segunda-feira, 25 de setembro de 2023









 Resenha

Sertões Contemporâneos, Rupturas e Continuidades no Semiárido, da professora Gislene Moreira, jornalista de formação e com uma caminhada bastante sólida no campo da Comunicação Social e comprovadas com informações de pesquisas feitas e apresentadas aqui neste livro, publicado pela Edufba e Eduneb, no ano de 2018, ambas, editoras universitárias da UFBA e da UNEB, respectivamente.  

O livro é um trabalho feito após o seu doutoramento pela FLACSO, a Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, México. Nele faz uma análise desde a cultura no nordeste brasileiro, especificamente a partir da etimologia, não no sentido puramente linguístico, mas cultural e político das palavras Sertão, semiárido e do processo de mutação política que esses dois termos foram utilizados, durante a ocupação do território brasileiro aos dias atuais que o livro é fruto já no século 21. Não apresenta data de elaboração, somente de publicação que é de 2018. Mas, provavelmente pelas informações colocadas em todo o texto, nós vamos tendo informações aqui e ali de que ele foi feito já nesta segunda década do século XXI.

O índice traz quatro capítulos com títulos bastante sugestivos, principalmente para um leitor pesquisador professor nascido e residente também neste mesmo lugar em que a pesquisadora faz suas exposições e análises, a saber, o sertão culturalmente falando e politicamente também e o semiárido geograficamente falando

Partindo da tese de que a expansão da pecuária foi o mote para a dominação dos Sertões do Brasil aqui entendido como o interior deslocando-se do litoral, quer dizer saindo do litoral em busca do que se diz em outras plagas, do paraíso perdido do El dorado, Gislene Moreira traz a tese de que o boi é que movimentava a economia naqueles tempos. Por exemplo o capítulo 1 intitulado A Farra do boi: identidade e tradição dos velhos Sertões, o 2, A Morte do boi: modernidade e transições do Sertão semiárido. O capítulo 3 A Partilha do boi: inovações da era Lula no semiárido; por fim o capítulo 4, O Boi neon e o boi roubado: identidades e produção cultural dos Sertões do século XXI.

A tese central do livro de Gislene como o próprio título sugere é de transformação aqui eu vou utilizar, o termo Sertão como aquele lugar distante do litoral que está presente em toda região Nordeste e parte da Sudeste, com o Norte de Minas Gerai incluído enfim, aquela região que ficou conhecida nacional e internacionalmente como um lugar que não chove, que não há abundância e etc etc. Esta afirmativa que faz vai exatamente na linha do que Gislene disserta, que o sertão é aquele lugar que, desde a nossa colonização aos dias atuais, sofreu processos de mudanças drásticas e até mesmo radicais, para usar linguagens muito corriqueiras cotidianas.

Apresentei esse livro, de modo bastante rápido, no meu minicurso que ministrei recentemente em evento de Ciências da Linguagem, pela Universidade Federal da Bahia, o Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. Na oportunidade, a partir da ótica de Euclides sobre o sertão, afirmei que o próprio autor mudou de ponto de vista político convergindo com a tese de Gislene, mais de 100 anos depois, de que o sertão nordestino é mutante.

Entretanto a nossa interlocutora não entende, através de suas teses, que essa mutação seja “natural”, muito pelo contrário, é política, é racionalizada, pensada. A autora faz uso de alguns teóricos e conceitos dos quais cito Barbero e a tese da hibridização cultural.

É um livro necessário não somente para quem quer pensar o Nordeste brasileiro, mas a própria condução política desse lugar que ainda viceja por ser Nação. E mesmo usando de teorias, a leitura é acessível, prazerosa e, o que é mais importante, esclarecedora, sem radicalismos, mas com objetividade e firmeza.

Mais uma vez afirmo, é uma leitura necessária.

PS. Perdoem a falta de organização das faltas.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

IX ECLAE – ENCONTRO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM APLICADAS AO ENSINO

TEMA – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM LÍNGUAS E LITERATURAS

MINICURSO – Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

MINISTRANTE – PROF. MARCOS JOSÉ DE SOUZA, COLÉGIO ESTUDUAL PAULO FREIRE, FÁTIMA-BAHIA

SALVADOR, BAHIA, 12 DE SETEMBRO DE 2023

 

 

Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

Marcos José de Souza

 

 

Leitura de trechos do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha com abordagens dos temas relacionados ao fato histórico ocorrido que o livro revela.

Observaremos os aspectos históricos que circundam a obra – contexto político e social brasileiro no final do século XIX, bem como a formação política e acadêmica de Euclides da Cunha, o autor; a poética de elaboração: a) a convocação para cobrir a guerra; b) as entrevistas e pesquisas realizadas, no campo de batalha e, principalmente c) a estrutura – divisão em partes e a ordem delas e d) a linguagem literária em um obra não literária, no sentido estrito do termo, em face das construções  frasais, do uso recorrente de metáforas e, por isso, a linguagem poética em vários momento de Os Sertões. Uso de trechos de filmes que abordam a temática.

 

Programação:

1ª hora e meia – 1º dia

·          Apresentação do tema do minicurso e do ministrante ; em seguida, leitura de um dia do seu diário, o Diário de uma expedição – 15 minutos;

·         Biografia de Euclides da Cunha e o Brasil no final do século XIX – 15 minutos; distribuir um texto de um dos trechos que destaquei no livro, denominado como arquivo “primeira página”;

·         A poética de elaboração do livro e exposição da sua estrutura– 15minutos;

·         Início da leitura de trechos do livro e exposição de trecho do filme Guerra de Canudos 05 minutos- 45 minutos (incluindo o filme);

·         Organizar uma atividade prática – com um dos textos distribuídos, pedir que leiam e acompanhe a nossa leitura; solicitar que façam um poema, ou tentem fazer, de algum dos trechos distribuídos. Atividade extra em função do aumento tempo de exposição

 

2ª hora e meia – 2º dia

·         Exposição de trecho do filme Paixão e Guerra no sertão de Canudos, de Antônio Olavo – 05 minutos

·         Continuação da leitura de trechos do livro – 40 minutos

·         Exposição do filme Na Terra do Sol, de Lula Oliveira – 15 minutos

·         Conclusão da leitura de trechos do livro – 30 minutos

·         Leitura compartilhada com a entonação necessária a um livro literário. Atividade extra em função do aumento tempo de exposição.

Observação – a minutagem pode sofrer alteração em face das possíveis intervenções dos cursistas.

 

RESUMO ENVIADO AO ECLAE

Leitura de trechos do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha com abordagens dos temas relacionados ao fato histórico ocorrido que o livro revela, a saber, a Guerra de Canudos; outra FONTE será usada, o filme, trechos de 03(três) deles, que abordam de modos diferentes o mesmo episódio tratado no livro.

 

DETALHES DO ROTEIRO

 

1.       Justificar a leitura de trecho do Diario de uma expedição em face de ser uma fonte para Os Sertões – destacar as figuras de estilo já usadas no diário e que serão ampliadas no livro; fazer um mapa da região – contemporâneo à guerra e atual com as nossas cidades citadas no livro e do entorno; elaborar uma página com capas do livro;

2.       Ao iniciar a exposição de detalhes do livro lembrar de que as partes são distintas, mas o conjunto delas está nas três, isto é, mesmo na parte destinada à Terra, informes das pessoas e do conflito já aparecem, destacar “Higrômetros singulares”

2.1. As metáforas; as sequencias verbais; os momentos poéticos.

2.2. Expor três páginas, as iniciais de cada parte, somente para leitura, para que as/os cursistas sintam a construção do texto, em si, sem a nossa intervenção.

 

 

 Em “O que ocorrer”.

1.       Qual o lugar de Os Sertões nesse GT? Por ser cânone nos livros didáticos, mesmo que sem o devido olhar, a leitura deve ser feita por pequenas partes, em face do seu volume;  e o lugar histórico literário é o de Modernista – rechaçamos a tese do Pré-Modernismo.

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

IX ECLAE – ENCONTRO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM APLICADAS AO ENSINO

TEMA – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM LÍNGUAS E LITERATURAS

MINICURSO – Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

MINISTRANTE – PROF. MARCOS JOSÉ DE SOUZA, COLÉGIO ESTUDUAL PAULO FREIRE, FÁTIMA-BAHIA

SALVADOR, BAHIA, 13 DE SETEMBRO DE 2023

 

SEGUNDO DIA

                1º momento

                Assistir à abertura de Guerra de Canudos, de Sergio Rezende; 8 min

 

distribuir um texto de um dos trechos que destaquei no livro, denominado como arquivo “primeira página”; 2 min.

 

reflexão sobre os textos: trecho do filme e primeira página do livro; 15 min.

 

outras leituras do livro, do episódio e alguns estudos sobre a obra Os Sertões. 10 min.

 

                2º momento

 

                Continuação da leitura de trechos do livro, O HOMEM e A LUTA 40 min

 

                3º momento

 

Exposição do filme Na Terra do Sol, de Lula Oliveira – 15 min

Conclusão da leitura de trechos do livro – ? minutos

Debate, Reflexões sobre o minicurso e solicitação de avaliação a ser enviada para o e-mail do professor: professormarcos1968@hotmail.com ? minutos


ALGUNS TRECHOS DESTACADOS NO MINICURSO


A TERRA

Nota I, p. 28 um detalhe sobre a paisagem: o lugar dos verbos, adjetivos e advérbios na construção textual

 

 "Para o norte, porém, inclinam-se mais fortemente as camadas. Sucedem-se cômoros, despidos, de pendores rés resvalantes, descaindo em quebradas onde enxurram torrentes periódicas, solapando-os; e pelos seus topos divisam-se, alinhadas em fileiras, destacadas em lâminas, as mesmas infiltrações quartzosas, expostas pela decomposição dos xistos em que se embebem "


O HOMEM


Nota VII páginas 115 e 116, o estouro da boiada nos verbos e em poesia

 

"De súbito, porém, ondula um frêmito sulcando, num estremeção repentino, aqueles centenários de dorsos luzidios. Há uma parada instantânea. Entrebatem-se, enredam-se, traçam-se e alteiam-se fisgando vivamente o espaço, e inclinam-se, e embaralham-se milhares de chifres. Vibra uma trepidação no solo; e a boiada estoura... (em itálico no original)

A boiada arranca."

 

O estouro da boiada

 

"De súbito, porém,

ondula um frêmito

 

sulcando,

num estremeção repentino,

aqueles centenários de dorsos luzidios.

 

Há uma parada instantânea.

Entrebatem-se,

enredam-se,

traçam-se

e alteiam-se fisgando vivamente o espaço,

 

e inclinam-se,

e embaralham-se milhares de chifres.

 

Vibra uma trepidação no solo;

e a boiada estoura...

 

A boiada arranca."

 

          A LUTA


Nota XLIII, p. 492: Mais um quadro dantesco, muito conhecido em livros, revistas que tratam do assunto, a Guerra de Canudos. Neste momento temos os rostos e corpos dos “sobreviventes” que ponho aspas tendo em vista que se tratava de mortos vivos. O qual também transformamos em poema.

Copiar a imagem para exibi-la.

 

“Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: mulheres, sem número de mulheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos aos peitos murchos, filhos afastados pelos braços, passando; crianças, sem número de crianças; velhos, sem número de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmídas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.”

 

Beatinho e os sobreviventes

Nem um rosto viril,

nem um braço capaz de suspender uma arma,

nem um peito resfolegante de campeador domado:

mulheres,

sem número de mulheres,

velhas espectrais,

moças envelhecidas,

velhas e moças indistintas na mesma fealdade,

escaveiradas e sujas,

 

filhos escanchados nos quadris desnalgados,

filhos encarapitados às costas,

filhos suspensos aos peitos murchos,

filhos afastados pelos braços, passando;

 

crianças,

sem número de crianças;

 

velhos,

sem número de velhos;

 

raros homens,

enfermos opilados,

faces túmídas e mortas, de cera,

bustos dobrados,

 

andar cambaleante.”

 

Ps. O título é nosso



Publicação não revisada pelo autor.