalidade, na faixa etária dos 15 aos 17 anos, portanto, uma fase da vida de
início de consolidação dos mais variados conceitos, morais, sócias,
intelectuais, políticos, desse modo, gente que pensa e tem opinião, por mais
que nós professores e professoras, entendamos que são SOMENTE adolescentes e
jovens. Foi a partir desse itinerário de confrontação – mundo adulto, diplomado
e mundo juvenil sempre ansioso por mudanças – que viemos construindo um novo
olhar sobre o que e como ensinar no ensino médio: a proposta de um currículo
por temas, isto é, no lugar das disciplinas, teríamos cursos variados, tendo
por base o conteúdo daquelas matérias de ensino e os conhecimentos obrigatórios
para este nível de ensino, traduzidos na legislação por competências e
habilidades.
I - Para
ilustrar essa ideia passo a expor uma leitura que fiz do livro Incidente em
Antares, de Érico Veríssimo, publicado em 1995, pela editora Globo, São Paulo.
O exemplar que li está na 45ª edição. O livro trata, sinteticamente falando, da
“aventura” de 07(sete) cadáveres que decidem protestar contra o atraso nos
próprios sepultamentos. Esse atraso dá-se por conta da luta dos trabalhadores
da cidade de Antares, cidade onde ocorrem as ações da narrativa. Escolhi o
capítulo LXXVI para trazer à tona algumas possibilidades do que denominei de
estudo por temas, no lugar das convencionais disciplinas. Após essa exposição,
delinearei outra atividade, esta já aplicada na escola onde trabalhamos, bem
como minha sugestão de alteração curricular, esta ideia foi indicada no plano
de ação, que pode ser total ou parcial no ano letivo.
Por ora
vamos ao trecho do livro aludido acima:
O diálogo “invocado” por dona
Valentina(esposa do juiz Dr. Quintiliano do Vale) apresenta os sinais de
liberdade feminina, quando: ela acende um cigarro na presença do marido, que
sabe do vício, mas não permite ação na presença dele; o ato de “modificar” o acontecimento – a ressureição dos sete
antarenses – em um conto de fadas (sobre essa iniciativa de dona Valentina o
narrador não nos diz nada sobre como ela fez a mudança de um fato real – na
narrativa, mas surreal para os leitores) e, por fim, quando surpreende o marido
dizendo que ela não é uma dama, conforme a justiça entende, ao tempo em que
convida-o para se despirem das máscaras usadas cotidianamente e assim falarem a
verdade, um para o outro, como dois seres humanos normais.
Destaco
ainda o conceito que ela dá para Justiça, a área de trabalho do marido, chamando
de janela que abre e fecha de acordo com as conveniências do transcurso de um
assunto ou episódio real. Isto é, se ele,
o juiz, concorda, a janela do diálogo é aberta, se ele discorda, a janela é
fechada.
O idioma francês como símbolo de
intelectualidade e de modernidade ou ainda de elitismo, mesmo já perdendo
espaço para o idioma inglês, é outro elemento informativo que o romance revela,
significando, sociológica e politicamente, o poder político-ideológico que
eles, os idiomas estrangeiros e de potências econômicas e militares, exercem em
um país “sem comando”, ou até mesmo subserviente a essas nações.
O
trecho a seguir traz uma visão panorâmica da obra, sem deixar de sugerir um
posicionamento do autor desse texto:
O romance é um manifesto à liberdade, uma
denúncia sobre os modos de ocupação de terras devolutas – e do modo como
nasceram muitos latifundiários no Brasil – e à formação de muitas famílias
tradicionais que ocuparam e ainda ocupam o poder econômico e politico em terras
brasilianas, ao tempo em exibe também o cotidiano desses núcleos sociais.
O livro
é volumoso, mas nem por isso, cansativo. Apresenta diálogos e narrativas irônicas,
bem ao gosto do jovem e do adolescente, carregados de humor e de muita
informação. É uma obra literária completa: DIVERTE, ENREDA, INFORMA. É um texto
necessário ao estudante do ensino médio, aos curiosos, às curiosas, a quem se
dedica a conhecer a sociedade brasileira, mesmo tendo sido o Rio Grande do Sul, usado como palco por um dos mestres
dos pampas gaúchos, o grande Érico Veríssimo.
O
curso no ensino médio, tendo por base o livro INCIDENTE EM ANTARES, como pude
relatar nesse pequeno texto, traz elementos da arte literária, história,
política, geografia, religião, biologia, química, tendo a língua portuguesa
como idioma em que foi escrito, entre outras disciplinas que os profissionais
da educação possam enxergar. De posse do livro, a leitura cotidiana e
extra-classe será o objeto principal de
estudo e o total de horas destinado ao curso, deve ser definido ainda na
preparação do ano letivo e, em conjunto com outros temas de cursos, o horário da
turma/classe será preenchido observando-se as determinações, critérios, princípios,
carga horária e outros que a legislação estabelece.
II - Outros
temas para cursos já foram expostos onde trabalho como, por exemplo, O
FUNCIONAMENTO DA CASA DE FARINHA, O BIOMA CAATINGA, AS FESTAS POPULARES, entre
outros, cujo desenvolvimento contempla os conhecimentos estabelecidos por lei.
Como
afirmei anteriormente nesse texto, uma proposta de ensino por temas foi
sugerida em nossa preparação do ano letivo o qual passo a delinear a seguir em
duas possibilidades:
A
primeira é a de inclusão paulatinamente e consecutiva, isto é,
neste ano de 2015 os novos estudantes teriam à sua disposição os cursos
temáticos para sua livre matrícula. Porém, em caso de excesso de solicitações
para determinado curso, o professor/a professora responsável fará uma seleção
e, assim, teria o seu quantitativo máximo de estudantes matriculados. Em 2016 e
2017, teremos, assim as turmas de 1ª e de 2ª série em novo formato. Observando
o detalhe que os jovens não estariam vinculados à sua classe de origem, pois
eles estarão livres para matricularem-se em cursos diferentes, assim um rapaz
de 17 anos, em 2017, poderá fazer um curso, por exemplo, Na Trilha d’Os
sertões, com um alguém que esteja recém-saindo do Ensino Fundamental, com 15
anos de idade.
Para
formar a quantidade de horas letivas, os estudantes serão matriculados em
outros cujas vagas existem a fim de garantir a carga-horária mínima tanto do
ano letivo, quanto do nível de ensino.
Entendo
que desse modo o estudante terá mais prazer em estudar, pois não teria o desconforto de ler um romance,
calcular o valor de seno, tangente, as guerras púnicas, etc, etc, etc, isto é,
temas inerentes às disciplinas que compõem o quadro curricular do ensino médio.
A
segunda possibilidade é a da oferta concomitante, isto é, os estudantes
fariam a sua opção no 1º ano de ingresso no ensino médio: ingressar nos cursos
temáticos ou na 1ª série por disciplinas. Não uso propositalmente para esta
segunda opção o termo “regular” por entender que sendo aceito o ensino do
currículo por temas, este também passa a ser regular. Um detalhe importante:
não pode haver mudança de matrícula em meio ao percurso, uma vez matriculado em
uma das opções, deverá o estudante ir até o final dela, pois a diferença de
nomenclatura e a quantidade entre si, será muito grande.
Por
fim descrevo em linhas gerais o que denominei de CINEMA NA ESCOLA. Trata-se de
uma semana de aula que consiste em exibir o mesmo filme em todas as salas de
aula, ao mesmo tempo. São 05(cinco) filmes para a semana, denominada de SEMANA
TEMÁTICA, um filme para cada dia. As primeiras sequências foram escolhidas
pelos professores, ainda no ano de 2009, as demais foram indicadas pelos
estudantes, sempre abordando o mesmo tema e tendo o cinema nacional como lugar
de destaque, isto é, a maioria deles é de filmes brasileiros.
Como
um dia de aula qualquer, o sinal é acionado e todos os estudantes se dirigem
para as suas salas. Há um pequeno intervalo durante a exibição e ao final dele,
a merenda é fornecida. Após a degustação, todos e todas voltam para a classe e
o debate sobre o filme é iniciado. A critério do professor/da professora,
alguma atividade é solicitada após o debate ou até mesmo, alguma pergunta,
sobre qualquer um dos filmes é solicitada em prova escrita, independentemente
da disciplina.
Após
esse itinerário espero ter contribuído para a reflexão e o debate deste nível
de ensino há tempos carente de profundas mudanças, em particular, no
atendimento aos seus principais atores, os estudantes, no que diz respeito ao
ouvir o que eles e elas querem vivenciar, ouvir, falar, conflitar, produzir,
socializar, aprender...
Em dia de chuva com muito
calor abafado, nuvens carregadas e a perspectiva de muita chuva para o sertão
mocoense (ou seria montealvernense?)
Fátima, 24 de fevereiro de 2015.
Esta é
a capa do exemplar utilizado pelo autor do texto.
Nesta foto vê-se a edição do livro utilizado, bem como sua
edição e editora e, principalmente, sua autoria.
Nesta
foto temos o capítulo onde é iniciada a “saga” da revolta dos mortos
antarenses.
Esta
foto mostra a continuação do capítulo indicado na página anterior.
Esse trabalho fora anteriormente publicado no blogdolandis, de responsabilidade do professor Landisvalth Lima,da cidade de Heliópolis - Bahia.
Mais uma vez retorno com minhas postagens, tanto para dar vida a esse veículo, quanto para socializar minhas produções nesse tempo de produção em série que a Universidade Brasileira vem se comportando (vale e sabe quem produz e publica em revista acadêmica e tem seu currículo lattes acumulado de produções , isto mesmo,é acumulação). Como sou avesso a esse tipo de comportamento, resolvi alimentar meu blog, que é nosso, com minhas produções, mesmo tendo a intenção de retornar à academia e fazer meu Doutoramento.
Abaixo dois pequenos trabalhos que fiz durante esta minha segunda graduação, em Letras Vernáculas, pela Universidade Federal de Sergipe, na modalidade à distância. uma dívida pessoal recentemente paga (fui diplomado no mês de junho deste ano). Isso mesmo, apesar de já ter consolidado minha carreira profissional como professor de Língua Portuguesa, eu não era diplomado.
Em outro momento postarei outros textos frutos dos trabalhos
Conceito de Literatura. Literatura de viagem. Brasil
colônia
O ser humano sempre desenvolveu o fascínio pelo
desconhecido e a literatura foi um dos meios pelos quais essa curiosidade
ganhou corpo, forma, cor, cheiro, vida. Estou me referindo ao que se convencionou
denominar por Literatura de viagem, esses escritos que desde a Antiguidade
Clássica vêm divertindo, surpreendendo, emocionando, informando a todos e todas
que mantém contanto com
esse “tipo” de produção escrita.
Dialogando com Cesar Palma Santos em tese sobre esse
“gênero”, em um pequeno trecho do seu trabalho constatamos que a Literatura de
viagem é um campo recente de estudos, mas sua produção é vasta ,mas podem ser
consideradas como suas algumas das seguintes características: são narrativas reais
sobre o encontro com o “outro”, cujo ambiente e cultura são diferentes daqueles
de quem narra, narradas em primeira pessoa, entre outras.
No Brasil, temos alguns exemplos de narrativas de
viagem, elencadas como, dentre outras denominações, Literatura de viagem, A
Carta de Achamento do Brasil, a primeira do gênero, que relata e descreve os
primeiros instantes do encontro entre os futuros, colonizador e colonizado,
escrita por Pero Vaz de Caminha.
A personagem Macabea é apresentada
como uma pessoa frágil, desprovida de desejos e de anseios. Entretanto o
desenrolar dos fatos vão despertando e revelando anseios, curiosidades e o novo
se descortinam diante de seus olhos. É uma mulher contida, mas em contínuo
desabrochar (sem perder o que chamamos de ingenuidade, como são reveladas
atitudes tomadas a partir de “sugestões de outros personagens próximos”). São
essas características vistas em Macabea as quais se traduzem em “comportamentos
reais”, seja no trabalho, e suas atitudes de subserviência, seja na vida
familiar, que ganha existência na pensão onde mora e, principalmente, na
relacionamento amoroso e muito conturbado com Olímpico. Macabea é órfã e
sente-se sozinha, incapaz, mas admira as pessoas livres. E é essa admiração que
a impulsiona, põe-na adiante, mesmo com o fim trágico ao qual fora destinado.
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