domingo, 27 de janeiro de 2019

Aquarius, a vida em sua plenitude



Ao tomar conhecimento do filme Aquarius à época do seu lançamento, fiquei fascinado pelas poucas, mas elementares informações sobre a película, a saber: ser protagonizado por Sonia Braga, nossa musa televisiva e cinematográfica dos anos de 1970-80, ser ambientado em Recife, mais precisamente na praia de Boa Viagem, capital pernambucana, um dos pilares da nacionalidade e o próprio nome que deu o título ao filme, que remete à beleza de um aquário, mas sempre sendo aprisionamento. Todo esse conjunto me instigou a assisti-lo, o que consegui somente ontem, mas vi. Vamos a alguns detalhes que elenquei dentre as inúmeras possibilidades de destaque.
E o primeiro, dos muitos encontros que virão (quando o filme é bom revejo-o algumas vezes), me revelou agradabilíssimas surpresas: Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo;
Trago no olhar imagens distorcidas; Homens de aço          esperam                da          ciência; Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte...  
Eis um pouco da minha deliciosa surpresa, ouvir,  Taiguara, ao tempo vejo as imagens em preto e branco, a posição das sombras dos coqueiros no calçadão da praia e as imagens aéreas.
Vivendo a personagem Clara, Sonia Braga, realiza com maestria a personagem central da trama: uma mulher livre, discreta, firme, destemida, corajosa, tendo superado um câncer de mama e viúva, mas nem por isso deixando de viver a vida intensamente.
Mas a trama não é uma biografia da personagem, apesar de todo o filme ter como epicentro a vida dela, é antes de tudo um conflito entre a força destruidora, avassaladora do capital, com seu personagem real, a especulação imobiliária, que a todo e qualquer custo quer destruir, derrubar, literalmente, o edifício onde a nossa personagem principal reside desde que nasceu e onde continuou vivendo após seu casamento. Em  meio a esse conflito que não é de classe, mas de interesses de pessoas, de gente do mesmo convício social, afinal Clara pertence à classe média alta, somos conduzidos pela memória afetiva e cultural daquele microcosmo social. É nesse instante, quando abordamos as relações sociais de Clara, que nos deparamos com um rico e competente elenco majoritariamente pernambucano nos mostrando um outro Brasil, sem ser piegas ou paroquiano.
Destaco as cenas em que nossa protagonista vê e sente a presença de outros personagens já falecidos e pertencentes à trama: 1. Supostamente o marido, após ela transar com um garoto de programa dentro da própria casa e, 2. a empregada que rouba as joias da casa. Nessa segunda situação lembremos da cena em que uma das amigas de Clara, após esta ter dito do roubo dos pertences, que as patroas sempre exploraram as empregadas, então o roubo praticado é uma forma de compensar esse desvio à legislação trabalhista.
Eis alguns detalhes desse memorável filme e advirto: quem quiser ver algo sobre a cidade do Recife não perca seu tempo, pois ali você verá uma narrativa sobre a gente que sente, que ama, que protege, que lembra e que respeita a vida em sua plenitude. E assim volto aos versos de Taiguara para concluir meu texto
Hoje/ Homens sem medo aportam no futuro/ Eu tenho medo, acordo e te procuro/ Meu quarto escuro é inerte como a morte

Mas Clara reage...............

Marcos José de Souza
Domingo, 27 de janeiro de 2018
Às 10:01h
Fátima, Bahia

O texto acima é uma tarefa da 
1ª Jornada Virtual do Instituto Sophia Scientia.

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