quarta-feira, 21 de junho de 2023

 MOMENTOS DECISIVOS DO CONFLITO NO FILME GUERRA DE CANUDOS, DE SÉRGIO REZENDE

INTRODUÇÃO

 

A História é a forma científica da memória coletiva, como nos ensina Le Goff em Documento/Monumento cujas possibilidades de registros apresentam-se nos formatos de documentos e de monumentos. Entretanto esses dois “modos” não possuem características definidas, isto é, o que se convencionou chamar  de documento, por exemplo, há décadas que essa hegemonia do oficial, do que está escrito e disseminado pelo poder público, isto é, escrito e posteriormente considerado autoridade, foi dando espaço a outros formatos, outras linguagens, dentre elas a Imprensa, a Literatura, o Cinema, como também nos orienta o teórico francês citado acima.

A primeira dessas linguagens, a imprensa, indicada acima tem uma aproximação maior que as demais em relação ao documento oficial, uma vez que não se trata de uma manifestação artística como as demais, entretanto é passível de um “atestado” de credibilidade pelo poder público mesmo quando o seu produto, a notícia, não for elaborada e veiculada pelos órgãos oficiais, isto é, os órgãos do poder.

A despeito disso, tanto a Literatura, quanto o Cinema, vêm, ao longo do século XX consolidando suas potencialidades como detentoras de conhecimento histórico, seja revisitando e revisando um tema, contestando-o ou até mesmo dando-lhe visibilidade (ROSENSTONE, 2010). E para essas duas grandes áreas da produção do conhecimento artístico e com conteúdo histórico, podemos citar dois grandes exemplos, separados por um século de vida, quais sejam, o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicado em 1902, mas cujo assunto foi a guerra de Canudos, encerrada em 1897. Em 1997 é lançado o filme Guerra de Canudos, de Sergio Rezende, que, baseado em O Rei dos Jagunços, de Manuel Benício e também em Os Sertões, traz à tela, literalmente falando, o episódio do conflito bélico que ocorreu no sertão da Bahia, no final do século XIX.

É a partir desse preâmbulo que nossos olhos se direcionarão na tentativa de entender e explicar o modo como Sergio Rezende construiu seu filme e sua narrativa ao dar visibilidade a um tema caro ao povo brasileiro, a ação de Antônio Conselheiro, do povo de Belo Monte e da ofensiva do Exército Brasileiro contra sobre os integrantes da comunidade sócio religiosa e o líder Conselheiro cujos desdobramentos poderão ser identificados e analisados sob a ótica proposta pelo presente estudo

Ao buscar bases cientificas para a produção deste conhecimento, foi nos apresentado um modo relativizador através da leitura de (NÓVOA. 2008), mas não menos sério, de abordar essa relação profícua, mas ainda não digerida por parte da Historiografia, que é o binômio Cinema – História, o qual apresenta as dimensões Educativa, Transdisciplinar, Estética, Dialética, Didático-Pedagógica. Evidentemente que cada uma delas, Cinema e História, possuem suas especificidades metodológicas, pois enquanto esta é uma ciência, a outra é uma manifestação artística. Mas algumas obras de arte, transcendem todas as possíveis dimensões às quais estão sujeitas (ou forjam essas dimensões) alcançando a dimensão clássica (?)(...) transcendentes às suas historicidades. (NÓVOA. 2008)

E é na esteira da transcendência que um filme histórico, como nos ensina Barros, 2014, pode causar mais impacto que um livro de História ou de Ciências Sociais, quando ambos tratam o mesmo tema, pois o filme “revive” o dado momento, o que provoca no espectador a sensação de estar vivendo o momento, mesmo que se saiba que ali é uma representação. Desse modo pode-se considerar que um filme pode ser um agente histórico, quando interfere no cotidiano de uma dada comunidade, ou até mesmo sociedade. Podem ainda servir de fonte histórica, quando o seu conteúdo já passa de produto de pesquisa, para produto de pesquisador, seja para referendar, contestar, ou anular (será isso possível, anular uma fonte histórica? Deixemos essa pergunta sem resposta, por enquanto).

O cinema em sua dimensão transdisciplinar exige do cineasta que se debruce sobre outras linguagens e outras ciências quando abordagem histórica assim o exigir, mas este debruçar-se não faz dele um historiador, ou linguista, caso seu filme seja uma viagem arqueológica sobre escritos antigos.

A dimensão pedagógica da relação Cinema-História é tão inquietante e incisiva que temos a sensação de participação direta de nós espectadores, ao assistirmos algo, apesar da certeza de que tudo não passa de “ilusão momentaneamente real”, afinal ninguém sai o mesmo depois de uma boa sessão de cinema.

É a partir desses pressupostos até aqui delineados sucintamente, que o professor e pesquisador Jorge Nóvoa nos incita a pensar a pesquisa a partir do Cinema, em diálogo com os mais diversos saberes, aqui a História, sob o binômio da razão-poética, pois é “[D]a capacidade do cinema de capturar a objetividade do real, assim como a dor, o prazer e o desejo, constitui um aspecto da relação cinema-história tão rico quanto inexplorado e de circunstâncias transcendentes”(idem). Teremos assim um novo paradigma que pensa o conhecimento a partir das relações sensoriais em constante diálogo com a razão, denominada por Nóvoa, de razão pura. Portanto em diálogo aberto e sem hierarquizações teríamos a razão poética.

domingo, 11 de junho de 2023

 

Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros, de Frederico Pernambucano de Mello, Escrituras Editora, São Paulo, 2012.

Marcos José de Souza

 

                 

 

Blog do Mendes & Mendes: Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros

 

Ao adentrar o campus da nossa Universidade Federal de Sergipe, mais precisamente no Departamento de Educação Física, fui recebido pelos parceiros do Grupo de Pesquisa Cinema e História, Janisson, Hamílcar – nosso coordenador – e Marcelo; Onesino Neto chegou logo depois. De Marcelo, recebi o livro Benjamin Abrahão: Entre anjos e cangaceiros de Frederico Pernambucano de Mello, uma agradável surpresa, principalmente porque ele disse que não era somente eu quem presenteava com livros – o parceiro fez alusão a um livro dado por mim aos integrantes do grupo.

E cá estou para registrar minha leitura, feita com a tranquilidade que um professor quase aposentado se permite – leitura pausada, sem pressa.

Além da própria vida no Juazeiro do Norte, do imigrante sírio-libanês, como o título sugere, há um quadro da correlação de forças no Nordeste Brasileiro, quando ainda tínhamos a região Leste (mas essa informação é somente um detalhe), destacando-se nessa correspondência a figura do Padre Cícero Romão Batista. Entretanto, o rápido olhar dessa produção textual vai se concentrar somente nas aparições, pelo qual o Estado de Sergipe é mencionado na obra já anunciada e identificada no presente texto.

A seguir, as declarações reproduzidas listam as aparições nos excertos somente para título de registro textual – a obra não está copiada plenamente a fim de permitir que, a quem for ler o livro, sinta o deleite da novidade com o que não será transcrito; a cada menção é realizado um breve comentário sobre esses trechos – doravante o nome Benjamin Abrahão será grafado com as iniciais BA:

No verão de 1936, está em Aracaju para esse fim, anotando na caderneta que tomara o trem na estação do Visgueiro, município de Muribeca, depois de ficar " de 14 a 18 de outubro em Propriá ", de jantar na "Vila do Cedro a 19 no sítio do senhor José Vieira, ", quando finalmente apanha o trem para a capital. (p. 135).

No dia seguinte, dá uma olhada no mar - alegria do matuto em que se convertera - e, no combinado da véspera, é recebido na redação do ‘Correio de Aracaju’, jornal de renome na terra. Do resultado da conferência de imprensa, a folha se ocupa em boa parte da terceira página, edição de 21 de outubro (p. 135-136)  

Esses dois primeiros pontos em evidência registram a passagem de BA pelo Estado Sergipe.

“Comensal de um governador de Estado, ao menos o de Sergipe, depois interventor federal [...]” (p.141).

O autor se refere à relação protetiva entre as autoridades legal e a clandestina; este vínculo não aparece na citação, mas trata-se de Lampião e seus companheiros e companheiras. Vejam que o adjetivo usado é “comensal”, mas funcionando como substantivo, é um termo elegante, diria até literato, para designar a relação parasitária entre os dois homens de poder no cenário sergipano, um legalizado, constituído por força de lei do Estado, o outro, o poder da força física e da capacidade de alheamento de liderados. O primeiro, na cidade, o segundo, no campo.

“Outra anotação nos fala de um Virgulino que já conhecia o cinema. Que já se deliciara até mesmo com a fruição de um longa-metragem completo. Na cidade de capela, Sergipe, em 1929” (p. 163).

Nesse trecho temos um registro de anotação de BA dando conta de mais um bom momento de Lampião em terras sergipanas, na oportunidade, em momento de lazer com a sétima arte. Outro detalhe importante é a presença do cinema no interior do Estado. Pergunta-se: esta sala ainda está funcionando?

O engenheiro Silva Lima, chefe da comissão baiana de Inspetoria Federal de Obras contra as Secas declarava ao jornal A tarde de Salvador, no final de 1937: "Quem nunca viajou pelo nordeste da Bahia e oeste de Sergipe não faz ideia do pavor que reina naquelas bandas, produzido pelas antigas incursões de bandidos nas várias localidades e pelo perigo que as populações consideram sempre iminente de novas entradas” (p. 174).

“1930 - Ferimento a bala no quadril, leve, no município de pinhão Sergipe, tratamento também caseiro’” (p. 191).

“Vêm a seguir as cidades que o bandoleiro conhecera por bem ou por mal, conservadas a ordem do ditado e a nomenclatura de época[...] Sergipe - Capela, Aquidabã, dores saco do Ribeiro, boca da mata” (p. 191).

“[...] assinale-se a perspicácia de omitir cidades que frequentava disfarçado, sobre a proteção do chefe local [...]. Ou Propriá, Sergipe. Ou mesmo Aracaju, pelas mãos do coronel Hercílio de Brito” (p. 191).

Nesses trechos temos a indicação da passagem de Lampião e seu séquito, de modo livre e às vezes com a anuência da autoridade local, ou como prisioneiro, neste caso algum membro.

O segundo: "Queimada do milho, município de São Paulo Sergipe, nove índios molestaram até a morte o menino de 17 anos chamado Aymuth". São Paulo hoje é Frei Paulo. O nome da vítima sugere que seria índio também. Fica a angústia de Benjamin diante dos acontecimentos. E a comprovação do quanto se espalhou nas andanças do período, pois que segue daí para Carira no mesmo Estado, onde dorme "em casa de Miguel José dos Anjos, a 28 de outubro de 1936”, entrando na Bahia no dia seguinte. Um viageiro insaciável. (p. 199).

No excerto supramencionado o autor traz anotações de BA quando passou pelos municípios citados ao se deparar com atos que lhe chamaram a atenção. Depreende-se também do acolhimento que o estrangeiro dispunha por onde passava – mas nem sempre foi assim.

Amizades feitas de Fortaleza aos Sertões de Sergipe E da Bahia, os convites de trabalho começam a chegar à base montada no Pau Ferro. Onde dois olhos negros, redondos e doces tinham se aliado, nos últimos dias, às razões negociais de permanência do nosso homem de cinema na vilazinha progressista (p. 244).

Esse trecho da página 244 ilustra outra vertente do secretário do Padre Cícero, o BA, a vaquejada.

Não é tudo, no plano da política tributária do capitão Virgulino, efervescência de aprimoramento no período. Há dois casos documentados, ao menos, de compra e venda de propriedades rurais taxadas por um arremedo de imposto de transmissão. Um em Sergipe, figurando como "contribuinte" certo senhor Ávio Brito [...] (p. 252).

Outro registro do livre trânsito de Lampião em terras sergipanas onde aparece como proprietário de imóvel.

O analista de hoje, com a segurança do acesso a depoimentos dados por ex-cangaceiros depois de extinto o cangaço, nota ser irretocável a geografia do bando traçado por Mariano para o meado dos anos 30, na longa entrevista concedida ao jornal recifense. Ouçamos suas palavras: “Lampião, nesses últimos tempos, tem-se embrenhado nas caatingas do Estado de Sergipe e se demora principalmente nos municípios de Porto da Folha, Simão Dias, Aquidabã, Gararu e Frei Paulo, sendo neste último que o bandido-chefe fez, com uma certa segurança, o seu quartel-general. De quando em vez, Lampião, à frene de uma parte de seu grupo, invade a Bahia, entrando ali nos municípios de Jeremoabo, Cícero Dantas e Paripiranga, que separam os Estados da Bahia e Sergipe (p. 254).

[...] Enquanto isso se dá, “os grupos de Corisco, Luís Pedro, Ângelo Roque, Moreno, José Sereno, Moita Braba, Chumbinho, Pedra Rocha e outros, matam, roubam, promovem incêndios, praticando, enfim, toda sorte de misérias.” Para fechar o roteiro, antes do regresso à amenidade das estações d’água em Sergipe [...] (p. 254-255).

Esta citação, também citada pelo autor, são palavras do tenente Luís Mariano da Cruz, da polícia de Pernambuco. O que chama a atenção é o distanciamento geográfico das cidades sergipanas para o percurso feito na Bahia e, neste interim, destaca-se Simão Dias, Sergipe, como passagem de Lampião, também fora da rota das demais cidades sergipanas.

Eis aí o GPS dos caminhos recorrentes de Lampião por toda a segunda metade dos anos 30 - no que seria a visão cibernética de um jovem de hoje - revelado por quem sabia do que falava, com responsabilidade e fé de ofício para fazê-lo. Vida mansa que poderia ter escorrido por mais vinte ou trinta anos balizada por Águas belas ao norte, e frei Paulo, ao sul Pernambuco e Sergipe respectivamente, feudos de coronéis poderosos encravados em ambos os polos- Audálio Tenório, pelo alto, Napoleão Emídio fechando o lado de baixo- não fora o afiamento dos dentes do Estado Novo no início de 1938 levando os coronéis das extremas, e praticamente todos os demais, a revogarem o apoio rentável que liberalizavam em favor do cangaço havia décadas, na preocupação repentina de salvar a própria pele. (p. 255, grifos nossos).

O texto supracitado mantém a constância das informações a respeito do Tenente Mariano sobre as boas relações do Cangaço, sob a corporificação de Lampião, com as forças econômicas, mais precisamente nesse mesmo fragmento, os famosos coronéis do interior do Brasil, cuja hegemonia foi atribuída somente ao Nordeste Brasileiro, o que não é verdade, afinal todas as regiões desse país tiveram seus coronéis – alguns juram que eles existem ainda e eu sou um deles. Os grifos nossos destacam e reforçam o que já havia sido comentado no presente estudo.

Estava aberta a pista pela qual correria contra o tempo, no afã de distribuir o produto pelo comércio fixo e pelas feiras de Pernambuco, Ceará, Alagoas Bahia e Sergipe na melhor configuração. Tinha nas mãos um produto cultural vendável e barato, ante o qual nenhum sertanejo se quedaria diferente (p. 262).

Esse trecho oferece a informação somente da persistência de BA em continuar ativo, dessa feita, vendendo seus produtos oriundos das suas visitas ao acampamento de Lampião.

“Em Alagoas e Sergipe, os governadores Osman Loureiro e Eronildes de Carvalho não somente são mantidos como galgam a blindagem da interventoria federal em suas unidades” (p. 267).

Nesse extrato da página 267, o autor informa os leitores sobre a ação do Estado Novo e como ele se espalha pelas unidades federativas.

Os recortes a seguir estão no final do livro e apresenta o registro do que entendeu Lampião em face das visitas que BA fizera ao acampamento, fazendo fotos e filmes:

Em Sergipe, a postura de Lampião evoluíra nos últimos meses para coincidir com o pensamento do militar e do chefe político quanto ao árabe. Ao cangaceiro Candeeiro, um dos oito homens de sua guarda pessoal, Virgulino viria surpreender em conversa ao revelar que mataria Benjamin se o encontrasse. "Ele foi falso comigo, levando de mim para contar aos oficiais", rosnava baixinho, riscando na areia as iniciais do agora desafeto. Lampião se queixava ainda da massificação das fotografias por todo lugar, "fora do que ficou combinado" (p. 269-270, grifo nosso)

A incursão mais recente do bando de cangaceiros, com Lampião se dera no meado de 1937 ainda uma vez partindo de Sergipe, atravessando Alagoas e chegando a cruzar a fronteira sul do Sertão pernambucano na reprodução do roteiro que apontamos acima. Esse trecho grifado se refere a outro trecho do livro que não reproduzimos aqui [...] (p. 269-270, grifo nosso)

No começo de 1938, logo a 11 de janeiro, O Diário de Notícias, de Salvador, noticiava a morte em Sergipe do chefe supremo do cangaço, vencido pela tuberculose. Balela. Barriga de imprensa. Mais uma nessa linha. Mas que ganhará espaço até mesmo no New York Times de 13: " O fora da lei número um morre em sua cama, no Brasil " [...] (p. 269-270)

Refeito, à frente de 17 cabras e duas mulheres, o chefe de cangaço inicia o roteiro habitual de regresso a Sergipe, que inclui a passagem pelo município de Águas Belas, a imprensa assanhada, registrando cada surgimento ao longo da trajetória o seu tanto previsível. (p. 269-270)

Na conclusão é realizado um comentário generalizante sobre o livro ao tempo em que são apontados outros caminhos pós-leitura para o enfrentamento das ideias e principalmente informações que o livro proporciona. Na verdade, uma ótima e rica leitura que dialoga com outras fontes, além da própria História.

À guisa de resenha, algumas informações básicas serão dadas e o devido atendimento ao que pede um texto do gênero. Eis o que Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros, de Frederico Pernambucano de Mello, apresenta e como isso é desempenhado, publicado pela Escrituras Editora, São Paulo, no ano de 2012.

Com uma linguagem que aproxima o leitor, como, por exemplo, as passagens que claramente dialogam com quem o lê, em outras, usa de palavras de cunho popular. O texto permite o leitor viajar pelos caminhos, estradas, ruas; embrenha-o pela catinga, aproximando-o do perigo das emboscadas, enfim, uma aventura histórica no Nordeste Brasileiro dos anos 30, mas não exclusivamente, do século XX.

Antes de adentrar à estrutura do livro, faço saber que outras leituras são sugeridas como, por exemplo, a relação com o cinema e os filmes Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, pela relação direta do sujeito histórico principal estar nesse filme. Também há uma íntima, mas não direta, relação com Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes, quanto à presença da Bayer e da propaganda dessa empresa alemã nos rincões do Nordeste Brasileiro. Por fim, mas não esgotando as relações, está presente o beato Lourenço que sofreu o ataque do Exército Brasileiro e, tal qual Canudos, há 4 (quatro) décadas atrás no sertão da Bahia, também sofreu por duas vezes a chacina de seus seguidores. A sugestão sobre essa temática é o livro Pedra Bonita (1968), de José Lins do Rego.

A estrutura do livro apresenta-se em duas grandes partes sendo a primeira e maior delas, os capítulos, que somam 12 (doze), enumerados com títulos bastante sugestivos e que apresentam a abrangência que um livro de História, mesmo localizado – a vida de um sujeito histórico, consolidado tradicionalmente ou não, pontual – quando se refere a um determinado tempo histórico, não deixa de identificar o seu momento histórico no universo maior, para a obra, a História do Brasil. Logo, é um livro de História que parte do singular, imerge no plural e ali permanece, emerge ao singular, ladeado com o plural.

A segunda parte da estrutura do livro diz respeito ao rico acervo fotográfico que apresenta, o qual foi editado no final do livro, após o último capítulo. Assim, quem o ler pode apreciar duas leituras em uma só: a primeira sobre os textos propriamente ditos e consolidados, aqueles que aparecem compostos por palavras e a segunda, com as fotos que também “contam” a sua História sem deixar de ser a mesma da primeira parte. As notas ao final de cada capítulo, como um honesto historiador, enriquecem a leitura, tornando-a mais ampla.

O livro ainda conta com Anexo, no qual constam documentos oficiais, sendo um jurídico e outro jornalístico e o terceiro, do padre Cícero Romão Batista, Fontes, divididas em bibliográfica, jornalística, arquivística e de entrevistas e, por fim, um Índice Onomástico.

Portanto, o livro é por si uma fonte histórica que trata sobre sujeitos e seus fatos históricos, uma obra essencial para quem quer conhecer um pouco do Brasil. Sim, um pouco, porque nossa História é vasta e um livro somente não é suficiente para nos conhecermos totalmente. Aliás não há um livro com essa magnitude. O livro sobre a vida de Benjamin Abrahão é uma leitura necessária.

 

Imagens :

À esquerda – Benjamin e Padre Cícero

À direita – Benjamin

Ao centro – Frederico, o autor