As
coisas e os corpos fora, do lugar(?) Uma leitura de Boi neon, Gabriel Mascaro, a partir da leitura do filme e de uma conferência on line do prof. Fabio Zoboli, da Universidade Federal de Sergipe, dentro da 1ª Jornada de Cinema promovida pelo Instituto Sophia Scientia
O destino a que será que se destina!
Esse
é o fio condutor da narrativa desta película ambientada no agreste
brasileiro, no semiárido, mais precisamente no Estado de Pernambuco.
Trata
da trajetória de 03 Personagens fora do lugar: uma criança que convive
somente com a mãe, que é motorista de caminhão transportando bois; e Iremar,
guardeiro dos bois, mas que se declara vaqueiro, e cujo sonho maior é ganhar a
vida como estilista, portanto vidas em comum na
itinerância. Eis é o quadro que se descortina em meio ao
escândalo do cotidiano da vaquejada, um “esporte” maldito que impera em
quase todos os Estados do Nordeste brasileiro.
Um
dos destaques do filme é a lentidão em alguns momentos cujas cenas
se desenvolvem o que pode provocar o enfado no espectador mais desatento.
Dentre elas destaco a da transa entre Iremar, o vaqueiro, e vendedora de
cosméticos, pelo dia e vigilante de uma fábrica, à noite.
Voltando
ao trio central da narrativa: durante a trajetória daqueles três personagens
destacados no início do texto, elejo a criança, Kaká, que sem
constrangimento vive o mundo adulto da vaquejada, realizando tarefas do
cotidiano e participando inclusive dos conflitos deles, como no episódio
em que Iremar reclama com ela para não ficar no caminhão no momento em que
chega o substituto de Zé, outro guardeiro, que é convocado pelo fazendeiro
a fazer parte de outro grupo também de vaquejada. Nesta sequência temos a
revelação de um suposto relacionamento amoroso entre Iremar e Zé,
"denunciado" pela criança. Nessa mesma sequência também constamos a
força de controle que o fazendeiro tem sobre seus supostos funcionários.
Destaco
ainda a pequena presença de uma trilha sonora, apesar de ouvirmos músicas em
diversos momentos do filme (o que é compensada pela fotografia a qual nos
redime da pequena presença da musicalidade). Parece contraditório, mas explico:
quando me refiro à trilha sonora pequena, faço referência ao substantivo trilha, isto é, um elemento da narrativa que sem
diálogos nos conduz enredo a dentro. Já a música aqui e outra ali, nem sempre
traduzem essa situação, de conduzir na trilha, que é parte do enredo, da
narrativa.
Por fim,
como se selasse o destino de nosso personagem principal, vemos o vaqueiro em
sua lida diária, cuidando do gado na cena final.
É um filme
que tem muito mais a ser dito e que ao ser visto precisa de
uma boa dose de cautela para não ser considerado enfadonho,
cansativo. Sugiro que prestem atenção na letra da canção que acompanha os créditos
da película, que não tem a linguagem rebuscada, mas tem a profundidade que uma
obra de arte deve possuir.
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